Escrito por 
      Maria Fernanda Beduschi
     
Foto: Reprodução. Em
 relação ao autismo, diferentemente das teorias cognitivistas, a 
psicanálise se preocupa em encontrar o sujeito, que se apresenta através
 do quadro autístico. A preocupação não é com a performance, com as 
capacidades em se adaptar à demanda do Outro. Isso é uma consequência.O foco é o sujeito. O analista deve encontrar em si o seu lado mais "autista" para poder resgatar o sujeito emergente no a...utismo. O autismo é a "reticência", os três pontinhos, o real, o sem palavras frente à demanda e o desejo do Outro.
    Na clinica do autismo, num primeiro momento, trata-se de "inventar 
um sujeito" e isso é muito mais do que adaptar o autista as demandas 
sociais! Isso é dar um lugar de existência ao sujeito, para além do 
autismo.
Logo
 que cheguei na França, comecei a trabalhar com crianças autistas. Eu 
mal sabia falar francês e iniciei um estágio de duas semanas de férias 
no sul da França com oito crianças autistas e psicóticas, dois outros 
estagiários e uma coordenadora. Dentre os desafios enfrentados, teria 
que dirigir mais 500 km, num país estrangeiro, recém-chegada, sem 
compreender muita coisa e com dificuldades imensas para me expressar.
Descobri com essa aventura que existem outras maneiras de escutar, que vai além do significado das palavras. Percebi à posteriori que essa dificuldade com a lingua era uma vantagem nessa situação. Me perdendo um pouco nessa ausência de sentido, pude escutar cada uma daquelas crianças para além do autismo ou da psicose.
Aprendi que a maior qualidade de um analista é a capacidade de amar. Amar primeiro, para poder despertar a capacidade de amar em seus analisandos. Amar primeiro, para acolher a demanda, para ser suporte de transferência, para escutar para além dos sentidos, para não julgar, para não querer fazer o bem ao paciente. Porque fazer o bem, é tão ruim como querer o mal ao paciente.
A cura analítica não busca o bem do paciente, busca a verdade do sujeito, o seu desejo, para além do sentido lógico da compreenção. Essa foi a primeira grande lição, de muitas outras que seguiram nesse meu percurso de estrangeira em busca de mim mesma, sustentando o meu desejo de me tornar analista.
   
Descobri com essa aventura que existem outras maneiras de escutar, que vai além do significado das palavras. Percebi à posteriori que essa dificuldade com a lingua era uma vantagem nessa situação. Me perdendo um pouco nessa ausência de sentido, pude escutar cada uma daquelas crianças para além do autismo ou da psicose.
Aprendi que a maior qualidade de um analista é a capacidade de amar. Amar primeiro, para poder despertar a capacidade de amar em seus analisandos. Amar primeiro, para acolher a demanda, para ser suporte de transferência, para escutar para além dos sentidos, para não julgar, para não querer fazer o bem ao paciente. Porque fazer o bem, é tão ruim como querer o mal ao paciente.
A cura analítica não busca o bem do paciente, busca a verdade do sujeito, o seu desejo, para além do sentido lógico da compreenção. Essa foi a primeira grande lição, de muitas outras que seguiram nesse meu percurso de estrangeira em busca de mim mesma, sustentando o meu desejo de me tornar analista.

Maria Fernanda Beduschi
Maria
 Fernanda é blumenauense, psicanalista e morou os últimos seis anos na 
França, onde fez mestrado em psicoses e estados limites, iniciando um 
doutorado na mesma área.
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