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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Os autistas já perceberam

autistas percepção
Notou algo “estranho” na foto? (fotocomposição de Smitha Alampur e Thomas Polen, iStockphoto)
Em 1890, William James, autor de Princípios da Psicologia, havia definido a atenção da seguinte maneira: “É a apropriação pela mente, de forma clara e vívida, de um entre aqueles que parecem ser diversos objetos ou linhas de pensamento simultaneamente possíveis. A focalização e a concentração da consciência estão na essência dela. A consciência implica o afastamento de algumas coisas para lidar de maneira eficaz com outras.” Apesar da acertada descrição, James nada disse sobre de que modo ela é gerada pelo cérebro nem como é modulada na experiência cotidiana.
Inicialmente os pesquisadores estudavam a atenção apenas por meio da introspecção, ou seja, um olhar reflexivo para o interior dos próprios pensamentos e sentimentos. Posteriormente, os neurocientistas podiam examinar os mecanismos cerebrais da atenção em animais, pacientes humanos submetidos a neurocirurgias por causa de doenças como a epilepsia, mas ainda não havia meios de sondar as engrenagens do circuito cerebral da atenção em seres humanos sadios. Contudo, em 1990, com o advento das modernas técnicas de captação de imagens cerebrais, foi possível investigar mais a fundo tais processos.

Os vários tipos de atenção

Os neurocientistas já descobriram que a atenção se refere a diversos processos cognitivos diferentes. Podemos atentar de forma voluntária para um programa de televisão, o que constitui um processo (atenção de cima para baixo), ou o choro do bebê pode nos desviar a atenção da TV, o que é um processo diferente (atenção de baixo para cima). Podemos olhar diretamente para aquilo a que prestamos atenção (atenção explícita), ou olhar para uma coisa e atentar em segredo para outra (atenção disfarçada). Podemos atrair o olhar de alguém para um objeto, olhando para este (atenção conjunta), ou simplesmente não prestar atenção a nada em particular.
Alguns dos mecanismos cerebrais que controlam esses processos começam a ser entendidos. Por exemplo, temos um foco de atenção, o que significa que nossa capacidade de atenção é limitada. O foco restringe a quantidade de informações que pode ser absorvida de uma região do espaço visual em determinado momento.

Cuidado com o excesso

Por outro lado, o excesso de atenção também pode ser ruim. Como seres sociais, muitas vezes os humanos e outros primatas têm de processar informações visuais sem olhar de modo direto uns aos outros, o que poderia ser interpretado como uma ameaça. A capacidade de prestar atenção disfarçadamente provém da circunstância social de que nem sempre queremos que as pessoas para quem olhamos saibam que estamos prestando atenção nelas.

A atenção conjunta

Finalmente, para exemplificar o que fora exposto, tomamos um exemplo de atenção, a conjunta. Este tipo de atenção é o mecanismo pelo qual podemos compartilhar a experiência de outra pessoa, acompanhando a direção de seu olhar e dos gestos com que ela aponta. Um sintoma comum e clinicamente estabelecido de muitos pacientes autistas é o déficit de atenção conjunta, que pode ser medido ao acompanharmos seus movimentos oculares. Os pacientes autistas tendem a não olhar para o rosto dos outros, nem mesmo os de atores em filmes ou de pessoas fotografadas.
A focalização intensa nos rostos, uma tendência que se confirma nos humanos e primatas mais evoluídos, se dá às custas de outras informações potencialmente interessantes, que podem se perder num primeiro momento.
Você conseguiu, sem muito esforço, notar algo “estranho” na foto do artigo? Olhe com mais atenção e perceberá que a menina tem um dedo a mais na mão direita. Os observadores autistas podem notar detalhes desse tipo com mais rapidez, porque sua atenção não se concentra nos rostos.
Fonte: Livro Truques da mente, por Stephen L. Macknik e Susana Martinez-Conde.

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