Ter
 um filho é um ótimo exercício de abnegação. É quando começamos a 
entender melhor que o mundo não gira em torno do nosso umbigo. Que as 
coisas não acontecem, sempre, exatamente da forma como planejamos. E que
 não somos donas do tempo.
Essa coisa
 de perder o controle do tempo (e das horas) foi muito palpável pra mim.
 Sim, porque, antes do Theo, eu dormia até tarde. Depois dele, passei a 
dormir quando ele deixava. E assim acontece com todo o seu cronograma: 
você não almoça mais quando dá fome…você almoça cedo, porque criança 
almoça cedo. 
E a falta 
de controle sobre o tempo te vem à cabeça cada vez que um sapatinho não 
cabe mais no pé daquele bebê…ou quando percebe que a camiseta está é 
engraçada, expondo o barrigão da criança. E, também, quando você nota 
que o seu cabelo está horrível, e que esqueceu de marcar o cabeleireiro 
porque tinha outras coisas mais importantes pra lidar. 
Mas mãe 
não desiste nunca! Sempre há um cronograma extra na cabeça: o bebê deve 
sentar com 6 meses, falar as primeiras palavrinhas até 1 ano, andar até 1
 ano e meio, e deve estar juntando 2 palavrinhas aos 2…
Daí, você 
descobre que seu filho é autista. E que pode jogar esses cronogramas, 
também, no lixo. Porque é certo que você vai fazer a sua parte, buscar 
terapias, estimular seu filho e trabalhar seus pontos que precisam de 
desenvolvimento. Mas, no final, quem decide quando ele vai fazer cada 
coisa não é você. Nem tampouco o cronograma médico. Haja coração!
Theo não 
apontou com 1 aninho, que é o que as crianças, normalmente, fazem. 
Começamos as terapias assim que ele teve o diagnóstico, aos 2 anos. E 
éramos orientados a segurar a mãozinha dele e fazê-lo apontar para o que
 queria. Era difícil, cansativo, frustrante. Cheguei mesmo a pensar que 
ele nunca faria isso sozinho. E, de repente, depois de um ano de treino,
 ele começou a apontar pra tudo, frenético, lindo!
Theo 
também não bateu palminhas em seu primeiro aniversário. Ele aprendeu a 
fazer isso aos nove meses mas, por algum mistério do autismo, 
desaprendeu. Ficamos alguns anos trabalhando isso, até que ele voltou a 
bater palminhas aos 4 anos. E também a dar “tchau”. E tantas outras 
coisas que eu nem sei enumerar.
Algumas 
pessoas me perguntam se o Theo vai ler. Eu sempre falo “vai, porque ele é
 inteligente e tem a capacidade. Quando? Não sei. Não me preocupo com 
isso. Vou trabalhar para que isso aconteça, mas não tenho um prazo na 
minha cabeça”. 
De certa 
forma, Theo é privilegiado: não tenho um prazo para que ele conclua o 
primário, o ensino médio, para que ele entre na faculdade, namore, case,
 tenha filhos. Essa pressão, ele nunca vai sofrer.
Aprendi, 
com ele, a viver um dia de cada vez. A curtir cada avanço, saboreando 
aos pedacinhos, devagar. A esperar e trabalhar pelo melhor, porque 
acredito na capacidade de superação do meu filho. Ele vai alcançar 
muitas coisas, mas no tempo dele.
Afinal, 
melhor que ficar sofrendo pelo futuro, que é incerto, é curtir o 
presente, que está aqui. Aliás, está aqui agorinha mesmo, tentando 
fechar meu computador, me abraçando e beijando. 
Andréa Werner (http://www.lagartavirapupa.com.br)
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