segunda-feira, 3 de junho de 2013

A maternidade, o autismo e o tempo

Ter um filho é um ótimo exercício de abnegação. É quando começamos a entender melhor que o mundo não gira em torno do nosso umbigo. Que as coisas não acontecem, sempre, exatamente da forma como planejamos. E que não somos donas do tempo.
Essa coisa de perder o controle do tempo (e das horas) foi muito palpável pra mim. Sim, porque, antes do Theo, eu dormia até tarde. Depois dele, passei a dormir quando ele deixava. E assim acontece com todo o seu cronograma: você não almoça mais quando dá fome…você almoça cedo, porque criança almoça cedo. 
 
E a falta de controle sobre o tempo te vem à cabeça cada vez que um sapatinho não cabe mais no pé daquele bebê…ou quando percebe que a camiseta está é engraçada, expondo o barrigão da criança. E, também, quando você nota que o seu cabelo está horrível, e que esqueceu de marcar o cabeleireiro porque tinha outras coisas mais importantes pra lidar. 
 
Mas mãe não desiste nunca! Sempre há um cronograma extra na cabeça: o bebê deve sentar com 6 meses, falar as primeiras palavrinhas até 1 ano, andar até 1 ano e meio, e deve estar juntando 2 palavrinhas aos 2…
 
Daí, você descobre que seu filho é autista. E que pode jogar esses cronogramas, também, no lixo. Porque é certo que você vai fazer a sua parte, buscar terapias, estimular seu filho e trabalhar seus pontos que precisam de desenvolvimento. Mas, no final, quem decide quando ele vai fazer cada coisa não é você. Nem tampouco o cronograma médico. Haja coração!
 
Theo não apontou com 1 aninho, que é o que as crianças, normalmente, fazem. Começamos as terapias assim que ele teve o diagnóstico, aos 2 anos. E éramos orientados a segurar a mãozinha dele e fazê-lo apontar para o que queria. Era difícil, cansativo, frustrante. Cheguei mesmo a pensar que ele nunca faria isso sozinho. E, de repente, depois de um ano de treino, ele começou a apontar pra tudo, frenético, lindo!
 
Theo também não bateu palminhas em seu primeiro aniversário. Ele aprendeu a fazer isso aos nove meses mas, por algum mistério do autismo, desaprendeu. Ficamos alguns anos trabalhando isso, até que ele voltou a bater palminhas aos 4 anos. E também a dar “tchau”. E tantas outras coisas que eu nem sei enumerar.
 
Algumas pessoas me perguntam se o Theo vai ler. Eu sempre falo “vai, porque ele é inteligente e tem a capacidade. Quando? Não sei. Não me preocupo com isso. Vou trabalhar para que isso aconteça, mas não tenho um prazo na minha cabeça”. 
 
De certa forma, Theo é privilegiado: não tenho um prazo para que ele conclua o primário, o ensino médio, para que ele entre na faculdade, namore, case, tenha filhos. Essa pressão, ele nunca vai sofrer.
 
Aprendi, com ele, a viver um dia de cada vez. A curtir cada avanço, saboreando aos pedacinhos, devagar. A esperar e trabalhar pelo melhor, porque acredito na capacidade de superação do meu filho. Ele vai alcançar muitas coisas, mas no tempo dele.
 
Afinal, melhor que ficar sofrendo pelo futuro, que é incerto, é curtir o presente, que está aqui. Aliás, está aqui agorinha mesmo, tentando fechar meu computador, me abraçando e beijando. 
:D
 

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