Tradução e resumo: Raquel Guimarães Del Monde
raquel@pcmconsultoria.com.br
Capítulo 1: Diagnóstico
Descrita
inicialmente em 1944 pelo pediatra vienense Hans Asperger como forma de
desordem da personalidade, com reconhecimento internacional na década de 90, a Síndrome de Asperger
refere-se a crianças aparentemente normais, com habilidade intelectual normal,
mas que não parecem capazes de entender as outras pessoas num nível esperado
para sua idade.
Características
clínicas principais:
- Falta de empatia
- Interação social imprópria, falta de reciprocidade, ingenuidade.
- Pouca habilidade para fazer amigos
- Fala repetitiva ou pedante
- Pobre comunicação não verbal
- Interesse intenso em certos assuntos
- Pobre coordenação motora
Diagnóstico:
- Uso de escalas padronizadas.
- Avaliação dos aspectos específicos das habilidades sociais, cognitivas, de linguagem, de movimentos e também aspectos qualitativos dos interesses da criança. Inclui uso dos testes psicológicos usuais, história do desenvolvimento e comportamento, observação dos professores e exclusão de diagnósticos diferenciais.
Média da idade
do diagnóstico: 8 anos.
Caminhos para
o diagnóstico:
- Diagnóstico de autismo nos primeiros anos de vida.
- Primeiro ano da escola.
- Expressão atípica de outra síndrome.
- Diagnóstico de outro membro da família.
- Desordem psiquiátrica secundária.
- Adulto com características residuais de Asperger.
Capítulo 2 : Comportamento Social
A pessoa com Asperger é vista por outras pessoas como sendo diferente
devido ao seu comportamento social incomum.
Critérios diagnósticos:
Gillberg
(1989): Falta de habilidade para interagir com outras crianças
Falta de interesse
de interagir
Pouca compreensão
dos sinais sociais
Comportamento
socialmente e emocionalmente impróprio.
Critérios de comunicação não verbal que interferem no comportamento
social:
·
Uso limitado de gestos
·
Linguagem corporal desajeitada
·
Expressão facial limitada
·
Expressão imprópria
·
Olhar parado, peculiar
Outros (Szatmari,1989): não perceber sentimentos dos outros.
Brincando com outras crianças:
·
Preferência de ficar sozinha ou com adulto
·
Não se vê como parte do grupo
·
Indiferença as pressões do grupo
Códigos de conduta
·
Não parece conhecer as regras informais da
conduta social: pode dizer ou fazer coisas que ofendem ou incomodam outras
pessoas
·
Rigidez com as regras que conhece
·
Impulsiva, age sem avaliar as conseqüências.
Técnica das histórias sociais:
usada para capacitar a criança a entender situações específicas em que
apresenta comportamento inadequado. Cria-se uma história onde a situação é
descrita, destacando-se os aspectos sociais, as ações esperadas e informando o
que está acontecendo e por que.
Utiliza-se quatro tipos de sentenças:
- Descritivas: descrevem objetivamente onde a situação ocorre, quem está envolvido, o que estão fazendo e por que.
- Perspectivas: descrevem e explicam as reações e sentimentos das outras pessoas.
- Diretivas: dizem o que é esperado que a criança faça ou diga.
- Controle: desenvolvem estratégias para ajudar a pessoa a lembrar o que fazer ou como entender a situação. Podem ser sugeridas pela criança e incluir seu interesse especial.
Deve haver um equilíbrio nos tipos de sentenças com 2 a 5 sentenças descritivas e
perspectivas para cada sentença diretiva e/ou de controle. Deve ser escrita na
primeira pessoa do singular e no tempo presente.
Programas para Comportamento
Social Adequado
1. Pais: modelar o
comportamento da criança, mostrando-lhe o que fazer ou dizer em situações
comuns do dia a dia, tais como:
·
Começar, participar e terminar uma brincadeira.
·
Flexibilidade e cooperação.
·
Explicar o que deveria ter dito ou feito em uma
situação onde agiu inadequadamente.
·
Convidar um amigo para brincar.
·
Estimular atividades em grupo supervisionadas.
2. Professores: a sala de
aula oferece muitas oportunidades para aprender comportamento adequado. Algumas
estratégias:
·
Use as outras crianças como modelos: quando a
criança estiver tendo comportamento inadequado, lembre de pedir para que
observe as outras crianças e copie o que estão fazendo.
·
Encorage atividades de cooperação quando houver
tarefas que possam ser feitas em pequenos grupos, evitando competição.
·
Seja um modelo de interação com a criança:
demonstre tolerância, aponte o comportamento apropriado e seja encorajadora,
deste modo as outras crianças da classe tendem a imitar estas atitudes.
Reconheça e elogie alunos que se mostrem colaboradores.
·
Explique a criança meios alternativos de buscar
ajuda, com outras crianças ou outros membros da equipe.
·
Estimule a amizade com as outras crianças,
dentro e fora da sala de aula.
Grupos de habilidades sociais:
desenvolvem atividades para ampliar a percepção dos sinais sociais e das
atitudes apropriadas as diversas situações. Podem ser feitas a partir de
situações reais ou imaginarias, com uso de teatro, vídeos, jogos de mímicas,
exercícios, discussões.
Amizades: crianças com
Asperger muitas vezes precisam ser estimuladas em suas amizades e orientadas a
reconhecer as qualidades de um relacionamento que definem a amizade. Podem
fazer atividades onde descrevem atividades que os amigos fazem juntos, como
reconhecer manifestações de afeto e identificar palavras e gestos que expressam
afeição. Devemos estar atentos para reconhecer quando imitam comportamentos
inadequados de seus amigos e quando são vítimas de armações por parte de outras
crianças.
Adolescentes com Asperger tornam se mais conscientes de suas
dificuldades e geralmente precisam de mais ajuda em relação aos amigos.
Contato olho a olho: pode
haver diferentes graus de dificuldade de manter contato ocular ao interagir com
outras pessoas. A pessoa com Asperger não percebe a importância do olhar na
comunicação, não consegue interpretar as mensagens sutis no olhar de seu
interlocutor e não consegue fixar seu olhar no rosto da outra pessoa por mais
que alguns segundos,
Emoções: a falta de empatia
da criança com Asperger não significa que ela não tenha sentimentos, mas que
fica confusa com os sentimentos das outras pessoas e tenha dificuldade em
expressar suas próprias emoções. Seu rosto e linguagem corporal não expressam
suas emoções no grau esperado e ela não reconhece bem as mudanças na linguagem
corporal das outras pessoas.
Estratégias para compreender
emoções
O principio básico é explorar uma emoção de cada vez como um tema de um
projeto. Por exemplo, iniciar com a emoção feliz. Providenciar muitas
ilustrações com o tema feliz, canções, álbum de fotos, listar eventos que fazem
uma pessoa feliz. Graduar os diferentes níveis de felicidade. Pode-se indicar
diferenças nos conceitos das pessoas e entrevistar pessoas sobre o que as fazem
felizes. Incluir obras de arte que expressam felicidade. Pesquisa do que
podemos fazer ou dizer para fazer alguém feliz. Uso de espelho para que a
pessoa faça uma expressão feliz. Jogo de completar uma face em branco com
traços que expressam felicidade. Fazer desenhos de situações felizes.
Interpretar uma pessoa feliz.
Em seguida, podemos passar para uma emoção oposta, como tristeza,
trabalhando também como reagir quando outra pessoa expressa a emoção e como
podemos expressa-la.
Então podemos passar para outras emoções, raiva, ansiedade, frustração,
satisfação, surpresa, orgulho, ciúme e vergonha. Podemos idealizar um caderno
para explorar os acontecimentos e pensamentos que despertam as diferentes
emoções. Como atividade de grupo, podemos fazer o jogo dos chapéus dos
sentimentos, onde cada um escolhe um chapéu com o nome de um sentimento e conta
aos outros situações que despertaram esse sentimento.
Devemos ensinar a criança a dizer quando não está conseguindo
identificar a emoção que outra pessoa expressa.
Estratégias para expressar
emoções
·
Uso de um desenho de “termômetro” para graduar emoções.
·
Fazer caderno para explorar as respostas
apropriadas a situações específicas. Por exemplo, como você se sentiria e o que
diria ou faria se alguém dissesse que sua roupa é ridícula? Se você estudasse
muito para uma prova e tirasse nota baixa? Se você cumprimentasse outra pessoa
e ela te ignorasse? A criança pode fazer desenhos e textos para cada situação.
·
Explicar os efeitos de comportamento inadequado
nas outras pessoa (ex.: gargalhar quando está ansioso). O mesmo para linguagem
corporal inadequada. Podemos filmar a pessoa e treinar outros modos de
expressão.
·
Facilitar a expressão dos sentimentos com
perguntas chave ou estimular a criação de um diário.
Capítulo 3 : Linguagem
Quase 50% das crianças com Asperger tem atraso de linguagem. Além disso,
parecem ser menos capazes de manter uma conversação natural, sendo que as
diferenças aparecem em áreas especificas: no modo como a linguagem é usada no
contexto social, na semântica (duplos sentidos) e prosódia (ritmo, ênfase
incomuns).
Critérios diagnósticos
(Gillberg, 1989):
·
Atraso no desenvolvimento da fala.
·
Expressão superficialmente perfeita.
·
Linguagem formal, pedante.
·
Características de voz e prosódia peculiares.
·
Falhas na compreensão da linguagem, com erros de
interpretação dos significados implícitos, leva “ao pé da letra”.
Outras
descrições incluem falta de coerência, uso idiossincrático das palavras ou
padrões repetitivos da fala.
Numa conversa
com uma criança com Asperger podemos observar comentários irrelevantes para a
situação ou que não seguem os códigos sociais ou culturais. Além disso, a
criança não parece reconhecer as reações do seu interlocutor. A criança precisa
ser orientada em relação aos comentários convencionais e apropriados às
diversas situações, a maneira de esclarecer algum tópico confuso da conversa, a
perceber o momento de não interromper a outra pessoa ou de não fazer
comentários alheios ao assunto em questão.
Uma técnica
foi desenvolvida com o objetivo de capacitar as crianças a entender aspectos da
conversação que podem ser difíceis para elas. Nesta técnica são usadas figuras
de pessoas e balões que representam as falas e os pensamentos das pessoas, como
numa história em
quadrinhos. Podemos desenhar os balões de diferentes maneiras
de modo a indicar as diferentes emoções e também usar cores para simbolizar as
emoções dos pensamentos (ex. azul para tristeza, verde para contentamentos,
etc). Então podemos associar aspectos do tom da voz e da linguagem corporal que
também expressam as emoções durante uma conversação. Esta técnica pode mostrar
que cada pessoa pode ter diferentes pensamentos e sentimentos em cada situação,
que podem não expressar em palavras o que estão sentindo e ainda mostrar
alternativas de comentários para uma dada situação. Também podemos usa-la para
mostrar como se muda um assunto e como incluir comentários que expressam
simpatia pelo interlocutor.
Figuras de
linguagem e expressões populares (caiu a ficha, o gato comeu sua língua, fica
frio, etc) podem ser muito confusas para uma criança com Asperger e precisam
ser explicadas. A mesma coisa acontece com brincadeiras que geralmente fazemos
com as crianças, que podem ser mal interpretadas. Também pode haver problema em
detectar mentira ou sarcasmo. Precisamos ter cuidado ao fazer comentários ou
dar instruções.
Em conversas,
nós mudamos o tom de voz e o volume para dar ênfase a certas palavras (Eu não
disse que ela roubou o meu dinheiro). Crianças com Asperger normalmente não
utilizam este recurso e não o reconhecem na fala de outra pessoa.
Algumas crianças
com Asperger podem falar sozinhas (para “praticar frases” ou como ritual) e
outras podem ter dificuldades em situações quando mais de uma pessoa está
falando e algumas precisam que as frases sejam repetidas para que entendam o
seu significado. Para estas ultimas é necessário dar instruções claras, com
pausas para serem processadas, repeti-las de outra maneira ou mesma fornece-las
por escrito.
Capítulo 4 : Interesses e
rotinas
Duas
características da Síndrome de Asperger que ainda não foram adequadamente
definidas na literatura são: a tendência de tornar-se fascinado por um
interesse especial e a imposição de rotinas (rituais) que devem ser seguidas.
O interesse
especial parece começar com coleções diversas e mais tarde evolui para assuntos
específicos, os mais comuns sendo transporte, dinossauros, eletrônica e
ciência. Isto aparentemente dá segurança e prazer à criança. Quando se torna um
problema para a família, por sua intensidade ou estranheza, podemos tentar o
acesso controlado ao seu interesse. Muitas vezes o interesse pode ser
encorajado para um uso construtivo, para a incorporação de novos conhecimentos
em sala de aula ou mesmo como uma vocação profissional, bem como para
relaxamento e ampliação do contato social.
O
estabelecimento de rituais leva a situações quando o não cumprimento destes
leva à grande ansiedade e frustração da criança. Pode tornar-se mais intenso
num período de mudanças na vida da pessoa ou em situações de ansiedade. É
importante que a criança tenha uma rotina diária bem estabelecida, com uma
seqüência de eventos definida para tornar a vida previsível. No fim do ano
escolar devemos ter um preparo para as mudanças do próximo ano.
Capítulo 5 : Falta de habilidade motora
Uma certa
falta de habilidade motora ocorre em 50 a 90% das crianças e adultos com Asperger.
Na criança pequena pode ser manifestada por uma habilidade limitada para jogos
com bola, dificuldade em amarrar sapatos e um andar característico. Na idade
escolar notamos uma letra de mão ruim e falta de aptidão para esportes. Na
adolescência uma minoria desenvolve tiques faciais ou piscam os olhos
constantemente.
Locomoção:
pode haver falta de coordenação entre os membros superiores e inferiores, dando
uma aparência de “boneco” ao andar ou correr. Um fisioterapeuta pode
desenvolver uma marcha mais natural e coordenada através de programas usando
espelhos, música, dança. E interessante notar que a habilidade para nadar
parece ser a menos afetada.
Jogos de bola:
a coordenação pobre com a bola pode levar à exclusão da criança dos jogos das
outras, portanto deve ser treinada para ter habilidade suficiente para incluir-se
nas atividades.
Equilíbrio:
pode precisar de treino para atividades que requerem equilíbrio.
Destreza
manual: habilidade de realizar atividades que exigem o uso das duas mãos, tais
como vestir-se, amarrar sapatos ou comer com garfo e faca. Pode afetar
atividades de membros inferiores também, tal como andar de bicicleta. Uma
estratégia útil é ensinar a criança com as mãos do adulto sobre as mãos da criança,
gradualmente diminuindo o suporte.
Letra de mão:
o professor pode passar um tempo considerável decifrando a letra da criança. A
criança pode estar consciente da letra feia e evitar escrever. A ajuda de um
terapeuta ocupacional pode ser necessária, mas a tecnologia moderna pode
minimizar o problema, já que crianças com Asperger podem ser hábeis usando o
teclado dos computadores. Permitir o uso do computador para fazer as lições e
as avaliações pode igualar seu desempenho com o das outras crianças.
Ritmo: pode
haver dificuldade para acompanhar o ritmo dos movimentos das outras pessoas ao
andar ou tocar um instrumento, por exemplo.
Algumas
desordens especificas: Síndrome de Tourette, três categorias: motora (tiques),
vocal (sons incontroláveis de animais ou outros ou palilalia/ecolalia) e
comportamental (comportamento obsessivo compulsivo).
Catatonia ou características de Parkinson, rara.
Disfunção cerebelar.
Capítulo 6 : Aspectos cognitivos
Cognição é o
processo de construção do conhecimento e inclui pensamento, aprendizagem,
memória e imaginação. Através da pesquisa no campo da psicologia cognitiva
nossa compreensão a respeito da Síndrome de Asperger tem aumentado. Por volta
dos quatro anos de idade, a criança começa a entender que as outras pessoas têm
sentimentos, pensamentos, valores e desejos que vão influenciar seu
comportamento. Portadores de Asperger parecem apresentar uma falha nesta habilidade
fundamental. Por exemplo, eles podem não entender que um comentário pode
ofender ou constranger uma pessoa e que um pedido de desculpas poderia ajudar a
outra pessoa a sentir-se melhor. Durante a etapa do diagnóstico são usadas histórias
para avaliar a capacidade da criança de considerar o pensamento ou sentimentos
do outro. Mesmo quando são treinadas a reconhecer o que o outro possa pensar ou
sentir, eles podem mostrar que são capazes de racionalizar essas reações, mas
não de agir de acordo com elas numa situação. Parece haver uma dificuldade para
perceber a relevância de diferentes tipos de conhecimento para a resolução de
um problema especifico.
Habilidades nos Testes de Inteligência
Os testes de
inteligência podem ser úteis para identificar as áreas em que a criança vai bem
e aquelas em que tem dificuldade. Como os resultados geralmente são muito
discrepantes (bons quando se avalia significados de palavras, informação
objetiva, aritmética e geometria e desapontadores em ítens que requerem
compreensão e aptidão social), deve-se ter cautela em interpretar os testes. O
padrão mais importante do que o número
obtido. O autor recomenda que os testes escolares sejam modificados de forma
que o texto importante seja destacado, que o local tenha o mínimo de distrações
e que haja tolerância com os problemas de letra e do tempo usado para escrever
as respostas.
Memória
Geralmente os
portadores de Asperger têm excelente memória, o que pode ser trabalhado para
ser uma vantagem para eles.
Inflexibilidade de pensamento
O pensamento
da pessoa com Asperger tende a ser rígido e não suportara mudanças ou falhas. Eles
podem ter sempre a mesma abordagem para um problema, sendo menos capazes de
aprender com os próprios erros. Podem persistir numa estratégia e não aceitam
procurar outras alternativas. Isto pode causar vários problemas em sala de
aula. Um modo de lidar com isso é sempre levar a criança a procurar as várias
alternativas de cada situação.
Outra
característica é que uma vez que a criança tenha aprendido uma atividade, ela
pode não conseguir transferir ou generalizar seu conhecimento para outras
situações. Pais e professores devem ficar atentos para isso.
Ler, soletrar e habilidade com números
Uma boa parte
dos portadores de Asperger pode ficar nos dois extremos em sua habilidade com
letras e números. Alguns desenvolvem hiperlexia, ou seja, o reconhecimento das
palavras altamente desenvolvido, mas uma pobre compreensão das palavras ou do
texto, enquanto outros apresentam dificuldade considerável decifrando o código
da leitura. Outros são fascinados por números, embora usem métodos próprios e
fora do comum para resolver problemas matemáticos. Isso deve ser levado em
conta pelo professor. Pode haver um medo desproporcional de falhar ou ser
imperfeito, sendo que algumas crianças nem começam uma atividade se suspeitam
que podem não ser bem sucedidas. O professor precisa ser encorajador, evitando
o tom de crítica. Se ocorrer um erro, agir naturalmente explicando que a tarefa
realmente é difícil e que não é culpa da criança. Algumas crianças não pedem
ajuda e o professor precisa estar atento para isso.
Parece haver
um distúrbio da atenção e mesmo acontecer que a pessoa com Asperger também
apresente Transtorno de Déficit de Atenção. Ocasionalmente a criança parece
estar no mundo da lua, mas está escutando tudo. Outra característica é a falta
de motivação para atividades pouco interessantes para ela.
Imaginação
A brincadeira
imaginativa da criança com Asperger pode ser muito criativa, mas geralmente
solitária ou com regras rígidas. Crianças mais velhas podem desenvolver uma
rica e imaginativa vida interior, como uma forma de escape ou por prazer, o que
pode levar ao início de uma carreira acadêmica ou a um hobby. Um aspecto
negativo é que a criança tem dificuldade de distinguir realidade e ficção.
Pensamento visual
Evidências
sugerem que o pensamento das pessoas com Asperger seja predominantemente do
tipo visual. A desvantagem é que muito do conteúdo escolar é apresentado para o
modo verbal de pensamento, razão pela qual devemos usar diagramas ou analogias
visuais para ensinar.
Entretanto,
o pensamento visual é uma grande vantagem para a área da ciência e da arte, já
que permite recriar objetos de maneira original.
Capítulo : 7 Sensibilidade sensorial
Cerca de 40%
das crianças com Asperger apresentam uma percepção muito intensa de estímulos
sensoriais comuns, embora sejam mais tolerantes a níveis moderados de dor. Pode
haver extrema sensibilidade auditiva, táctil, visual e quanto ao gosto e
textura dos alimentos.
A pouca
resposta à dor faz com que os pais tenham que ser mais atentos aos seus sinais.
Capítulo 8 : Algumas questões comuns
A Síndrome pode ocorrer com algum outro
distúrbio?
Sim, existem
algumas condições médicas (esclerose tuberosa, neurofibromatose, paralisia
cerebral) que constituem fatores de risco para Asperger. É possível que uma
criança tenha também Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
associado e deve ser tratada para ambas.
Qual é a diferença entre Autismo de Alto
Rendimento e Asperger?
O termo
Autismo de Alto Rendimento foi criado para designar crianças que apresentaram
sinais de autismo clássico nos primeiros anos de vida e então desenvolveram a
habilidade de falar usando sentenças complexas, habilidades sociais básicas e
capacidade intelectual dentro do normal. Crianças com Asperger não apresentaram
características do autismo clássico em seus primeiros anos.
Meninas e meninos diferem quanto à
expressão da Síndrome?
Para cada
menina avaliada, temos 10 meninos, embora a evidência epidemiológica indique 1
menina afetada para cada 4 meninos. Os meninos têm déficits sociais maiores e
maior propensão a comportamento agressivo ou inadequado, principalmente quando
frustrados ou ansiosos. Meninas parecem mais capazes de imitar o comportamento
de outras crianças. Aparentam ser mais imaturas do que diferentes das outras. A
experiência clínica sugere que o prognóstico para as meninas seja melhor.
Como lidar com a ansiedade da criança?
A vida escolar
costuma ser estressante para a criança. Ela nunca sabe quando seu comportamento
vai ser inadequado para determinada situação. Para algumas, o nível de
ansiedade é como a maré, períodos agitados seguidos por períodos calmos. Pais e
professores devem notar os sinais de ansiedade na criança e conhecer os eventos
que desencadeiam stress para ela. Para níveis baixos de ansiedade, indicamos
atividades relaxantes (ambiente calmo, com música, massagem, tempo no
computador ou com um livro que acha interessante). Outra opção são atividades
esportivas para queimar energia. Se o recreio escolar for um problema,
aconselha-se usar a primeira parte dele para brincar com outras crianças e o
resto do tempo para brincar no computador ou ficar na biblioteca. Isso faz com
que se acalme para o resto do período. Algumas crianças precisam de intervalos
pequenos ao longo das aulas.
Muitas
crianças com Asperger têm uma preocupação exagerada em não parecer burras
perante as outras e não pedem ajuda ou assistência do professor quando
necessitam. Neste caso, pode-se combinar um código entre a criança e o
professor para pedir ajuda sem chamar a atenção das outras crianças. Alguns
casos se beneficiam de terapia cognitivo-comportamental e medicação.
Há risco de depressão?
O risco é um
pouco maior do que na população normal, porém tende a ocorrer na adolescência e
vida adulta como reação às circunstâncias ocasionadas pela Síndrome (falta de
amigos e vida social, pouco sucesso na escola e no trabalho). É importante que
a família fique atenta às diferentes maneiras da pessoa expressar seus
sentimentos (riso excessivo, indiferença).
Como lidar com a raiva da criança?
As crianças
com Asperger parecem provocar os instintos protetores ou predatórios nas
outras. Algumas crianças gostam de fazer brincadeiras de mau gosto ou armar
situações para o colega com Asperger se meter em encrencas. A criança
com Asperger tende a reagir furiosamente, pois lhe falta empatia, sutileza e
auto-controle para moderar sua reação e acaba por ser vista como agressiva.
Podemos usar a
estratégia de explicar sentimentos, encorajar auto-controle (contar até dez,
dar uma volta, respirar fundo) e ensinar opções (usar palavras, sair de perto
da situação, pedir a outra pessoa que saia, buscar ajuda de um adulto).
Mulheres podem
se tornar o alvo da raiva, pois costumam reagir menos.
Relaxamento e
atividades físicas são também opções.
Para crianças
mais velhas, a técnica das histórias em quadrinhos pode ser usada, explorando
os sentimentos e as ações.
Medicação pode
ser útil em períodos particularmente estressantes.
O que muda na adolescência?
Os
adolescentes ficam mais sensíveis às críticas, percebem mais as diferenças
entre si mesmos e seus amigos e tendem a ter exacerbações dos sinais da
Síndrome. As mudanças emocionais tendem a ocorrer mais tarde, bem como
interesses românticos.
Quais recursos são necessários para a
criança?
Geralmente as
crianças freqüentam escolas regulares. O mais importante é o acesso da família
e dos professores à informação. Em alguns casos, um tutor para a criança é
aconselhável. Suas principais responsabilidades são: encorajar a socialização
da criança, ajudando a criança a reconhecer os códigos de conduta e a
desenvolver suas habilidades e talentos, trabalhar a coordenação motora, ajudar
nos problemas de aprendizagem. Ou seja, o tutor aplica um programa desenvolvido
pelo professor e por diversos especialistas que abrange habilidades sociais,
lingüísticas, motoras, sensoriais e comportamentais.
Que qualidades devemos buscar na escola ou
professor?
A criança com
Asperger é um desafio e a expressão dos sinais pode variar dia a dia. Num dia
ela pode estar calma, concentrada nas atividades, relaciona-se bem com os
outros e absorve o conteúdo das aulas. No dia seguinte pode parecer outra
criança. Portanto o mais importante é que o professor seja calmo, flexível,
previsível em suas reações e que seja capaz de ver o lado bom da criança. Não
há necessidade de experiência anterior. Pode levar um tempo para que aprenda a
se relacionar com a criança. Classes pequenas e mais tranqüilas, com uma
atmosfera de encorajamento favorecem a criança. Quando o professor apóia a
criança com Asperger, as outras crianças da classe tendem a fazer o mesmo.
Também é importante que o professor receba apoio dos colegas e da administração
da escola. Alguns ajustes poderão ser necessários para as avaliações da
criança.
O que podemos esperar do futuro?
Pessoas com
Asperger podem ser extremamente bem sucedidas em suas vidas profissionais,
podem formar suas famílias e desenvolver suas habilidades sociais até ao ponto
em que não possam mais ser distinguidas das outras pessoas. Isso depende do
grau da expressão da Síndrome e do tipo de assistência que receberam ao longo
da vida.
Parabens (e obrigado!) pela publicação.
ResponderExcluirTenho um filho asperger com 14 anos, este ano ele enfrenta muita dificuldade na escola particular, a didática de ensino é uma barreira muito difícil de ser superada, ninguém prepara prova e outros materiais para favorecer o entendimento do autista.
ResponderExcluirFábio
Oi Fabio. Isso é o que mais acontece, por isso mantenho os meus estudando na Apae. Triste realidade!
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