O
Autismo Atípico, também denominado como Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento sem outra especificação (TID-SOE) é uma categoria
diagnóstica de exclusão e não possui regras específicas para sua
aplicação. Uma pessoa pode ser classificada como portador de TID-SOE se
preencher critérios no domínio social e mais um dos dois outros domínios
(comunicação e comportamento).
O
DSM-IV reconhece esse tipo de transtorno do desenvolvimento como uma
demonstração de que ainda não contamos com uma definição suficientemente
precisa e rigorosa destes transtornos. Trata-se dos Transtornos
Invasivos do Desenvolvimento “sem outra especificação”. Aqueles em que
falta clareza suficiente para decidir-se por um dos quadros dos
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, ou os sintomas de Autismo se
apresentam de forma incompleta.
A
enumeração descritiva de sintomas dos Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento ainda deixa no ar muitos problemas, por três razões:
a)A
fronteira entre os quadros descritos são frequentemente imprecisas. Há
crianças com quadros típicos de Autismo, Síndrome de Asperger ou
Transtorno Desintegrativo da Infância, mas na realidade muitas são
“atípicas” ou se situam nos limites difusos entre esses transtornos.
b)Muitos desvios e deficiências do desenvolvimento, que não se incluem nos descritos, são acompanhados de sintomas do Autismo.
c)Existe
uma grande heterogeneidade de pessoas com Autismo, pois ele é muito
diferente dependendo de fatores como a idade, o nível intelectual e a
gravidade do caso.
Segundo
o CID 10, é um Transtorno Global do Desenvolvimento, ocorrendo após a
idade de três anos ou que não responde a todos os três grupos de
critérios diagnósticos do autismo infantil. Esta categoria deve ser
utilizada para classificar um desenvolvimento anormal ou alterado,
aparecendo após a idade de três anos, e não apresentando manifestações
patológicas suficientes em um ou dois dos três domínios psicopatológicos
(interações sociais recíprocas, comunicação, comportamentos limitados,
estereotipados ou repetitivos) implicados no autismo infantil; existem
sempre anomalias características em um ou em vários destes domínios. O
autismo atípico ocorre habitualmente em crianças que apresentam um
retardo mental profundo ou um transtorno específico grave do
desenvolvimento de linguagem do tipo receptivo.
Hoje
em dia, diferentes categorizações têm sido propostas para os
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento sem outra especificação,
baseadas no enfoque fenomenológico descritivo, outras baseadas em outras
perspectivas teóricas, tais como a neuropsicologia. As propostas de
categorias baseadas em descrição clínica são:
1.Transtorno de desenvolvimento múltiplo e complexo
Foram
descritos casos de crianças que apresentavam dificuldades sociais
resultantes de um super-envolvimento unilateral. Essas alterações do
desenvolvimento receberam nomes como nos casos de boderline da
infância, psicose simbiótica e crianças esquizotípicas. Essas condições
são caracterizadas por sensibilidade social prejudicada reminiscente dos
transtornos do espectro autismo em combinação com graves problemas na
regulação dos afetos, especialmente ansiedade e raiva e os déficits
cognitivos na regulação da imagem e dos pensamentos. Cohen et al propuseram os transtornos de desenvolvimento multiplex
como uma categoria distinta dentro do DSM-IV, junto com o Transtorno
Autístico e a Síndrome de Asperger. O propósito não teve êxito no
sentido de que o multiplex, mais tarde denominado de Transtorno
de Desenvolvimento Múltiplo e Complexo (TDMC), não atingiu o limiar
para a inclusão no DSM-IV. Entretanto, nos últimos 20 anos, muitos
estudos deram suporte para a validade de face e externa dessa categoria
que é amplamente reconhecida na prática clínica. As distorções
cognitivas nomeadas na definição podem refletir déficits comunicativos
mais do que características psicóticas em crianças jovens. As
características do Transtorno de Desenvolvimento Múltiplo e Complexo
incluem:
a)Sensibilidade
social prejudicada – são pessoas unilaterais e pegajosas nos contatos
com adultos ou crianças, são exclusivistas em seus relacionamentos e
somente o aceitam à sua maneira, possuem dificuldades em sintonizar de
forma empática com as necessidades dos demais.
b)Regulação prejudicada dos afetos – a raiva transforma-se rapidamente em fúria, a ansiedade se transforma facilmente em pânico.
c)Distorções
cognitivas: transtorno do raciocínio – esses indivíduos ficam
facilmente confusos, deixam-se levar pelas suas vívidas fantasias de
grandiosidade, podem confundir fantasia e realidade, tendem a ter uma
lógica idiossincrática.
Muitas
dessas crianças são diagnosticadas erroneamente com Transtorno de
Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) combinado com ansiedade, já
que as mesmas frequentemente apresentam comportamentos hiperativos e,
às vezes, graves características externalizadas e internalizadas.
Uma
abordagem multidisciplicar, sendo de grande importância a psicoeducação
para a pessoa afetada e seus familiares. Os indivíduos respondem
favoravelmente aos programas educativos estruturados utilizados nos
indivíduos com espectro autista. Um ambiente escolar e cuidados de apoio
bem estruturados são importantes. Se essas abordagens educacionais não
conseguem reduzir suficientemente a ansiedade e os acessos de
agressividades, pode-se considerar o uso de algum tratamento
farmacológico em conjunto com a terapia cognitivo-comportamental.
Os
Transtorno de Desenvolvimento Múltiplo e Complexo são altamente
persistentes. Mais de 60% dos indivíduos apresentam um quadro clínico
estável na adolescência, ainda que as alterações bruscas de humor sejam
menos proeminentes e os déficits sociais fiquem mais em primeiro plano.
Na idade adulta, pode ocorrer uma alteração em direção a transtornos do
espectro da psicose e da Esquizofrenia em até 17% dos casos, o que faz
com que a detecção precoce e o tratamento adequado sejam importantes
para prevenir esses episódios por meio do monitoramento cuidadoso do
processo.
2.Transtorno de evitação patológica às demandas
Essa
categoria nosográfica denominada Evitação Patológica à Demanda (EPD),
compreende crianças que foram encaminhadas como Transtorno Autista
Atípico. Essas crianças possuíam capacidades imaginativas e, às vezes,
eram extraordinariamente sociáveis, porém, outras apresentavam
prejuízos, ainda que suas habilidades comunicativas estivessem menos
prejudicadas que na Síndrome de Asperger. Estudos indicaram que a
característica mais proeminente era uma evitação obsessiva das demandas
diárias. Como essas crianças tinham alguns grau de sociabilidade, uma
grande habilidade em manipulação social, o cuidado dos pais tornava-se
extremamente difícil.
Essas
crianças são frequentemente passivas durante o primeiro ano de vida e
por volta dos quatro anos quase todas apresentam evitação de exigência,
assim como habilidades manipulativas. Essas características usualmente
persistem até a idade adulta, ainda que os comportamentos socialmente
manipulativos tendam a se tornar mais leves. A maioria dos afetados não
possuem o sentido do orgulho, vergonha, responsabilidade ou identidade
e, frequentemente, agridem os demais. Quase todas as crianças apresentam
atraso na fala e continuam a apresentar anormalidades durante a vida,
sendo o conteúdo da fala superficial ou bizarro. A labilidade do humor é
freqüente, assim como o comportamento impulsivo.
Não
existem, hoje, hipóteses vindas da neuroimagem, genética ou
neurobiologia para Evitação Patológica à Demanda. As crianças com esses
transtornos não respondem bem às intervenções propostas para os
Transtornos Autísticos.
3.Transtornos de prejuízo multidimensional (TPM)
Esse
grupo é considerado como mais próximo dos transtornos psicóticos, essas
crianças apresentam dificuldades em diferenciar a realidade da
fantasia. Incluem distúrbios de percepção, labilidade emocional,
inabilidade em relacionamentos sociais, déficits no processamento de
informações, sem distúrbios de pensamento formal. Seus prejuízos sociais
são mais leves do que nos Transtornos Autísticos e o comportamento não é
tão rígido e estereotipado. Os Transtornos de prejuízo
multidimensional, como um todo, poderia ser considerado uma variante de
Esquizofrenia com início muito precoce e não de Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento.
4.Transtorno esquizóide infantil
Antes
da introdução da Síndrome de Asperger na literatura clínica em inglês
por Lorna Wing, vários estudos que descreviam essas características
foram conduzidos sob o nome de estudos sobre crianças esquizóides. Elas
eram descritas como solitárias, fantasiosas, apresentando interesses
especiais e atrasos de desenvolvimento específicos, especialmente das
habilidades relacionadas à linguagem. Não foi observado prejuízo
cognitivo e as comorbidades costumavam ser freqüentes. Esses casos foram
progressivamente considerados como tendo a Síndrome de Asperger, talvez
um subgrupo com alguns desfechos comuns, como uma maior incidência de
conduta anti-social e menores desvantagens sociais. Por outro lado,
dados recentes com adultos sugerem que é possível diferenciar o
Transtorno de Personalidade Esquizóide da Síndrome de Asperger. Hoje em
dia, a marca distintiva do Transtorno de Personalidade Esquizóide é o
desinteresse pela interação social e os critérios operacionalizados
exigem a presença de quatro entre sete sintomas listados. Ainda que os
estudos com adultos com Transtorno de Personalidade Esquizóide tenham
sugerido um inicio do quadro já na infância, há falta de elementos
dirigidos a esse quesito, provavelmente devido aos manuais de
classificação de doenças que “desencorajam” o diagnóstico de personalidade em crianças.
5.Transtornos de vinculação
Essa
categoria está no ponto de confluência entre duas abordagens distintas,
uma clínico-descritivo e outra teórica. A partir dos trabalhos com
orientação psicodinâmica de Spitz e Bowlby, num grupo de crianças foi
identificado por responder inapropriadamente aos cuidadores. Uma
variedade de fenótipos podem ser observado e, por definição, esses
comportamentos estão relacionados a um histórico de grande abandono,
falta de respostas contingentes e pouca ou nenhuma atenção, interação e
afeto. Atualmente, os critérios operacionalizados mostram que dois
subtipos são propostos, inibido e desinibido. A criança inibida não
inicia ou responde a interações sociais, ao passo que a desinibida o faz
de uma forma difusa e indiscriminada, mostrando uma excessiva
familiaridade com estranhos.
Essa
categoria está fora do capítulo sobre os Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento da CID-10, com base na falta de disfunção global e de
uma estreita relação com privações ambientais. Porém, as fronteiras
dessas condições não estão claramente definidas e pode-se assumir que o
comprometimento por longo período na vida afetiva poderia ser o
resultado da privação materna e poderia ter um efeito prejudicial global
de longa duração para as habilidades sociais e comunicativas, e no
funcionamento adequado do sistema límbico.
As propostas de categorias em classificações baseadas em outras abordagens são:
1.Transtornos de aprendizado não-verbal
Essa terminologia foi proposta para descrever um grupo de pacientes com disfunções nas capacidades não-verbais em combinação com contato visual pobre, comunicação gestual, expressão facial e prosódia prejudicadas. De fato, essa é uma proposta baseada principalmente nos perfis neuropsicológicos, em que deve se observar uma discrepância entre QI verbal e QI de desempenho. Os déficits na interação social não parecem depender dos problemas associados à linguagem, que usualmente parece funcionar de forma normal. Comportamentos ritualísticos são comuns,
bem como dificuldades em matemática, comprometimentos visuo-motores, QI
não-verbal reduzido, sinais motores neurológicos no hemi-corpo esquerdo
e hemi-negligência do espaço à esquerda.
Os primeiros relatos consideravam-no como um transtorno de desenvolvimento da linguagem. No entanto, a partir da descrição dos prejuízos envolvidos, tornou-se evidente que o quadro
é, em muitos aspectos, muito similar ao do Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento, especialmente à Síndrome de Asperger. A diferença
poderia ser meramente na ênfase posta nos problemas comunicativos gerais ou nos distúrbios de interação social. Segundo Rourke, o transtorno que ele estudou poderia ser caracterizado, por um lado, pelas habilidades presentes nele e, por outro, pelos prejuízos observados. Com relação às habilidades preservadas, Rourke enfatiza as seguintes do ponto de vista neuropsicológico:
a)Habilidades primarias – atividade motor (as habilidades motoras repetitivas simples parecem estar intactas); percepção auditiva (parece haver um déficit nessa habilidade no começo, mas com a evolução ela se desenvolve muito bem); material memorizado (as tarefas
repetitivas, principalmente as que dependem da avaliação auditiva,
estão muito bem desenvolvidas. As atividades motoras repetitivas,
incluindo certos aspectos da linguagem, e outras atividades, tais como a
escrita, podem estar presentes em um grau acima da média).
b)Habilidades
secundárias – atenção (o uso da atenção nas atividades que envolvem
material verbal simples e repetitivo – especialmente quando fornecidos
pela modalidade auditiva parecem bem desenvolvidas).
c)Habilidades terciárias – memória (o material verbal é facilmente memorizado, de forma que essa habilidade se desenvolve bem).
d)Habilidades
verbais – fala e linguagem (as habilidades lingüísticas parecem estar
atrasadas em etapas precoces, mas desenvolvem-se rápido, a ponto de que a
memória mnemônica, a segmentação de palavras, a repetição e as
habilidades de memória levam a um vocabulário bem vasto e à
possibilidade de fazer associações verbais com bastante sentido. Todas
essas características tendem a se tornar mais evidentes com o passar do
tempo); habilidades acadêmicas (podem estar presentes dificuldades nas
etapas precoces do aprendizado devido aos déficits visuomotores, mas a
prática leva a um desempenho de leitura e de escrita adequados).
Os prejuízos neuropsicológicos apresentados por esses pacientes são:
a)Déficits
primários: percepção tátil (déficits na percepção bilateral, com alguma
prevalência no lado esquerdo, são usualmente evidentes, mas tendem a
diminuir com o tempo); percepção visual (prejuízos na discriminação e
reconhecimento dos detalhes e na orientação espacial estão geralmente
presentes; tendem a se tornar mais evidentes com o passar dos anos);
atividade motora complexa (observa-se, em geral, deficiência na
coordenação motora, geralmente prevalecendo no lado esquerdo. Com
exceção da escrita, este comprometimento tende a piorar com a idade);
material novo (dificuldades com as modificações na configuração dos
estímulos são a regra).
b)Déficits
secundários: atenção (a atenção aos estímulos táteis e visuais são
deficientes; a atenção persistente é mais eficiente quando se trata de
estímulos simples e repetitivos e menos eficiente em termos de estímulos
não-verbais, novos e complexos); comportamento
exploratório (há uma inclinação a não explorar fisicamente o ambiente; o
comportamento sedentário e as restrições ao funcionamento físico
agravam-se com o decorrer dos anos).
c)Déficits
terciários: memória (pobre para eventos táteis e visuais; a memória de
material não-verbal não é boa); construção de conceitos, solução de
problemas, desenvolvimento de estratégias, teste de hipóteses
(importantes déficits estão geralmente presentes nesses domínios);
déficits verbais (déficits discretos podem ser observados na praxia
oro-motora, na prosódia e em outros aspectos da linguagem).
Devido
aos prejuízos listados acima, é comum encontrar fracassos nas
habilidades de aprendizado acadêmico e nas funções sociais e
adaptativas. Especulou-se que o quadro de comprometimento não-verbal
poderia derivar do comprometimento do hemisfério cerebral direito, como
conseqüência de uma possível destruição/disfunção da substância branca
envolvida nos processos de integração de modalidades diversas de
estímulos.
É
importante dizer que essa hipótese baseia-se em formulações teóricas
que ainda não foram comprovadas. O diagnóstico baseia-se na
identificação de sinais e sintomas definidos como característicos. Em
uma tentativa de facilitar o diagnóstico, Michael Goldstein criou um
questionário específico, o Children’s Nonverbal Learning Disabilities
Scale. Por outro lado, como uma síndrome semântico-pragmática, pode-se
discutir se os prejuízos de aprendizado não-verbal devem ser vistos como
uma condição independente, ou se eles representam meramente um meio de
destacar uma das características presentes nos quadros de Transtorno
Invasivo do Desenvolvimento.
2.Síndrome semântico-pragmática
O
termo Síndrome Semântico-pragmática (SSP) foi inicialmente introduzido
para se referir a uma classificação médica de transtornos de
desenvolvimento da linguagem como a agnosia auditiva verbal
(incapacidade de decodificar a linguagem recebida por via auditiva),
transtorno do déficit semântico-pragmático (déficit linguístico no
aspecto social e comunicativo), dispraxia verbal (desordem
expressiva, de origem neurológica, que interfere na produção dos sons da
fala e sua sequencialização em sílabas ou palavras), transtorno
fonológico-sintático (vocais pobres, linguagem ininteligível) e déficit
lexical-sintático (é afetado a capacidade de evocar a palavra certa para
o conceito ou idéia). Essas categorias foram constituídas pela
identificação das alterações mais evidentes na linguagem expressiva, na
interação social e na compreensão verbal.
Crianças
com esse transtorno apresentam prejuízos de linguagem em grande escala,
geralmente também um atraso inicial no aprendizado da linguagem e
déficits nas características da linguagem receptiva, seguidos por
adequado aprendizado da fala. Esse aprendizado inclui o uso de sentenças
mais complexas, com dificuldades semânticas e pragmáticas que se tornam
mais freqüentes à medida que aumenta sua eficiência verbal. Esse
diagnóstico deve ser aplicado quando a criança não preenche os critérios
para o diagnóstico de autismo.
Bishop
e Rosenbloom (1987) alteraram o termo para Síndrome
semântico-pragmático (SSP) e sugeriram que esse quadro clínico era
meramente uma associação acidental de comportamentos que se escondiam
sob o Transtorno do Espectro Autista por um lado e por outro, sob a
normalidade. Mesmo que eles admitissem que a maioria das crianças com
esse diagnóstico não seria identificada como autista, compreenderam que
algumas delas apresentavam anormalidades significativas com relação à
interação social. Já naquele período, eles notaram que pacientes com a
Síndrome de Asperger apresentam um padrão de linguagem muito similar ao
descrito em indivíduos com Síndrome Semântico-pragmática e, dessa forma,
concluíram que ainda que os prejuízos na linguagem e sociais pudessem
coexistir em certos casos, poderiam estar dissociados. Em um artigo de
1989, Bishop discutiu os limites entre Autismo, Síndrome de Asperger e
Síndrome Semântico-pragmática. Nesse artigo, sugere que o Autismo e os
transtornos de desenvolvimento de linguagem não eram necessariamente
mutuamente excludentes. Sugeriu ainda um contínuo bidimensional: uma
dimensão que representa as habilidades comunicativas e outra, as
relações e interesses sociais. Segundo ele, crianças com habilidades
comunicativas relativamente normais, mas com relacionamentos sociais
anormais, poderiam ter a Síndrome de Asperger, ao passo que crianças com
habilidades sociais normais, porém com anormalidades comunicativas,
teriam Síndrome Semântico-pragmática.
Uma
crítica isolada dessa posição foi feita por Happé (1994), que afirmou
que seria enganador pressupor a inexistência de uma relação entre as
competências sociais e comunicativas, pois há razões para supor que as
duas habilidades podem envolver os mesmos mecanismos cognitivos. Alguns
autores não admitem separar as dificuldades semânticas e pragmáticas do
quadro clínico do Autismo e sugerem que um termo melhor para referir-se a
essas alterações seria “dificuldades semânticas e pragmáticas”, em vez
de Síndrome Semântico-pragmática. No entanto, isso seria utilizado
meramente de uma forma descritiva e não como um rótulo diagnóstico, já
que o diagnóstico correto para as crianças acometidas deveria ser
Autismo com alto grau de funcionamento.
Estudos
utilizando testes neuropsicológicos que incluíram testes sobre a
cognição social em crianças autistas com alto grau de funcionamento e
crianças com Síndrome Semântico-pragmática, mostraram claras semelhanças
entre os dois grupos. Em ambos, os autores puderam verificar um padrão
de resultado indicativo de disfunção do hemisfério cerebral direito e
disfunção nas habilidades sociais. Esses estudos também ratificaram a
visão de que a Síndrome Semântico-pragmática poderia ser um transtorno
do espectro autista e poderia indicar que os problemas relacionados à
habilidade comunicativa poderiam resultar ou ser associados a uma falha
cognitiva que não seria principalmente de ordem lingüística. As
similaridades que foram descritas entre as falhas de comunicação na
Síndrome Semântico-pragmática e nos pacientes que adquiriram lesões no
hemisfério direito são as seguintes:
a)Em
ambos os grupos, os pacientes possuem dificuldades em integrar as
informações, o que pode comprometer sua expressividade verbal;
b)Ambos
os grupos possuem formas intactas de linguagem, utilizando formas
complexas e gramaticalmente corretas, mas a comunicação é prejudicada
pelo conteúdo e pelo uso;
c)Ambos os grupos possuem falhas de compreensão, prosódia e utilização de comunicação não-verbal;
d)Ambos os grupos cometem menos erros ao realizarem tarefas concretas e literais;
e)Ambos os grupos possuem dificuldades em assimilar e utilizar pistas contextuais;
f)Ambos
os grupos tendem a produzir uma interpretação literal e têm dificuldade
de compreender uma linguagem metafórica e figurativa, bem como
humorística.
Esses
estudos indicam também que ambos os grupos não admitem facilmente seus
problemas de comunicação, ainda que a maioria dos trabalhos publicados
tendam a favorecer a visão de que a Síndrome Semântico-pragmática deve
ser considerada como sendo parte do espectro do autismo. Rapin e Allen
(1998) consideram que, mesmo que a Síndrome Semântico-pragmática afete
fundamentalmente indivíduos autistas, menos frequentemente ele também
afeta pessoas com hidrocefalia (acúmulo anormal e excessivo de líquor
dentro dos ventrículos ou do espaço subaracnóide),
com a Síndrome de Williams (desordem genética com fácies peculiar,
estenose aórtica supravalvular, déficit de crescimento, retardo mental e
hipercalcemia) e outras formas de encefalopatias. Esses autores
enfatizam a inadequação de utilizar o diagnóstico de Síndrome
Semântico-pragmática em alguns casos com o propósito único de evitar o
de Autismo, que é menos facilmente aceito. A opinião mais consolidada
entre os profissionais que trabalham na área de transtornos do
desenvolvimento é a de considerar que a Síndrome Semântico-pragmática
integra o grupo do Transtorno Autístico, em vez de ser um transtorno do
desenvolvimento da linguagem. O uso do termo “dificuldades semânticas e
pragmáticas” de uma forma descritiva pode ser um meio interessante de
indicar o tipo de dificuldades comunicativas encontrado. No entanto, não
deve ser utilizado como um rótulo diagnóstico, porque pode ser
enganador: pode suscitar dúvidas na família e levar a uma conduta
equivocada do ponto de vista terapêutico.
Diagnóstico diferencial
Fazer
um diagnóstico diferencial entre as categorias dos Transtornos
Invasivos do Desenvolvimento não é uma tarefa fácil, pois juntamente com
os sintomas de prejuízo social, crianças com Autismo e Transtorno
Invasivo do Desenvolvimento relacionado apresentam altos níveis de
ansiedade, hiperatividade e oscilações de humor. Às vezes o diagnóstico
definitivo deve ser atrasado até uma idade mais avançada, sendo que as
intervenções terapêuticas não devem ser adiadas.
O
diagnóstico diferencial entre crianças esquizóides e com Transtorno
Invasivo do Desenvolvimento parece não estar baseado em evidências, já
que as crianças que eram classificadas como esquizóides são atualmente
classificadas como tendo Síndrome de Asperger. O diagnóstico diferencial
entre Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e Esquizofrenia pode ser
feito de acordo com a idade de início, precoce no Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento, a proporção entre os sexos (mais homens em Transtorno
Invasivo do Desenvolvimento), histórico familiar, presença de delírios e
alucinações na Esquizofrenia.
É
possível identificar duas categorias entre as crianças descritas como
tendo Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)/espectro borderline
propriamente e o Transtorno de Personalidade Esquizotípico
(TPE)/espectro esquizotípico. Ambas apresentam episódios psicóticos
transitórios, pensamento mágico, intensidade de fantasias e perda do
sentido de realidade. O Transtorno de Personalidade Borderline parece
não ter histórico familiar, distúrbio do afeto e fala, evitação social
como o Transtorno de Personalidade Esquizotípico geralmente possui. Por
outro lado, eles mostram um afeto intenso e dramático e a falta de
necessidade de interação social.
Diagrama das categorias do Transtorno Invasivo de Desenvolvimento:
Sou mãe de um autista e apesar das dificuldades meu filho é muito amado e muito querido é meu mundo uma das minhas razões de viver,mesmo comtantas barreiras agora estou tentando conseguir seu auxilio saúde e com fé em Deus vou conseguir
ResponderExcluirme desejem sorte como eu desejo a todos que tem uma benção dessas... até a próxima vez.
Meu filho nao e autista, mas tbm especial... Com esse amor de mãe q temos no coração e fé em Deus vamos longe com nossos filhos. Deus nos capacitou a transpor barreira por causa deles. Oro para q vc alcance o beneficio. Deus abençoe vc e seu filhinho! Forte abraço.
ResponderExcluirOi Cyda, obrigada pelas palavras. Deus tem nos honrado a cada dia. Que Deus abençoe todos nós! Bjs, Débora
ExcluirTenho um filho autista, hoje a minha maior dificuldade é conseguir redução do meu horário de trabalho de 8h para 4h por dia. Tive que cancelar as terapias por causa do trabalho. Sou funcionária pública federal. Bjs, Eliza.
ResponderExcluirOl
ResponderExcluirOlá sou mãe de Lorena de 4 anos com diagnóstico de Autismo Atípico, muito tem bagunçado minha cabeça, pois quando tive o diagnóstico logo veio a aceitação, agora aparece que estou na fase de negação, achando que tudo não passa de uma fase....Mas estou com muita fé que todos esses sentimentos irão passar para assim poder agir !!!!
ResponderExcluirOi Patricia. Meus filhos tem 7 anos e há 5 anos tem o diagnóstico e até hj doi, mas não com a mesma intensidade do inicio. Sempre aceitei numa boa o diagnóstico, mas isso não quer dizer que não irá doer as vezes. Fica em paz... vc vai se adaptar a nova vida. Deus te abençoe.
ExcluirSempre soube que meu filho tinha algo especial. Diferente das demais crianças.
ResponderExcluirHoje tive o diagnóstico de Autismo Atípico. Ele tem 5 anos.
Apesar de sempre saber, ouvir do médico, não foi algo que pra mim seria normal por já ter identificado algo. Mas foi diferente, doeu!
Sempre tentei buscar uma avaliação. Mas como não é muito aparente, só quem convive que consegue perceber, eu fui inúmeras vezes taxada como mãe super protetora,que meu filho era sem educação, mimado..etc. Nossa, como isso me feria! Perdi as contas de quantas vezes eu chorei por não compreenderem a situação. Por isso demorei tanto para conseguir um diagnóstico.
Mas graças a Deus, hoje eu o tenho. E poderei seguir com tratamentos, acompanhamentos...E com muita fé em Deus iremos superar cada fase!
Passo por isso tbm.... só consegui o diagnóstico agora minha filha tem 6 anos e o diagnóstico veio como autismo atípico leve, mas apesar de saber que tinha algo diferente ouvir do médico me doeu. E pior meu marido não quer q eu conte para ninguém, com medo das pessoas tratarem ela como coitada. O laudo foi difícil pois ela fala, interage com pessoas, conhece as letras e números o diferente ela anda nas pontas dos pés;ri em momentos impróprios,n consegue olhar nos olhos e as vezes crises de choro e grito sem motivo.
ExcluirÉ difícil me sinto cansada, mas continuo com tratamento em fono, psicóloga, neuropsicóloga e tentando vaga com terapia ocupacional.
Ta com trinta dias que meu filho foi diaginosticado com autismo atípico. Ele tem 9 anos gostaria de saber que direito ele tem ?
ResponderExcluirBoa noite...com o cid de autismo atípico,conseguimos dar entrada no LOAS?
ResponderExcluir