15/01/2013 
Uma lei instituindo a política nacional para proteção aos direitos da 
pessoa com transtorno do espectro autista acabou de ser promulgada. 
Mas a data, 27/12, espremida no meio do feriadão entre Natal e Ano-Novo,
 passou despercebida, assim como o problema, que atinge estimados 2 
milhões de brasileiros -uma população três vezes maior do que a 
portadora de síndrome de Down.
A nova lei 12.764/12 assegura aos autistas os benefícios legais de todos
 os portadores de deficiência, que incluem desde a reserva de vagas em 
empresas com mais de cem funcionários, até o atendimento preferencial em
 bancos e repartições públicas.
"Os autistas no Brasil são invisíveis. A população não sabe o que é, a 
maioria dos profissionais não sabe do que se trata", diz o psiquiatra 
Estevão Vadasz, coordenador do programa de transtornos do espectro 
autista do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São 
Paulo.
É quase um quebra-cabeça compreender e reconhecer o autismo, que pode se
 apresentar tanto numa pessoa com alguma habilidade extraordinária e boa
 cognição quanto em alguém com séria deficiência intelectual e que não 
consegue se comunicar verbalmente.
Por isso, hoje, é chamado de espectro autista, um guarda-chuva que abriga os diversos graus de severidade do distúrbio.
Os diferentes tipos têm três características em comum: comprometimento 
na área de comunicação e linguagem; transtornos de socialização; 
interesses restritos e comportamentos repetitivos.
| Editoria de Arte/Folhapress | 
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São alterações que podem ser chamadas de comportamentais, mas a teoria 
mais aceita atualmente é a de que as causas são genéticas.
"Existem mais de mil genes possivelmente comprometidos que podem levar 
ao autismo. Uns poucos são herdados, mas, na maior parte, são mutações 
espontâneas e imprevisíveis, ocorrem por acidente ", afirma Vadasz.
Os neurônios dos autistas são mais curtos e com menos ramificações, o 
que dificulta a condução, a transmissão e o processamento de 
informações. As alterações vão se manifestar até por volta de um ano e 
meio de vida.
INVISIBILIDADE
Isso aumenta a invisibilidade dessas pessoas. "Não dá para reconhecer 
pela aparência, é igual a de um bebê típico. E há casos em que o 
desenvolvimento no primeiro ano é normal e, depois, a criança deixa de 
falar e interagir. Imagine a angústia dos pais", diz Joana Portolese, 
neuropsicóloga e coordenadora da ONG Autismo e Realidade, de São Paulo.
Os casos em que o bebê começa a se desenvolver normalmente e depois 
volta para trás, chamados de autismo regressivo, correspondem a 10% dos 
autistas. Os outros 90% manifestam sintomas a partir do oitavo ou nono 
mês de vida, mas, na maioria das vezes, os sinais não são compreendidos 
pelos pais.
Embora não exista cura para o autismo, essas pessoas terão um 
prognóstico melhor se receberem tratamento -preferencialmente, o mais 
cedo possível.
As terapias incluem técnicas para desenvolver a comunicação por meio de 
cartões com figuras, criação de rotinas rígidas e sensibilização e 
orientação das pessoas que convivem com o autista.
"É lugar-comum dizer que o autista não faz contato, mas não é bem assim.
 Eles entendem o que se passa ao redor. A questão é como as informações 
são colocadas por nós para eles", diz Portolese.

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