Izabel Sadalla Grispino *
As recentes descobertas sobre a formação
do cérebro humano provocaram uma revolução nas pesquisas sobre o
processo de aprendizado. Influenciaram e modificaram toda a estrutura de
ensino dessa faixa de atendimento infantil. Abriram novas perspectivas
para o desenvolvimento intelectual e emocional da criança e levaram à
reformulação do currículo das escolas infantis. O neurobiologista Harry
Chugami, da Universidade de Michigan, adverte: “O currículo das escolas
tradicionais está fora de sincronia com as teorias modernas sobre
aprendizado infantil, porque subestima a capacidade das crianças. A
pré-escola desperdiça o potencial infantil de aprendizagem, porque exige
pouco, e mantém baixas as expectativas sobre o que as crianças são
capazes de entender”.
As descobertas provocaram mudança de
mentalidade e passou-se a diminuir a idade em que a criança começa ir à
escola. Descobriu-se que o melhor período para desenvolver o potencial
da criança é de zero a 3 anos; o melhor período de aprendizagem ocorre
dos 2 aos 10 anos. Ao entrar na pré-escola, metade do processo de
desenvolvimento do cérebro da criança já está concluído. Há duas décadas
atrás, o cérebro de uma criança de 5 anos era visto como uma fita
semivirgem, que registrava tudo que fosse ensinado pelos professores.
Acreditava-se de que até os 6 anos a
criança deveria apenas brincar, quando, hoje, sabemos que a estimulação
precoce altera a maneira e o grau de aprendizagem infantil. Brincar é
importante, é o laboratório natural da afetividade, da sociabilidade, da
ética e serve de suporte para uma adequada estimulação. Limitar
experiências na pré-escola é desperdiçar o melhor período de
aprendizagem da criança.
É na interação com o meio em que vive
que a criança constrói o conhecimento. Novas metodologias, novas
abordagens didático-pedagógicas do conteúdo começam a surgir. Educação
infantil amplia conceito de pré-escola e esta passa a assumir papel
formal no processo de aprendizagem. O envolvimento com a leitura e a
escrita começa muito cedo, desde o maternal, assim como a formação ética
e moral.
A denominação pré-escola, embora usada
oficialmente, é rejeitada pelo educadores que consideram este período
fundamental para o desenvolvimento intelectual da criança;
desenvolvimento que se dá através de estímulos táteis, visuais e
auditivos, aproveitando todo o potencial da criança.
Hoje, sabemos da importância de
trabalhar conceito e não conteúdo. Pelo conteúdo, a criança vai
memorizar o conhecimento; pelo conceito, vai incorporá-lo. “Em vez de
memorizar tabelas de multiplicação, crianças de até 4 anos devem estar
“brincando” com conceitos de matemática e lógica. O importante é que as
crianças entendam o conceito cedo. As fórmulas ficam para mais tarde”,
diz o pedagogo Sam Houston, encarregado de reformular o currículo das
escolas primárias da Carolina do Norte, nos EUA.
Crianças de até 8 anos devem ficar
sentadas o mínimo possível, porque elas aprendem por experiência, na
prática, vivendo o que está sendo ensinado, permitindo ao cérebro
relacionar os fatos.
Os anos 90 estão sendo conhecidos como a
“década da pesquisa cerebral”, devido às inúmeras descobertas sobre o
desenvolvimento do cérebro. Aparelhos que captam imagens do interior do
corpo humano em funcionamento, os “scanners”, trouxeram, entre muitas
outras, duas descobertas importantes: a) o cérebro usa o mundo exterior
para se moldar; b) existem períodos críticos em que as células cerebrais
– os neurônios – precisam de determinados estímulos para desenvolver
habilidades como visão, coordenação motora ou linguagem. Esses períodos
passaram a chamar-se “janelas de oportunidade” e vão do nascimento até
por volta de 12 anos de idade. Até o início da década de 80, só era
possível estudar o cérebro de pessoas mortas.
Não se sabe com precisão em que idade as
“janelas de oportunidade” se fecham, mas os cientistas são unânimes em
afirmar que a maior parte delas se abre nos primeiros meses de vida.
Descobriu-se que as “janelas de oportunidade” – período em que se formam
as conexões entre os neurônios – para aprender, por exemplo, um segundo
idioma só se fecham aos 6 anos e o período ideal para aprender música
começa aos 3 e vai até os 10 anos. Crianças de 5 anos, se corretamente
estimuladas, conseguem entender conceitos matemáticos, como volume e
densidade, falar mais de um idioma, tocar instrumentos e chegar a ler
partituras.
Os cientistas colocam dois fatores
determinantes na interação da formação do cérebro infantil: genes e
ambiente. Os genes são responsáveis pela estrutura do cérebro e o
ambiente, pelo seu funcionamento. As experiências vividas pelo bebê, do
nascimento aos 6 anos, determinam seu futuro emocional e intelectual. A
outra parte desse futuro é determinada pela carga genética herdada dos
pais.
A ciência mais uma vez dando o seu recado, integrando o processo psico-pedagógico da aprendizagem.
* Supervisora de ensino aposentada.
(Publicado em maio/2000)
(Publicado em maio/2000)
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