Em 1943, o autismo foi conceituado pela
                  primeira vez por Leo Kanner, como uma doença da linha
                  das psicoses, caracterizada por isolamento extremo, alterações
                  de linguagem representadas pela ausência de finalidade
                  comunicativa, rituais do tipo obsessivo com tendência a
                  mesmice e movimentos estereotipados. Nessa abordagem, a doença
                  tinha suas origens em problemas das primeiras relações
                  afetivas entre mãe e filho, que comprometiam o contato
                  social, idéia extremamente difundida até meados
                  dos anos 70. Hoje, essa doença é definida como
                  um conjunto de sintomas de base orgânica, com implicações
                  neurológicas e genéticas. Atualmente, o autismo é
                  uma área de intenso interesse, em que diferentes
                  estudos se estabelecem e promovem desde alterações
                  conceituais até modificações terapêuticas
                  de fundamental importância. 
O autismo é descrito
                  como uma síndrome comportamental com causas múltiplas,
                  decorrente de um distúrbio de desenvolvimento. É
                  caracterizado por déficit na interação
                  social, ou seja, inabilidade para se relacionar com o outro,
                  usualmente combinado com déficit de linguagem e alterações
                  de comportamento. Os sinais e sintomas aparecem antes dos 3
                  anos de idade e, em cada 10.000 crianças, de quatro a
                  cinco apresentam a doença, com predomínio em
                  indivíduos do sexo masculino (3:1 ou 4:1).
Quais são as
                  causas do autismo? As causas
                  do autismo são desconhecidas mas diversas doenças
                  neurológicas e/ou genéticas foram descritas com
                  sintomas do autismo. Problemas cromossômicos, gênicos,
                  metabólicos e mesmo doenças
                  transmitidas/adquiridas durante a gestação,
                  durante ou após o parto, podem estar associados
                  diretamente ao autismo. Entre 75 a 80% das crianças
                  autistas apresentam algum grau de retardo mental, que pode
                  estar relacionado aos mais diversos fatores biológicos.
                  Portanto, a evidência de que o autismo tem suas causas
                  em fatores biológicos é indiscutível,
                  fazendo-nos reconsiderar a idéia inicial de ligarmos o
                  quadro de autismo a alterações nas primeiras
                  relações mãe-filho. 
Podemos listar uma série grande de doenças
                  das mais diferentes ordens envolvidas nos quadros autísticos:
                
- Infecções pré-natais - rubéola congênita, sífilis congênita, toxoplasmose, citomegaloviroses;
 - Hipóxia neo-natal (deficiência de oxigênio no cérebro durante o parto);
 - Infecções pós-natais - herpes simplex;
 - Déficits sensoriais - dificuldade visual (degeneração de retina) ou diminuição da audição (hipoacusia) intensa;
 - Espasmos infantis - Síndrome de West;
 - Doenças degenerativas - Doença de Tay-Sachs;
 - Doenças gênicas - fenilcetonúria, esclerose tuberosa, neurofibromatose, Síndromes de Cornélia De Lange, Willians, Moebius, Mucopolissacaridoses, Zunich;
 - Alterações cromossômicas - Síndrome de Down ou Síndrome do X frágil (a mais importante das doenças genéticas associadas ao autismo), bem como alterações estruturais expressas por deleções, translocações, cromossomas em anel e outras;
 - Intoxicações diversas.
 
A criança autista prefere o isolamento. O autismo é
                  caracterizado por diversos distúrbios: 
- de percepção, como por exemplo dificuldades para entender o que ouve;
 - de desenvolvimento, principalmente nas esferas motoras, da linguagem e social;
 - de relacionamento social, expresso principalmente através do olhar, da ausência do sorriso social, do movimento antecipatório e do contato físico;
 - de fala e de linguagem que variam do mutismo total: à inversão pronominal (utilização do você para referir-se a si próprio), repetição involuntária de palavras ou frases que ouviu (ecocalia); e
 - movimento caracterizado por maneirismos e movimentos estereotipados.
 
 Hoje, o tratamento do autismo não se prende a uma única
                  terapêutica. O uso de medicamentos, que antes
                  desempenhava um papel de fundamental importância no
                  tratamento (devido à crença da relação
                  do autismo com os quadros psicóticos do adulto), passa
                  a ter a função de apenas aliviar os sintomas do
                  autista para que outras abordagens, como a reabilitação
                  e a educação especial, possam ser adotadas e
                  tenham resultados eficazes. 
 As principais drogas que podem ser utilizadas no tratamento
                  são:
- Os neurolépticos, utilizados para reduzir os sintomas do austismo. Têm uma resposta geral boa e conseqüente melhoria do aprendizado, embora possa apresentar efeitos colaterais como sedação excessiva, reações distônicas (rigidez mulcular), discinesia (alteração do movimento muscular) e efeitos parkinsonianos (tremor);
 - As anfetaminas, utilizadas na tentativa de diminuir a hiperatividade e melhorar a atenção, mas têm como efeitos colaterais o aparecimento de excitação motora, a irritabilidade e a diminuição do apetite;
 - Os Anti-opióides, utilizados no tratamento de dependência a drogas, têm sua ação principalmente em quadros de auto-agressividade. Provoca tranquilização, diminuição da hiperatividade, da impulsividade, da repetição persistente de atos, palavras ou frases sem sentido (estereotipias) e da agressividade, causando como efeito colateral a hipoatividade.
 
A utilização de complexos vitamínicos
                  como a Vitamina B6 associada ao Aspartato de Magnésio,
                  bem como o uso de Ácido Fólico, embora descritos
                  por diversos autores, apresenta aspectos e resultados
                  conflitantes. 
 A propostas de reabilitação substituem os
                  modelos psicoterápicos de base analítica das décadas
                  de 50 e 60, quando a doença era considerada uma conseqüência
                  de distúrbio afetivo. Esses modelos de reabilitação
                  podem então ser caracterizados como: · 
- Modificação de comportamento;
 - Terapia de "Holding";
 - Aproximação direta do paciente;
 - Comunicação facilitada; ·
 - Técnicas de integração sensorial; e
 - Treino auditivo.
 
 Dentre os modelos educacionais para o autista, o mais
                  importante, neste momento, é o método TEACCH,
                  desenvolvido pela Universidade da Carolina do Norte e que tem
                  como postulados básicos de sua filosofia: 
- a) propiciar o desenvolvimento adequado e compatível com as potencialidades e a faixa etária do paciente;
 - b) funcionalidade (aquisição de habilidades que tenham função prática);
 - c) independência (desenvolvimento de capacidades que permitam maior autonomia possível);
 - d) integração de prioridades entre família e programa, ou seja, objetivos a serem alcançados devem ser únicos e a estratégias adotadas devem ser uniformes.
 
Dentro desse modelo, é estabelecido um plano terapêutico
                  individual, onde é definida uma programação
                  diária para a criança autista. O aprendizado
                  parte de objetos concretos e passa gradativamente para modelos
                  representacionais e simbólicos, de acordo com as
                  possibilidades do paciente. 
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