Inclusão de crianças portadoras de autismo na rede de ensino regular é essencial para o desenvolvimento de suas habilidades. Saiba como identificar o autismo infantil e o caminho certo para o desenvolvimento das crianças.
    
    
Texto: Diego Benine/Fotos: Shutterstock, Divulgação/Adaptação: Letícia Maciel
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Inserir o autista  na sala de aula é a melhor forma de estimular as capacidades do portador. 
Foto: Divulgação. 
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A professora entra na sala no primeiro dia letivo na escolinha e a 
criançada, cheia de energia, conversa e brinca para aliviar as 
expectativas. A única exceção é um garotinho sentado na primeira 
fileira: calado, permanece o tempo todo com os olhos fixos em um ponto 
indetectável pelos colegas de classe. Até que, durante a aula, ele 
repentinamente se levanta e começa a passear pelo recinto. Ao tentar 
levá-lo para a carteira onde ele estava sentado, a professora é 
surpreendida com gritos, arranhões e pontapés. Em seguida, o silêncio. O
 menino fecha-se novamente em seu universo particular. Esse tipo de 
comportamento é comum em portadores de autismo e acaba escondendo suas habilidades criativas e intelectuais —
 as quais podem ser desenvolvidas com acompanhamento adequado e vivência
 escolar. Contudo, as reações aparentemente desconexas representam 
também uma das muitas dificuldades que os educadores, pais e familiares
 encontram para inserir o autista na sala de aula. Quando bem-sucedida, a
 inclusão escolar traz benefícios à criança e às pessoas que convivem 
com ela
Cuidados com os filhos
Mais informação, melhor inclusão
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“Inserir o autista na sala de aula é a melhor forma de estimular 
as capacidades do portador. Além disso, as outras crianças da turma 
aprendem a lidar com as diferenças e tornam-se adultos com menos 
preconceitos”, explica César de Moraes, coordenador do Departamento
 de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Associação Brasileira de 
Psiquiatria (ABP). “Devemos lembrar também o que é definido na 
Constituição: todo cidadão tem direito à saúde e educação. Partindo 
dessa premissa, o autista é um cidadão e o processo educacional é o 
mesmo”, completa Fábio Oliveira, da Associação Brasileira de 
Assistência e Desenvolvimento Social (Abads). Para contribuir 
efetivamente com esse processo, é preciso entender o que, de fato, é o autismo.
 De acordo com Francisco Baptista Assumpção Júnior, professor da 
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), trata-se de 
um transtorno de desenvolvimento de base biológica que 
compromete a cognição (habilidade ligada ao aprendizado, memória, 
percepção, entre outros atributos) e provoca alterações na sociabilidade, na linguagem e na capacidade imaginativa do indivíduo. Sua causa ainda é um mistério. “Acredita-se que fatores genéticos estão envolvidos, embora aspectos ambientais como quadros infecciosos ou traumáticos
 — também podem estar relacionados. Assim, não se deve pensar em uma 
causa única, mas sim em um conjunto delas, o qual ainda, infelizmente, 
não foi esclarecido.”
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Alterações na linguagem e na capacidade  
imaginativa são sinais de autismo. Foto: Shutterstock.  | 
O autismo possui graus de intensidade. Segundo o médico, quadros mais severos normalmente são acompanhados de total isolamento e mutismo , quando o indivíduo não fala ou de linguagem e movimentos estereotipados intensos. “É
 diferente dos casos mais leves. Nestes, as alterações no falar são 
sutis e envolvem, muitas vezes, uma linguagem pedante ou a criação de 
neologismos (inventar palavras)”, afirma Francisco. O psiquiatra César enfatiza que essa condição não deve ser confundida com retardo mental. “De
 forma alguma podemos afirmar que são a mesma coisa. Apesar da maioria 
dos indivíduos autistas apresentarem o retardo associado, por volta de 
um quinto deles possui um nível intelectual normal”, afirma. Sabe-se também que algumas crianças que possuem o distúrbio apresentam habilidades extraordinárias, como memória fotográfica, aptidão para realizar cálculos matemáticos complexos ou afinidade com instrumentos musicais.
E as escolas, como vão?
Segundo Fábio, a inclusão só acontece quando a família
 mapeia detalhadamente todos esses sintomas e informa a instituição de 
ensino a respeito deles. Esta, por sua vez, deve contar com as metodologias adequadas para
 ajudar a criança a suprir suas deficiências. Entretanto, o desafio não 
está somente nas características do autista ou no diálogo entre família e
 educador. A viabilização financeira dos métodos especializados de 
ensino também é um problema. “Por meio deles, é possível reduzir a 
incidência de comportamentos inadequados e ajudar o autista na 
organização do seu dia a dia, bem como na tarefa de se comunicar com os 
outros e de ingressar em qualquer espaço. No entanto, são metodologias 
caras  e  de serem implantadas. Além de ser necessário profissionais 
qualificados, o que ainda é um pequeno número no pais”, ressalta. Em dezembro de 2012, foi sancionada a lei que classifica o autista como deficiente. Ela não apenas garante proteção aos direitos do portador,
 como também torna sujeito à punição gestores escolares que se recusarem
 a matricular indivíduos com suspeita ou diagnóstico de autismo. Para o 
pedagogo, isso representa mais do que um conjunto de benefícios legais: “Daqui
 cinco anos, mais ou menos, o Brasil saberá muito mais sobre o assunto. 
Será algo normatizado e bastante conhecido. Todas as escolas já terão as
 metodologias, o número de profissionais especializados crescerá e o 
portador será incluso, deixando de ser um mero ouvinte para tornar-se 
participante.”


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