Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano (CEGH)
deram importantes passos para desvendar o mecanismo genético do
transtorno do espectro autista – como é classificado atualmente o
autismo.
Eles identificaram mais um dos diversos genes relacionados ao
distúrbio comportamental, além de uma desordem genética que pode dar
pistas para explicar a dificuldade que os autistas têm em interagir
socialmente. Ligado ao Instituto de Biociências da Universidade de São
Paulo (USP), o CEGH é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.
Os resultados da pesquisa foram apresentados na Escola São Paulo de Ciência Avançada:Avanços na Pesquisa e no Tratamento do Comportamento Autista, realizada no início de janeiro na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
O evento, realizado no âmbito da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), modalidade de apoio
da FAPESP, foi organizado pelo professor Celso Goyos, do Departamento
de Psicologia da UFSCar, em parceria com Caio Miguel, da Universidade do
Estado da Califórnia, e Thomas Higbee, da Universidade do Estado de
Utah, nos Estados Unidos.
Ao estudar, nos últimos três anos, os cromossomos de cerca de 200 pacientes com autismo atendidos no CEGH, os pesquisadores brasileiros
identificaram em três deles uma alteração cromossômica do tipo
translocação equilibrada, isto é, a troca entre segmentos cromossômicos
sem aparente perda do material genético.
Em um dos três pacientes, observou-se que essa translocação
genética provocou o rompimento de um gene, chamado TRPC-6, que atua em
um canal de cálcio no cérebro, controlando o funcionamento dos neurônios, em particular, das sinapses neuronais – a comunicação entre os neurônios.
“Imaginamos que, por causa desse desequilíbrio no rearranjo
cromossômico dos pacientes com autismo, ele tenha uma menor quantidade
dessa proteína TRPC-6, o que faz com que menos cálcio vá para os
neurônios”, disse Maria Rita dos Santos e Passos-Bueno, pesquisadora do
Centro de Estudos de Genoma Humano da USP, à Agência FAPESP.
“O resultado final dessa alteração genética é um neurônio menos ramificado, que realiza menos sinapses [comunicação entre neurônios]”, explicou.
De acordo com a cientista, essa translocação genética, em que metade
do gene TRPC-6, localizado no cromossomo 11, migrou para o 3,
aniquilando sua função, é muita rara e dificilmente é encontrada em
outros pacientes com autismo.
Porém, a via de sinalização celular comprometida pela mutação de um
gene relacionado ao autismo, como a observada no paciente atendido, pode
ser comum a outras pessoas afetadas pelo distúrbio neurológico. “Em
outros pacientes com autismo, a mutação pode estar em outro gene desta
mesma via de sinalização celular”, indicou.
Tratamento personalizado
Segundo Passos-Bueno, alguns dos principais avanços no estudo do
autismo nos últimos quatro anos foi a constatação de que o distúrbio
neurológico está relacionado a mutações específicas em um ou dois genes,
que variam de um paciente para ou outro.
Os desafios para os próximos anos serão estudar as vias de
sinalização celular envolvidas pelos genes relacionados ao autismo para
que se possa tentar desenvolver alternativas de tratamento.
“Precisamos investigar se os genes relacionados ao autismo de cada
paciente estão envolvidos com uma ou mais vias de sinalização celular.
Se estiverem envolvidos com várias vias de sinalização, será preciso
desenvolver quase que uma droga por paciente. Será um tratamento
personalizado”, disse.
Outro desafio a ser superado será entender o funcionamento dos genes
possivelmente relacionados ao autismo identificados por seu grupo no
Centro de Estudos do Genoma Humano para testar o quão semelhantes são
entre eles.
Para isso, o grupo utiliza a tecnologia de iPS, que possibilita que
células-tronco da polpa de dente de pacientes autistas sejam induzidas a
se tornarem pluripotentes, derivando-se em células de todos os tipos,
como neurônios.
Por meio de uma colaboração iniciada na pesquisa sobre o gene TRPC-6
com o brasileiro Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia em San
Diego, o grupo de pesquisa passou a dominar a técnica e a implantou no
CEGH para dar continuidade ao projeto.
Os pesquisadores do centro também pretendem utilizar outros modelos
mais simples para estudar o funcionamento dos genes relacionados ao
autismo, como em drosófilas e peixe-zebra (Danio renio), antes de partir para modelos mais complexos, como camundongos ou a própria iPS.
“A vantagem desses modelos mais simples é a possibilidade de testar
combinações de vários genes e realizar mais de uma mutação para analisar
sua relação com o funcionamento neuronal a um custo relativamente mais
baixo do que a iPS e o modelos utilizados”, disse Passos-Bueno.
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