Muitos pais desconhecem que podem inscrever os filhos com autismo nos centros de empregos, outros nem sequer equacionam que possam ter trabalho, situações que levaram uma associação a lançar um guia para ajudar estes jovens a procurar emprego.
O livro "Emprego e Autismo - guia para uma realidade possível" pretende esclarecer os pais que não sabem o que fazer quando o filho deixa a escola, mas também ser um meio de apoio e orientação na construção de um projeto de vida ativa socioprofissional de pessoas com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA).
"Queremos que os nossos filhos sejam olhados como pessoas e o emprego é fundamental, porque nos transforma, nos melhora e nos abre caminho", disse à Lusa Sara Martins, da Dar Resposta.
Mas o emprego acaba por ser "a fase mais visível da exclusão, da segregação e da discriminação" a que estes jovens e adultos "estão mais sujeitos", lamentou.
Sara Martins contou que há pais que "nem sequer ponderam que o seu filho possa ter um emprego". "Em altura alguma os culpo, porque essas famílias não têm apoio e precisavam de ter".
Perante estas situações, "chegámos à conclusão que tínhamos de fazer um trabalho dirigido às famílias", mas também aos jovens e adultos com PEA, professores, técnicos e empresários.
"O que acontece no nosso país em relação às perturbações de desenvolvimento, nomeadamente do espetro de autismo, é um assunto muito tabu, encarado sempre como uma grande catástrofe que acontece nas nossas vidas e não deixa de ser realmente uma surpresa contra à qual os pais não estão preparados", adiantou.
O trabalho da associação passa por sensibilizar os pais para a importância de criarem um projeto de vida para os filhos.
"Os pais têm que perceber que há capacidades que são únicas e que precisam de ser rentabilizadas", disse Sara Martins, mãe de Guilherme, um jovem de 13 anos com autismo.
O guia dá a conhecer estratégias de procura de emprego, ensina a fazer um currículo, a preparar uma entrevista, e reúne "informação útil e prática" dirigida a técnicos e empresários para "promover uma maior consciencialização da importância e dos benefícios associados à contratação" destas pessoas.
O objetivo é "explicar à empresa que temos uma pessoa que vai ser rápida, excecional, quase sem falhas a fazer um arquivo, a programar, a ser zeloso no cumprimento de horários, e que não será um peso para a empresa, mas uma mais-valia", explicou Sara Martins.
"Queremos muito acreditar" que as empresas vão deixar de encarar a questão da responsabilidade social como "uma obrigação", mas antes como "um papel social que têm a desempenhar e que pode ser uma mais-valia em termos competitivos, de gerar lucro e de otimização de recursos humanos".
A Dar Reposta, um movimento de pais, familiares e amigos de cidadãos com deficiência, gostaria de envolver nesta causa o Instituto de Emprego e Formação Profissional e formar técnicos de emprego nesta área.
Também são necessárias "ações que motivem as empresas, nomeadamente um quadro de incentivo fiscal que seja claro".
Para Sara Martins, é preciso "mudar a cultura dentro das empresas", mas também da sociedade em relação às pessoas com deficiência. "É uma tarefa para a vida, nós sabemos disso".
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=798128&tm=2&layout=121&visual=49
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