http://mindasks.blogspot.com.br/2012/09/neurociencia-10-os-autistas-ja.html | |
Fotocomposição de Smitha Alampur e Thomas Polen/iStockphoto |
Em 1890, William James,
autor de Princípios da Psicologia, havia definido a atenção da seguinte
maneira: “É a apropriação pela mente, de forma clara e vívida, de um entre
aqueles que parecem ser diversos objetos ou linhas de pensamento
simultaneamente possíveis. A focalização e a concentração da consciência estão
na essência dela. A consciência implica o afastamento de algumas coisas para
lidar de maneira eficaz com outras.” Apesar da acertada descrição, James nada
disse sobre de que modo ela é gerada pelo cérebro nem como é modulada na
experiência cotidiana.
Inicialmente os
pesquisadores estudavam a atenção apenas por meio da introspecção, ou seja, um
olhar reflexivo para o interior dos próprios pensamentos e sentimentos.
Posteriormente, os neurocientistas podiam examinar os mecanismos cerebrais da
atenção em animais, pacientes humanos submetidos a neurocirurgias por causa de
doenças como a epilepsia, mas ainda não havia meios de sondar as engrenagens do
circuito cerebral da atenção em seres humanos sadios. Contudo, em 1990, com o
advento das modernas técnicas de captação de imagens cerebrais, foi possível
investigar mais a fundo tais processos.
Os neurocientistas já
descobriram que a atenção se refere a diversos processos cognitivos diferentes.
Podemos atentar de forma voluntária para um programa de televisão, o que
constitui um processo (atenção de cima para baixo), ou o choro do bebê pode nos
desviar a atenção da TV, o que é um processo diferente (atenção de baixo para
cima). Podemos olhar diretamente para aquilo a que prestamos atenção (atenção
explícita), ou olhar para uma coisa e atentar em segredo para outra (atenção
disfarçada). Podemos atrair o olhar de alguém para um objeto, olhando para este
(atenção conjunta), ou simplesmente não prestar atenção a nada em particular.
Alguns dos mecanismos cerebrais que controlam esses processos começam a ser
entendidos. Por exemplo, temos um foco de atenção, o que significa que nossa
capacidade de atenção é limitada. O foco restringe a quantidade de informações
que pode ser absorvida de uma região do espaço visual em determinado momento.
Por outro lado, o excesso
de atenção também pode ser ruim. Como seres sociais, muitas vezes os humanos e
outros primatas têm de processar informações visuais sem olhar de modo direto
uns aos outros, o que poderia ser interpretado como uma ameaça. A capacidade de
prestar atenção disfarçadamente provém da circunstância social de que nem
sempre queremos que as pessoas para quem olhamos saibam que estamos prestando
atenção nelas.
Finalmente, para
exemplificar o que fora exposto, tomamos um exemplo de atenção, a conjunta.
Este tipo de atenção é o mecanismo pelo qual podemos compartilhar a experiência
de outra pessoa, acompanhando a direção de seu olhar e dos gestos com que ela
aponta. Um sintoma comum e clinicamente estabelecido de muitos pacientes
autistas é o déficit de atenção conjunta, que pode ser medido ao acompanharmos seus
movimentos oculares. Os pacientes autistas tendem a não olhar para o rosto dos
outros, nem mesmo os de atores em filmes ou de pessoas fotografadas.
A
focalização intensa
nos rostos, uma tendência que se confirma nos humanos e primatas mais
evoluídos, se dá à custa de outras informações potencialmente
interessantes,
que podem se perder num primeiro momento. Você conseguiu sem muito
esforço
notar algo de estranho na foto do artigo? Olhe com mais atenção e
perceberá que
a menina tem um dedo a mais na mão direita. Os observadores autistas
podem
notar detalhes desse tipo com mais rapidez, porque sua atenção não se
concentra
nos rostos.
Por Leonardo Faria.
Fonte: Stephen L. Macknik e
Susana Martinez-Conde, em “Truques da mente”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário