domingo, 3 de agosto de 2014

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Fátima Dourado



Resignação não é uma das características de Fátima Dourado. Admiradora de clássicos pensadores de esquerda, como o alemão Karl Marx e o francês Jean-Paul Sartre, ela se engajou no movimento estudantil nos anos 1970 enquanto cursava medicina. Militou pela anistia e redemocratização do país e pela emancipação feminina.
Entre uma consulta e outra como pediatra, se tornou presidente do Conselho Cearense dos Direitos da Mulher. Sua mais delicada luta, no entanto, começou a ser travada dentro de casa. Dois de seus seis filhos são autistas. Duas pessoas que, com suas idiossincrasias, deram um novo sentido à vida de Fátima, como mãe e como profissional. Giordano, hoje com 33 anos, e Pablo, 29, nasceram numa época em que não se falava em inclusão – pelo contrário, crianças e adolescentes com deficiência costumavam ser excluídos sem a menor cerimônia.
Giordano, por exemplo, foi rejeitado por dois colégios. “Ele tinha 13 anos e passou a se bater e a ter ataques de fúria”, lembra Fátima. “Perdi o chão. Como eu poderia dizer a meus filhos que no meu mundo não havia lugar para eles?” Àquela altura, porém, a médica já era conhecida na cena política de Fortaleza e conseguiu acionar seus contatos para levantar fundos e criar uma instituição para dez autistas.
Foi assim, de modo despretensioso, que a Casa da Esperança surgiu, em 1993. “No começo, trabalhar lá não estava nos meus planos. Mas, pouco tempo depois, uma nova crise de Giordano me fez perceber que eu não poderia me afastar dele”, diz. “Durante 30 dias, meu filho teve de ser contido, pois mordia compulsivamente os lábios. Médicos, terapeutas, familiares e amigos tentaram me convencer a interná-lo em hospital psiquiátrico, mas nunca aceitei essa hipótese”, conta Fátima.
Diante desse novo desafio, a médica se especializou em psiquiatria da infância e da adolescência e assumiu a direção clínica da Casa da Esperança. Com ela, a entidade cresceu e passou a atrair pacientes do Brasil todo.
Atualmente, reúne 170 profissionais, de áreas como educação, psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, atende 350 pessoas gratuitamente e realiza mil procedimentos ambulatoriais por dia com recursos do SUS. É a maior instituição do país especializada no diagnóstico e tratamento desse tipo de transtorno.
“Minha mãe sempre foi audaciosa. Mesmo quando não tínhamos capacidade, ela dava um jeito e botava mais gente para dentro”, diz Alexandre, 36 anos, o primogênito de Fátima. A militância parece estar no DNA dos Dourados. Presidente da Associação Brasileira de Ação por Direitos da Pessoa com Autismo, Alexandre foi a Brasília batalhar por modificações numa lei de 2012 que dava aos diretores de escola permissão para se recusarem a receber alunos autistas, dependendo da gravidade do problema. Ao lado da mãe, ele liderou uma campanha e conseguiu que Dilma Rousseff vetasse o trecho que abria brechas para a discriminação.


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