Participar de um congresso que envolve diferentes profissões que
lutam pela mesma causa só pode ser muito promissor. A ABENEPI
(Associação Brasileira de Neurologia, Psiquiatria Infantil e Profissões
afins) promoveu este encontro, o XXII Congresso Brasileiro e II
Internacional no fim de Maio de 2013 em Belo Horizonte. O autismo foi um
dos temas deste Congresso e foi possível ouvir profissionais renomados
que se dedicam a estudar novos tratamentos, meios para melhorar o
diagnóstico e muitos que se preocupam na identificação precoce de sinais
do autismo, para que seja possível a intervenção igualmente precoce.
Os sintomas das pessoas com diagnóstico de autismo foram bastante
relacionados com aspectos neurológicos, mostrando que eles têm origem no
sistema nervoso. Pesquisas mostram que quando uma pessoa autista olha
um rosto, a região em seu cérebro ativada é a mesma que para pessoas sem
o diagnóstico acende quando veem objetos. A região da amígdala
(cerebral) seria hipoativada, aparecendo aumentada em testes
específicos; encontraram a relação de quanto maior ela é, menor é a
sociabilidade da pessoa – em contrapartida observaram que outras áreas
cerebrais tentam fazer este papel. Outra área hipoativada nesta
população é o giro fusiforme, o que é acessado para reconhecer faces.
Normalmente desde bebês temos relação com as faces e assim nos
especializamos nesta função, as crianças com autismo não – e ainda,
quanto menor a ativação desta região, menor seria a sociabilidade
novamente. Outra região importante é o sulco temporal superior, área
ativada quando percebemos algo como movimento biológico (olhar,
movimento da boca), também hipoativada nos autistas. E ainda a área pré
frontal dorso lateral, que estaria ligada a habilidade de flexibilidade
cognitiva – a qual o autista mostra não dominá-la (sendo inflexível
então) no momento de repetir movimentos/atividades. O giro cingulado
estaria relacionado à atenção social, pois ele que gerencia o movimento
sacádico dos olhos – que também estaria alterado nos autistas.
Foram citados materiais utilizados na avaliação para diagnóstico e
também para rastreio, onde indicaria o risco para o autismo numa criança
com dois anos, por exemplo, mas o que puderam concluir em todas as
conferências, mesas redondas e palestras, foi que com ou sem o
diagnóstico a intervenção deve ser iniciada! A Avaliação é apenas o
começo de todo o processo terapêutico, que envolve não só o sujeito
diagnosticado, como toda sua família, e contexto envolvido.
Foram citadas as mudanças do DSM IV para o 5 (importante documento
diretriz para diagnósticos na área da saúde mental), começando pela
própria grafia, abandonando o número romano. O autismo não é mais
critério de exclusão para o diagnóstico de TDAH (transtorno do déficit
de atenção e hiperatividade), visto que há co-ocorrências destas. E o
diagnóstico do autismo estaria focado agora em duas vertentes, falhas na
interação e comunicação social ; e a presença de padrões restritos e
repetitivos.
A grande novidade para muitas pessoas foi a conferência do Doutor
Caio Abujadi sobre Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) e a
Neuroimagem no Transtorno no Espectro Autista (TEA). Comentou sobre o
fato do cérebro do autista estar sempre ligado, contando a dificuldade
que se tem de se desligar de uma atividade para a outra, dificultando
assim a vigília (o sono) e atrapalhando a sociabilidade. Seriam cérebros
hiperestimulados, que em repouso não descansam. A sociabilidade mais
uma vez comentada, mostrando a importância de conhecermos a
Neurofisiologia, para entendermos a ocorrência dos sintomas do autismo.
Muito foi falado sobre o que diferencia o autismo das outras patologias
psiquiátricas, que seria a tendência ao isolamento, a dificuldade
social, e que por mais que eles pareçam mais sociáveis, eles teriam
momentos que os fazem se distanciar da “nossa” realidade, com imagens
mentais que os distanciam de nós. Momentos em que deveriam estar se
sociabilizando, seus cérebros estariam ativados permitindo sensibilidade
aumentada, exagerada – o que nos apareceria como estereotipias, por
exemplo. E esse cérebro que não desliga a cada nova atividade não
permite que o autista mantenha atenção compartilhada para se
desenvolver.
Nesta mesma palestra Dr. Caio comentou sobre a importância da terapia
cognitivo-comportamental, trabalhando a função executiva, a atenção e
memória, pois ser mais inteligente – mais maduro- implicaria em
movimentos restritos e repetitivos diminuídos – ressaltando que estes
movimentos não somem, eles mudam de aspecto, podendo virar um ritual e
depois interesse específico, como vimos no autista que se especializa em
astronomia, por exemplo. A EMT facilitaria a entrada de íons em regiões
específicas cerebrais excitando ou inibindo elas. No trabalho dele, que
ainda não foi finalizado, tivemos acesso a alguns resultados apenas,
mas pôde mostrar que os autistas que participaram tiveram maios
flexibilidade cognitiva e foi possível novas formações de conceitos. É
um trabalho inicial, feito apenas com autistas do sexo masculino com
diagnóstico de alto funcionamento, e que ainda não foi avaliada a
extensão desses ganhos apresentados.
Mais do que tudo, este Congresso nos deixa mais esperançosos com a
tendência destas relações neurológicas, trazendo a possibilidade de
novos tratamentos não invasivos, e também pela preocupação que tem as
escolas com a inclusão e ainda mais pela precocidade do diagnóstico,
preocupação esta de centros de saúde primaria, começando por algumas
regiões do Brasil. Mas esperamos que se cada participante deste
Congresso puder contar estas novidades para uma pessoa e essa para mais
outra, podemos melhorar a visão do autismo no Brasil e no mundo. Assim
espero fazer com este breve relato de um encontro riquíssimo. E assim
encerro meu relato, com o sub tema deste Congresso: Transformando pelo
Conhecimento.
Autora: Paloma Moreno – Equipe de fonoaudiologia
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