domingo, 9 de junho de 2013

O que há de novo para pensarmos sobre o AUTISMO?


Participar de um congresso que envolve diferentes profissões que lutam pela mesma causa só pode ser muito promissor. A ABENEPI (Associação Brasileira de Neurologia, Psiquiatria Infantil e Profissões afins) promoveu este encontro, o XXII Congresso Brasileiro e II Internacional no fim de Maio de 2013 em Belo Horizonte. O autismo foi um dos temas deste Congresso e foi possível ouvir profissionais renomados que se dedicam a estudar novos tratamentos, meios para melhorar o diagnóstico e muitos que se preocupam na identificação precoce de sinais do autismo, para que seja possível a intervenção igualmente precoce.
Os sintomas das pessoas com diagnóstico de autismo foram bastante relacionados com aspectos neurológicos, mostrando que eles têm origem no sistema nervoso. Pesquisas mostram que quando uma pessoa autista olha um rosto, a região em seu cérebro ativada é a mesma que para pessoas sem o diagnóstico acende quando veem objetos. A região da amígdala (cerebral) seria hipoativada, aparecendo aumentada em testes específicos; encontraram a relação de quanto maior ela é, menor é a sociabilidade da pessoa – em contrapartida observaram que outras áreas cerebrais tentam fazer este papel. Outra área hipoativada nesta população é o giro fusiforme, o que é acessado para reconhecer faces. Normalmente desde bebês temos relação com as faces e assim nos especializamos nesta função, as crianças com autismo não – e ainda, quanto menor a ativação desta região, menor seria a sociabilidade novamente. Outra região importante é o sulco temporal superior, área ativada quando percebemos algo como movimento biológico (olhar, movimento da boca), também hipoativada nos autistas. E ainda a área pré frontal dorso lateral, que estaria ligada a habilidade de flexibilidade cognitiva – a qual o autista mostra não dominá-la (sendo inflexível então) no momento de repetir movimentos/atividades. O giro cingulado estaria relacionado à atenção social, pois ele que gerencia o movimento sacádico dos olhos – que também estaria alterado nos autistas.
Foram citados materiais utilizados na avaliação para diagnóstico e também para rastreio, onde indicaria o risco para o autismo numa criança com dois anos, por exemplo, mas o que puderam concluir em todas as conferências, mesas redondas e palestras, foi que com ou sem o diagnóstico a intervenção deve ser iniciada! A Avaliação é apenas o começo de todo o processo terapêutico, que envolve não só o sujeito diagnosticado, como toda sua família, e contexto envolvido.
Foram citadas as mudanças do DSM IV para o 5 (importante documento diretriz para diagnósticos na área da saúde mental), começando pela própria grafia, abandonando o número romano. O autismo não é mais critério de exclusão para o diagnóstico de TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), visto que há co-ocorrências destas. E o diagnóstico do autismo estaria focado agora em duas vertentes, falhas na interação e comunicação social ; e a presença de padrões restritos e repetitivos.
A grande novidade para muitas pessoas foi a conferência do Doutor Caio Abujadi sobre Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) e a Neuroimagem no Transtorno no Espectro Autista (TEA). Comentou sobre o fato do cérebro do autista estar sempre ligado, contando a dificuldade que se tem de se desligar de uma atividade para a outra, dificultando assim a vigília (o sono) e atrapalhando a sociabilidade. Seriam cérebros hiperestimulados, que em repouso não descansam. A sociabilidade mais uma vez comentada, mostrando a importância de conhecermos a Neurofisiologia, para entendermos a ocorrência dos sintomas do autismo. Muito foi falado sobre o que diferencia o autismo das outras patologias psiquiátricas, que seria a tendência ao isolamento, a dificuldade social, e que por mais que eles pareçam mais sociáveis, eles teriam momentos que os fazem se distanciar da “nossa” realidade, com imagens mentais que os distanciam de nós. Momentos em que deveriam estar se sociabilizando, seus cérebros estariam ativados permitindo sensibilidade aumentada, exagerada – o que nos apareceria como estereotipias, por exemplo. E esse cérebro que não desliga a cada nova atividade não permite que o autista mantenha atenção compartilhada para se desenvolver.
Nesta mesma palestra Dr. Caio comentou sobre a importância da terapia cognitivo-comportamental, trabalhando a função executiva, a atenção e memória, pois ser mais inteligente – mais maduro- implicaria em movimentos restritos e repetitivos diminuídos – ressaltando que estes movimentos não somem, eles mudam de aspecto, podendo virar um ritual e depois interesse específico, como vimos no autista que se especializa em astronomia, por exemplo. A EMT facilitaria a entrada de íons em regiões específicas cerebrais excitando ou inibindo elas. No trabalho dele, que ainda não foi finalizado, tivemos acesso a alguns resultados apenas, mas pôde mostrar que os autistas que participaram tiveram maios flexibilidade cognitiva e foi possível novas formações de conceitos. É um trabalho inicial, feito apenas com autistas do sexo masculino com diagnóstico de alto funcionamento, e que ainda não foi avaliada a extensão desses ganhos apresentados.
Mais do que tudo, este Congresso nos deixa mais esperançosos com a tendência destas relações neurológicas, trazendo a possibilidade de novos tratamentos não invasivos, e também pela preocupação que tem as escolas com a inclusão e ainda mais pela precocidade do diagnóstico, preocupação esta de centros de saúde primaria, começando por algumas regiões do Brasil. Mas esperamos que se cada participante deste Congresso puder contar estas novidades para uma pessoa e essa para mais outra, podemos melhorar a visão do autismo no Brasil e no mundo. Assim espero fazer com este breve relato de um encontro riquíssimo. E assim encerro meu relato, com o sub tema deste Congresso: Transformando pelo Conhecimento.

Autora: Paloma Moreno – Equipe de fonoaudiologia

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