Introdução
Os alunos autistas respondem bem aos sistemas organizados.
O professor deve organizar a sala de aula para efetivamente conseguir ensinar os alunos.
Tais informações, assim como outras, são geralmente
feitas por "treinadores" de professores e outros profissionais
familiarizados com autismo. Mas muitas vezes há um mínimo de compreensão
de como planejar e utilizar o conceito de "estrutura".
Uma definição obtida através de dicionário é: como a
ação de criar ou construir - colocando as coisas em um padrão definido
de organização. Por exemplo: um jardineiro com vontade de ter um bonito
jardim deve utilizar a organização no planejamento e cultivo de um
jardim; sementes e plantas devem ser dispostas dentro de um padrão
pré-determinado, prevendo assim as necessidades cada planta no que se
refere a sombra, sol, água e proximidade de outras plantas.
Utilizando-se de tal organização consegue-se ampliar a força das plantas
e compensar/evitar suas fraquezas, propiciando seu crescimento de forma
mais rápida e com maior produção de frutos. Os professores também devem
organizar o cotidiano da sala-de-aula para que os alunos possam
otimizar suas habilidades assim como desenvolver aquelas que estão mais
comprometidas.
Antes de explorar um pouco mais o uso da organização
na sala-de-aula, será útil rever rapidamente algumas das dificuldades da
criança autista e como elas apontam para a necessidade de uma
organização, quando se busca sucesso no ensino.
Dificuldades de linguagem receptiva (compreensão das
mensagens ouvidas) é característica do autismo. Muitas vezes o aluno
pode não entender a mensagem quando o professor está acreditando que êle
esteja entendendo, causando assim uma reação de agressividade ou de
falta de iniciativa. Pode também acontecer que o aluno não possua
linguagem suficiente para comunicar verbalmente ao professor que está
cansado, com calor, com fome, entediado ou com vontade de ir embora,
exceto através de birras e pirraças.
Êle pode ter uma memória sequencial pobre (memória
das sequências dos fatos, sons, etc) e não conseguir manter a sequência
dos eventos, mesmo que os cotidianos, ou não ter certeza quando algo
diferente irá acontecer. Geralmente êle se sente mais confortável
permanecendo em atividades que "já tem costume" resistindo assim a
aprender as novas. Muitas vezes êle é incapaz de se organizar ou impor
limites a seu próprio comportamento e não tem noção das regras sociais.
Isto pode resultar na tentativa de "chamar a atenção" dos outros de
forma inapropriada ou de preferir ficar isolado. Devido a sua
dificuldade de relacionamento social êle pode não ter motivação para
agradar os outros ou não ser sensível a elogios podendo assim parecer
que há resistência ao aprendizado.
Hipersensibilidade sensorial pode levar, com
frequência, a distúrbios de comportamentos. A distraibilidade e falta de
noção e organização da temporalidade podem também causar comportamentos
que interferem na aprendizagem.
Organizar a sala-de-aula ou qualquer outro ambiente
de ensino ao nível de compreensão do aluno pode diminuir suas
dificuldades, resultando assim numa otimização do aprendizado.
Este capítulo debate os aspectos de uma estratégia, através da organização,
que tem-se mostrado útil em salas de aula para alunos portadores de autismo, independente da idade. Tais aspectos são:
* a organização física,
* a programação das atividades,
* os métodos de ensino.
A chave para se usar cada um desses itens é a
individuação. Só a sala de aula fisicamente organizada e programada não
beneficiará os alunos, a menos que as habilidades e necessidades de cada
aluno estejam sendo consideradas na fase de planejamento. Um professor
que use métodos de ensino tais como dicas ou reforço pode não estar
sendo eficaz se não avaliar as necessidades individuais e a forma de
aprendizado de cada um. Uma discussão mais ampla do uso de cada um
destes aspectos será visto a seguir.
Organização da Área física
A disposição física da sala-de-aula deve ser
considerado quando se planeja o ensino para alunos autistas. Até a
disposição dos móveis da sala pode ajudar ou atrapalhar o funcionamento
independente do aluno, o reconhecimento e respeito pelas regras e
limites. Não se esqueça das dificuldades do portador de autismo ao
planejar a organização física da sala-de-aula. Muitos alunos possuem
dificuldades de organização pessoal não sabendo onde ir e como chegar
pelo caminho mais fácil. Devido as dificuldades de recepção da linguagem
êles geralmente não entendem direções ou regras. A organização do meio
ambiente lhes dá pistas visuais, que os ajuda a entender. Alguns
portadores de autismo não altamente distraíveis por qualquer "coisa" do
ambiente. Os professores precisarão organizar o ambiente para que não
haja tanta distração.
Antes de planejar a organização física da
sala-de-aula, o professor pode querer avaliar o meio ambiente de modo
geral. Uma boa organização não será tão eficaz se existirem outros
problemas. Muitas vezes o professor não tem escolha sobre qual sala lhe
será destinada. Mas se houver, há alguns aspectos a serem considerados,
como:
* o tamanho da sala,
* quais as outras salas que estão próximas,
* número e acesso a pontos de luz,
* localização do banheiro mais próximo,
* iluminação,
* espaço na parede que possa distrair,
* outros aspectos imóveis.
Alguns aspectos indesejáveis podem ser desprezados ou
mesmo serem modificados, mas existem algumas situações que podem
necessitar uma mudança na sala.
Exemplificando:
Uma sala com muitas saídas não é indicada quando se tem alunos que tem hábito de correr.
Uma sala para alunos de nível intermediário não pode
estar localizada no "hall" do Jardim de Infância, pois isto não
proporciona oportunidade para socialização e pode colocar um estigma nos
alunos obviamente mais velhos.
Uma sala muito pequena ou sem espaço adequado para a
guarda de objetos cria uma atmosfera desconfortável de se ter sempre
alguma coisa na frente ou de se trabalhar "um em cima do outro". Isto
não proporciona uma atmosfera relaxante de aprendizado.
Um aspecto de alta prioridade é a localização do
banheiro. os professores que estão treinando os alunos a usar o banheiro
não querem ter que andar grandes distâncias cada vez que o aluno tenha
que ir lá. Mesmo com alunos independentes no uso de banheiros, o
precioso tempo de aula não deve ser desperdiçado com longas viagens ao
banheiro.
Uma vez definido a sala-de-aula, o professor está
pronto a começar a estruturar as áreas de aprendizado e treinamento no
que concerne ao conteúdo da temática de aprendizado. Definir áreas
específicas para tarefas de aprendizado específicas, identificar com
clareza os limites e fazer materiais facilmente acessíveis ajudam os
alunos a saber de forma independente onde devem estar e onde obter seus
próprios materiais. Desta forma os professores não tem de estar
constantemente repetindo instruções ou lembrando algo aos alunos,
causando menos confusão de informações (quantidade de verbalizações) na
sala. Salas e alunos diferentes exigirão estruturas diferentes.
Alunos mais comprometidos e os com autocontrole menos
desenvolvido precisarão de uma estrutura mais organizada, como limites
mais definidos e firmes e mais dicas que os menos comprometidos.
Um professor de alunos mais jovens poderia organizar
as áreas de aprendizado para jogos, trabalho individual e independente,
lanches e desenvolvimento de auto-ajuda. Pode também haver um grupo e
uma área específica para tarefas pré-vocacionais. Uma sala para alunos
mais velhos teria áreas de lazer, oficina, aptidões domésticas,
auto-ajuda, cuidados pessoais e locais para ensino individualizado.
Muitas salas precisam utilizar a área externa como local para que alguns
alunos se distanciem de distrações e excesso de estímulos em
determinado momento e assim recuperem o autocontrole. Todas as salas
devem ter um espaço definido para que os alunos coloquem seus objetos
pessoais. Podem ser escaninhos, armários ou caixas especiais. A mesa do
professor, ou seu espaço, deve estar separada na sala.
A organização das áreas na sala-de-aula pode começar a
disposição natural. Por exemplo: proximidade de janelas e espelhos
prejudicam as áreas de trabalho pela distração que causam. Caso isto não
possa ser evitado deve-se usar persianas ou papelão pregado na janela. É
benéfico utilizar áreas de trabalho próximas a prateleiras ou armários
de forma que os materiais possam ser facilmente acessados. Os armários
embutidos são ótimos para esta finalidade pois pode-se criar áreas de
trabalho em sua volta. Paredes nuas também, pois as mesas devem ficar de
frente para elas e se eliminam algumas distrações. É importante que a
mobília seja apropriada para a idade e tamanho dos alunos. As áreas onde
os alunos passam algum tempo em atividades independentes, como jogos e
lazer ficarão melhores se estiverem localizadas longe das saídas -
elimina-se a preocupação com a fuga de algum aluno. Tapetes, estantes,
divisórias, a disposição das mesas - tudo pode ser utilizado para marcar
melhor os limites. Por exemplo: a área carpetada pode ser a área de
lazer, ou seja os alunos não devem estar em nenhum outro local durante
os intervalos. A área da oficina pode ser delimitada por estantes cheias
de materiais e 2 ou 3 mesas mais compridas, de trabalho. Quando um
aluno recebe os materiais de oficina deve se sentar naquela área para
trabalhar. Outro exemplo: o professor pode colocar um pequeno tapete em
frente ao lavatório/pia para mostrar aos alunos onde ficar quando estão
lavando as mãos ou pratos.
Os materiais deverão ser claramente marcados ou
organizados dentro do nível de compreensão do aluno. Alguns materiais
são apenas para o professor, alguns não podem ser usados durante o tempo
de jogos ou lazer. A utilização de figuras, códigos de cores, símbolos
numéricos, retratos, podem ajudar os alunos a marcar, buscar ou guardar
os materiais de forma independente.
Quando o professor planeja a organização física da
sala é imprescindível levar em consideração as necessidades individuais
de cada um. A individualização pode ser ilustrada como exemplo de três
áreas de trabalho estruturadas diferentemente dentro do espaço da
oficina numa sala.:
- nos dois lados da oficina estão estantes cheias de material de trabalho - isto define a área de trabalho;
- no
meio da oficina estão uma mesa e cadeiras para os que não se importam
com as atividades dos outros ou estão aprendendo a lidar com distrações.
Outra mesa de trabalho está de frente para uma parede nua e há fitas
crepe marcando no chão onde as cadeiras devem ficar durante o trabalho -
esta é para alunos mais facilmente distraidos e que divagam quando não
estão ocupados;
- uma terceira área de trabalho é separada em
dois lados com divisórias e ficam de frente a uma parede nua. O aluno
que aqui deve trabalhar é aquele que é facilmente distraído pelo que os
outros estão fazendo e tem comportamento que pode perturbar os que
trabalham.
As necessidades dos alunos deve ser avaliada em
separado. A medida que o aluno trabalha de forma mais independente este
tipo de estruturação pode ser reduzida gradativamente.
Algumas perguntas que devem ser consideradas quando os professores organizam suas salas:
- Há espaço para o trabalho individual e em grupo?
- As áreas de trabalho estão localizadas em ponto de menor distração?
- As áreas de trabalho estão identificadas para que o aluno encontre seu próprio caminho?
- Existem áreas de trabalho consistentes para aqueles que precisam?
- O professor tem fácil acesso visual a todas as áreas de trabalho?
- Há lugares para os alunos colocarem os trabalhos concluídos?
- Os materiais de trabalho estão em área central e próximos as áreas de trabalho?
- Os materiais para os alunos são de fácil acesso e claramente marcados para êles?
- As áreas de lazer ou jogos são amplas?
- Estão distantes das saídas?
- Estão distantes de áreas de materiais, a que os alunos não devam ter acesso durante o tempo livre?
- Os limites das áreas estão claros?
As prateleiras da área de jogos ou de lazer estão cheias de brinquedos ou jogos quebrados que ninguém usa?
O professor deve usar um esquema para conseguir ensinar os alunos.
Dois alunos estão distraídos na cozinha com uma
atividade culinária em companhia do professor assistente. Há um aduno
tecendo um tapete na área de lazer. Outro está na oficina trabalhando
independentemente na elaboração de uma lista de atividades e um quinto
aluno está fazendo exercícios individuais com um professor. Ao fundo
ouve-se um relógio marcando a hora. Ele soa e parece que haverá uma
enorme confusão na medida que os materiais são guardados, as cadeiras
afastadas, os lembretes são feitos juntamente com os elogios, algumas
instruções são passadas, todos passam a uma nova área da sala e o
trabalho recomeça. Como é que todos sabem onde ir e como fazer? Como os
professores sabem por quem são responsáveis? Por que funciona tão bem?
Esta classe com certeza tem uma programação clara, consistente e
objetiva, um esquema que determina quem, o que e quando.
Programação é parte da organização das atividades que
os alunos autistas necessitam. Muitos tem problemas com memória
sequencial e organização no/do tempo. Dificuldades de linguagem
receptiva também pode tornar difícil aos alunos compreender o que eles
deveriam estar fazendo. Além de dar orientação a todos sobre certos
períodos de tempo, a programação das atividades ajuda-os a prever
acontecimentos diários e semanais. Isto diminui a ansiedade sobre o não
saber do que ocorrerá em seguida. Além de saber qual atividade ocorrerá
depois, a programação auxilia os alunos a se conduzir de forma
independente entre as atividades. Sua programação lhes diz onde devem ir
em seguida. Além disso alunos com pouca iniciativa podem ser motivados a
completar uma tarefa considerada difícil se perceberem pelo esquema
montado(programação) que esta será seguida de atividade ou tarefa mais
agradável.
Geralmente há dois tipos de programação utilizados
simultaneamente nas salas. O 1. tipo é a programação geral da classe; e o
2. tipo são os esquemas individuais.
A programação global delineia os eventos diários,
porém não especifica atividades de trabalho para os alunos mas mostra os
horários, intervalos, etc. Por exemplo:
8:30 - chegada dos alunos, guarda de objetos
8:45 - sessão de trabalho 1
9:30 - sessão de trabalho 2
10:15 - intervalo
10:30 - lazer
11:00 - sessão de trabalho 3
11:45 - preparo para o almoço
12:00 - almoço
12:30 - pátio, ginásio
13:00 - limpeza das mesas e chão da cozinha
13:45 - sessão de trabalho 4
14:30 - despedida
Este esquema mostra quando os alunos estão
trabalhando e quando estão desenvolvendo outras atividades. Durante as
sessões de trabalho alunos e professores podem estar envolvidos em uma
série de atividades, desde o trabalho pré-vocacional independente,
treinamento individual sobre auto-ajuda, até sobre tarefas na escola.
Estas, atividades, se refletem na programação individual. A programação
geral pode até ser semanal, exceto nos dias de excursões, eventos
especiais ou treinamentos comunitários.
A programação geral da classe é geralmente afixada em
algum lugar da sala para que todos possam ver e a utilizarem. Esta é
geralmente revisada quando da chegada dos alunos ou durante uma sessão
matinal de grupo. O formato pode ser escrito, porém como nem todos serão
capazes de entender o escrito, pode-se utilizar figuras ou desenhos
representando as atividades. Por exemplo: a figura de uma carteira ou
mesa pode ser usada no lugar de "sessão de trabalho". A programação com
gravuras pode ser disposta de cima para baixo ou da esquerda para a
direita em um grande cartaz. Usando esta tabela global os professores
podem organizar melhor as responsabilidades diárias, ou semanais. Um
quadro de horário e atividades com a tabela anexa para cada professor é
fácil de manusear e de consultar. Para dividir as responsabilidades dos
professores deve-se considerar quais os alunos trabalham bem em pequenos
grupos, quais conseguem exercer atividades de forma independente, qual
atividade necessita do professor fora da sala e quais alunos tem
comportamento de difícil controle. Ambos professores ( e outros
voluntários que usem a programação) devem saber quais são e a quem
acomete suas responsabilidades.
Para ajudar aos alunos a compreender o que fazer
durante as atividades constantes na programação geral, usam-se as
tabelas individuais. Elas podem ter formas variadas mas devem ser
individualizadas, adequadas a idade, balanceadas entre atividades
difíceis e fáceis e baseadas na capacidade de compreensão e execução de
cada um ( quanto reforço ou mudança de atividade pode ser necessária).
As programações individuais variam desde aqueles que
são dirigidos e administrados pelos professores até os que os próprios
alunos programam e desenvolvem. O aspecto importante é que são
individualizados, isto é, criados para e compreendidos pelos alunos.
Alguns exemplos:
- Quando o professor e aluno terminam uma
atividade ( e seu consequente reforço), o professor mostra o item da
próxima atividade. Ou o aluno segue para a área designada levando o item
consigo ou usa o item como exemplo para apanhar outros materiais
necessários e os leva para a mesa de trabalho.
- Sobre a mesa do aluno está um cartaz onde
estão fixados círculos de papel em cores diferentes, em fileira
vertical. O aluno aprende a retirar o círculo da parte superior e
compará-lo a outro igual, colocando-o numa caixa na estante da área de
trabalho. Ele leva a caixa para a mesa, completa o trabalho na caixa
(com ou sem ajuda do professor, dependendo da tarefa) e põe a caixa de
volta na estante quando termina. Ele continua assim até que todos os
círculos coloridos tenham sido feitos.
- Afixados ao quadro do lado da área de
trabalho do aluno estão enfileiradas 4 ou 5 fotos polaroid para cada
sessão de trabalho. O aluno começa com a foto da parte superior e obtém
os materiais, completa a atividade e guarda os materiais. Ele continua a
seguir o esquema através das fotos para a sessão de trabalho. A última
foto em cada fileira será de um jogo ou brinquedo que o aluno goste.
Quando alcança a foto, êle pode brincar até que soe o sinal para o
início de uma nova sessão de trabalho. Pregado na mesa está um pedaço de
papel dividido em 3 fileiras de 3 quadrados cada. Cada quadrado tem um
desenho ou lista de número. Cada quadrado corresponde a um bloco de
horário da programação global da classe. O aluno segue a tabela da
esquerda para a direita. O primeiro bloco relaciona os números das
tarefas que êle deve fazer sozinho na área da oficina. Ao sinal de
término do 1. período de trabalho, êle segue as instruções do segundo
bloco, que mostra o desenho de uma mesa e cadeira, representando o
trabalho individual com o professor. O 3. bloco tem o desenho da área de
recreio. O aluno continua observando o esquema (programa) durante o
dia. Este aluno recebe dinheiro sempre que completar satisfatoriamente
ou tenha executado todas asa tarefas relacionadas ou desenhadas em cada
bloco. Ele gasta seu dinheiro com merenda e. ao final do dia, com
guloseimas ou pequenas surpresas como adesivos, etc.
- Após a chegada, o aluno guarda seus objetos
pessoais e apanha o quadro de horário e atividades que está dependurada
na parede. Cada quadro tem um quadrinho para ser marcado. O aluno e
professor preparam o programa juntos, no final do dia anterior. Ele
verifica qual será sua atividade de 8:30 hs e a completa. Então chama o
professor para conferir seu trabalho e recebe a marcação no quadrinho
indicado. Sua próxima tarefa está prevista para as 8:30 hs. Se houver
tempo livre, êle pode usa-lo tranquilamente na área de lazer. Ele passa o
dia consultando a tabela e o relógio. Ele não recebe OK se não
completar a tarefa no tempo e/ou comportamento indicado. Após receber
certo número de OK’s êle recebe uma estrela no painel no fim do dia.
Quatro estrelas numa semana resultará na escolha da atividade favorita
ao invés de trabalho na tarde de 6a. feira.
Todos estes exemplos mostram o trabalho através da
individualização. Para os alunos que não sabiam ler ou entender as
figuras deve-se usar cores ou objetos para ajudá-los nas atividades
diárias. Alguns programas tem 2 ou 3 atividades a serem completadas em
determinado período de tempo, enquanto outros tem apenas 1 antes do
intervalo ou do reforço. cada esquema individual também reflete a
preferência do aluno pelas atividades com alternância das mais com as
menos agradáveis.
A utilização de programas claros e consistentes
facilitam o funcionamento perfeito da classe e deixa mais tempo para o
ensino e aprendizado em si, ao invés de constantes reorganizações e
planejamentos durante o horário de aula. A medida que os alunos aprendem
a entender e observar os horários êles desenvolvem boa capacidade de
trabalho independente e conseguem seguir instruções, que são muito
importantes para o sucesso em situações futuras(seja de ordem vocacional
ou doméstica). A seguir estão algumas questões que os professores devem
considerar no planejamento da programação da classe ou dos alunos
individualmente.
* A programação está claramente delineada de forma que os professores saibam todas as responsabilidades diárias?
* Há equilíbrio das atividades individuais, em grupos independentes e de lazer, diariamente?
* A programação individual leva em conta as
necessidades do aluno quanto a intervalos, reforço, atividades
indesejadas, seguidas das atividades preferidas?
* O programa ajuda o aluno nas transições onde ir e onde fazer?
* O programa auxilia o aluno a saber onde e quando começar e terminar uma tarefa?
* Como são assinaladas as transições e mudanças de atividade? por sinais? por orientação do professor? pelo relógio de parede?
* A programação é representada de forma facilmente compreendida pelo aluno?
O professor deve sistematizar e organizar os métodos de ensino com a finalidade de ensinar de forma eficaz.
Uma outra maneira de usar a organização para ajudar
os alunos a um desempenho bem sucedido é na montagem das tarefas dos
professores. Aqui também as dificuldades de recepção da linguagem
prejudicam a compreensão dos alunos no que é esperado deles. Instruções
para as tarefas e o uso de dicas e reforços devem ser organizados e
sistematizados a fim de propiciar experiências de sucesso. Isto torna as
situações de aprendizado mais previsíveis (e portanto mais fáceis) e
ajuda-os a superar a distração, a resistência a mudanças e a falta de
motivação. As instruções podem ser dadas verbalmente ou não. Em qualquer
caso as instruções devem ser dadas ao nível de compreensão do aluno. No
caso de instrução verbal, isto significa usar a quantidade mínima de
linguagem necessária. Por exemplo: não invés de "quero que você termine
de colocar todas essas porcas e parafusos juntos e quando terminar você
pode ir para a área de lazer e escolher um brinquedo para brincar" -
"primeiro termine as porcas e parafusos e depois brinque". A segunda
forma de emissão transmite a mesma essência de mensagem. Instruções
verbais também podem ser acompanhadas de gestos, para ajudar a
compreensão. No exemplo anterior, o professor pode apontar para todas as
porcas e parafusos e depois para a área de lazer enquanto dá as
instruções - deve ter a atenção do aluno antes de começar as instruções.
Isto não quer dizer necessariamente ter contato visual. Alguns alunos
podem expressar atenção pela orientação corporal, reação verbal ou pela
paralisação de outras atividades. Ao dar instruções o professor precisa
estar certo que as expectativas e consequências estão organizadas e
claras para o aluno. Se um aluno não sabe onde estão os materiais, como
iniciar a tarefa ou o que fazer quando terminar, então é provável que
êle não execute a tarefa de acordo com a expectativa do professor.
Além de usar gestos, as instruções podem também serem
dadas através de dicas visuais tais como apresentar e posicionar
materiais de forma sistemática, assim como utilizar desenhos e
instruções escritas.
Organizar o trabalho de maneira uniforme da esquerda
para a direita, lhes fornece uma sistemática para completar as tarefas
de forma mais independente sem necessidade de tantas instruções verbais.
O fornecimento de apenas dos materiais que o aluno precisará para as
tarefas específicas será menos confuso para êle. A colocação dos
materiais no ambiente onde serão usados também pode ajuda-lo a seguir as
orientações e a completar as tarefas com maior sucesso, como por
exemplo: colocar limpa vidros, limpadores de pia e de vasos, esponjas,
etc. no banheiro a ser limpo - são pistas de quais tarefas devem ser
executadas e quais materiais usar.
Peças de encaixe (tipo quebra cabeça) e instruções
também podem ajuda-los a se tornar e a permanecerem mais organizados
enquanto trabalham. Os professores podem usar amostras ou figuras de
produtos acabados para mostrar aos alunos o que deve ser feito. Figuras e
instruções escritas (similares a uma receita) podem ser usadas para
ajuda-los a compreenderem uma tarefa na sequencia correta. O professor
deve ter cuidado para não dar dicas que causem distração. Alguns podem
não ser capazes de compreender o método proposto pelas peças de encaixe,
ou mesmo uma figura mais complexa, assim como não ter aprendido ainda a
trabalhar da esquerda para a direita. Tais capacidades devem ser
avaliadas e feito planejamento de treinamento individual da mesma forma
que outras atividades são ensinadas.
Ao ensinar novas tarefas os professores usam dicas
para ajudar os alunos a terem sucesso no que estão aprendendo e fazendo.
Existem tipos diferentes de dicas utilizadas para ajuda-los ou dar-lhes
lembretes. Uma dica física é usada quando o professor guia as mãos do
aluno a levantar a calça após ir ao banheiro. Uma dica verbal é quando
lhe é dito para colocar um guardanapo na sua bandeja de almoço. Dicas
visuais podem incluir formas variadas, por exemplo: as peças de encaixe,
instruções escritas, cartão colorido que o aluno compara a uma caixa de
trabalho para fazer sua própria tarefa. Creme de amendoim escrito em
letras garrafais para chamar a atenção para o vidro. Uma dica pode ser
também um gesto, p. ex.: ao invés de dizer ao aluno para pegar um
guardanapo, o professor aponta para o porta-guardanapo ou para o espaço
vazio na bandeja. Modelagem ou demonstração de como algo é feito também
pode ser uma dica. As dicas podem também ser sobre situações, tais como
"olá" - que é para cumprimentar alguém.
Para se usar dicas de forma eficaz o professor deve
ser sistemático na sua apresentação. Isto quer dizer que a dica deve ser
clara consistente e direcionada ao aluno antes que ele responda
incorretamente, p. ex.: a professora está ensinando ao Charles como
lavar pratos; o primeiro passo escolhido por ela é a quantidade adequada
de detergente e começa a espremê-lo sobre a água; êle espreme muito e
ela diz "não", que é uma dica para alertar Charles; "isto é muito, use
somente um pouco de detergente" - esta forma é ineficaz! Para ser eficaz
a professora poderia começar com uma dica verbal: "somente um pouco de
detergente"; a seguir ela ajuda Charles a espremer o frasco em um
recipiente de medir (pode ser a tampa de refrigerante) e lhe mostra como
espalha-lo na água para fazer espuma; continua assim por 3 dias.
Eventualmente a professora não precisa usar dicas verbais ou físicas e
Charles mede a quantidade certa de detergente por si mesmo usando a
tampa de refrigerante. Uma gama de dicas foi usada para deixar claro a
Charles a quantidade de detergente a ser usada e as dicas lhe foram
dadas antes que ele tivesse a oportunidade de usar a quantidade
incorreta.
Os professores também precisam estar atentos ao
utilizar dicas e pistas quando assim não o desejarem. É muito importante
aqui o posicionamento do professor e do aluno para o aprendizado.
Muitas vezes as resposta corretas podem ser transmitidas aos alunos pelo
simples movimento da cabeça ou olhos do professor a resposta correta.
Alguns alunos não continuarão a trabalhar sem olhar para o professor
após cada etapa, para confirmação ou não de seu desempenho. Em tais
situações o professor pode se posicionar ao lado ou atras do aluno ao
invés de ficar na sua frente - nesta posição menos dicas não
intencionais serão transmitidas
A maior parte das pessoas são motivadas a trabalhar
devido a uma combinação de elogios de outros, satisfação interior e
compensação pecuniária. Os alunos autistas não são automaticamente
motivados por tais coisas. Os professores precisam descobrir quais
coisas os motivam e assim ensiná-los como um sistema de contingências
funciona para êles. P.ex.: um professor descobre que há interesse em
sentir (apalpar) e usar lixa. Os horários podem ser organizados de forma
que êle saiba quando terminar sua tarefa, usando lixas na oficina -
assim espera-se que esta situação propicie motivação para o trabalho.
O reforço pode incluir uma gama de itens ou
atividades. Muitos alunos são motivados por alimentos ou brinquedos que
realmente gostam. Outros podem ser motivados por uma atividade
preferida. Alguns podem ser capazes de ganhar dinheiro, ou fichas
durante o dia e guardá-los para trocar por reforço mais tarde. Todos os
alunos devem receber elogios ou "reforços" sociais. Existem alunos para
os quais o elogio de um adulto ou autoridade pode ser estímulo
suficiente para mantê-lo ocupado, trabalhando e aprendendo. Existe
também alguns alunos que encontrarão satisfação em completar o trabalho e
não precisarão de outros tipos de reforços. Para se usar o reforço como
ferramenta eficaz de ensino o professor deve ser sistemático no seu
uso. O tipo e frequência do reforço, de forma individual, deve ser
planejado antes das atividades - alguns costumam precisar de reforço
constante enquanto outros podem tê-lo de forma intermitente. O tipo de
reforço deve ser adequado e natural a atividade que o aluno está
desenvolvendo e ao nível de compreensão do aluno. P. ex.: se o aluno não
compreende como funciona o sistema de fichas, então não será este um
reforço eficiente/indicado). O professor deve estar seguro que o reforço
segue de imediato o comportamento ou capacitação ensinada ou aumentada,
de forma que o aluno perceba claramente o relacionamento entre os dois.
Não pode haver dúvidas para o aluno o objetivo a ser alcançado. O
professor deve ter condição de determinar se um estímulo é eficaz pela
avaliação do interesse do aluno e na aquisição ou ganho na atividade ou
conduta que está sendo reforçada.
A seguir algumas perguntas que os professores devem considerar ao planejar os métodos de ensino para serem eficazes:
- O professor tem a atenção do aluno antes de serem dadas as instruções?
- A linguagem verbal utilizada é específica para o nível de compreensão dos alunos?
- Os gestos estão acompanhados de instruções
verbais para ajudar o aluno a entender quando êle está com dificuldade
de compreensão?
- O aluno recebe informação suficiente para ser capaz de completar uma tarefa o mais independente possível?
- A disposição e organização dos materiais ajuda a transmitir instruções para os alunos?
- Os materiais são apresentados de maneira organizada?
- Há excesso de materiais apresentados em determinada hora?
- O aluno está recebendo a ajuda que precisa para completar a tarefa com sucesso?
- As dicas escolhidas são específicas ao estilo e nível de aprendizado do aluno?
- As dicas são dadas antes que o aluno responda incorretamente?
- O posicionamento do professor foi estruturado de forma que o aluno não perceba dicas não intencionais?
- O aluno está recebendo "feed-back" claro sobre as respostas ou sôbre seu comportamento (conduta) adequado ou incorreto?
- As consequências e reforços são tornados claros para o aluno? Elas seguem de imediato o comportamento trabalhado?
- O reforço é dado com a necessária frequência?
- os reforços são baseados no nível de compreensão e motivação do aluno?
Para ensinar eficazmente alunos autistas, o
professor deve proporcionar uma organização do método de trabalho,
incluindo a sala-de-aula, de maneira que os alunos entendam onde ficar, o
que fazer e como fazê-lo, de forma mais independente possível.