AUTISMO PODE SER APENAS SINTOMA DE UMA SÍNDROME MAIS GRAVE
Dificuldades para aprender a falar,
problemas de interação social e movimentos repetitivos sem nenhum motivo
aparente são os sintomas mais conhecidos do autismo. Mas essa condição
não é uma doença por si só, pode ter várias origens diferentes, e pode
ser apenas o indício de uma síndrome mais complexa.
Além disso, há vários graus
diferentes do problema, e por isso os especialistas preferem o termo
“doenças do espectro autista”. “Inclui desde a forma clássica, a criança
isolada que não comunica e não fala, mas tem as formas mais leves”,
explicou Maria Rita dos Passos Bueno, que pesquisa a genética do autismo
no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
A síndrome de Asperger é uma dessas
formas mais leves, uma das doenças menos graves do espectro. As crianças
aprendem a falar na idade normal, mas têm problemas para se integrar à
sociedade. Porém, mesmo dentro do grupo dos que têm essa mesma doença,
há diferentes níveis de isolamento.
“Existem alguns que conseguem romper
essa dificuldade e se adaptam, e tem outros em que não têm o que se
fazer, não se adaptam nunca”, relatou a pesquisadora.
Bueno cita também algumas doenças
complexas que têm o autismo como mais uma das consequências causadas. A
síndrome de Rett provoca, além do autismo, dificuldades motoras que
podem até levar à necessidade da cadeira de rodas.
Já a síndrome do X frágil pode
provocar autismo, mas tem como característica mais grave o retardo
mental. Além disso, traz alterações no tamanho dos testículos, das
orelhas e mudança no formato do rosto, que fica mais alongado.
“Essas crianças têm um monte de
outras coisas além de autismo, o autismo é como se fosse um sintoma de
um quadro mais complexo”, conclui a cientista.
Autismo clássico
No entanto, há também muitos casos
de autismo que não vêm acompanhados dessas outras doenças. Nesses casos,
o autismo é o problema em si a ser tratado. “É como se não tivesse
sinal clínico suficiente para você dizer que é uma síndrome. Esses
pacientes entram no bolo das doenças do espectro autista”, diz Bueno.
“Nesse caso, o maior problema é o
problema de comportamento que a criança tem, e não tem nada alterado:
cara normal, tamanho normal, tudo normal, é uma criança normal, exceto
no comportamento”, acrescenta.
Estudo genéticos já levaram os
cientistas a encontrar pelo menos cem mutações genéticas diferentes que
podem provocar o comportamento autista. Além disso, pode haver casos em
que duas ou mais mutações se somam. Por tudo isso, é difícil identificar
e combater o problema.
Tratamento
“É fato que o
autismo, quanto antes identificado e tratado, melhor o prognóstico e
melhor a inserção social. Agora, é claro que isso não significa que
todos os casos terão um ótimo prognóstico mesmo tratados em idade bem
prematura”, explica a psicóloga Cíntia Guilhardi, doutora pela USP, que
trabalha com crianças autistas no Grupo Gradual.
A idade ideal para o início do
tratamento, segundo a especialista, é antes dos três anos de idade.
“Quanto antes a gente trata, menos comportamentos do espectro estão
instalados no repertório da criança e mais chances de ampliar a
variedade de comportamentos dela”, completa.
O tratamento dessas crianças é feito não só com psicólogas nas clínicas, mas também com o uso de medicamentos.
As duas especialistas participam do
ESPCA Autism, um congresso internacional para o estudo do autismo
organizado em São Carlos (SP).
Fonte: G1
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