Além de cuidar
diariamente de seus três filhos autistas, Maria Aparecida da Silva ainda
precisa driblar o preconceito da sociedade
Lidar com crianças exige muita disposição dos pais, certo? Imagine agora
ter que educar três filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou,
Autismo, como é conhecido esse transtorno. A síndrome afeta o desenvolvimento
pessoal em três áreas: comunicação, socialização e comportamento e são estas
deficiências que Maria Aparecida da Silva, a Nena, de 42 anos, precisa lidar
para criar os filhos Nicoly, de seis anos; Amanda, de quatro; e Lorenzo, de
três. Às vésperas do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, nesta
quinta-feira (2), a luta diária de Nena e do marido Vilmar Paulo, de 49 anos,
no cuidado com os filhos para o desenvolvimento de cada uma das crianças é
comovente.
O Autismo passou a fazer parte da vida de Nena há quase cinco anos,
quando Nicoly teve o diagnóstico médico com 1 ano e seis meses. Com cinco
meses, a menina sofreu uma convulsão e uma parada cardiorrespiratória - fazendo
com que ela perdesse os movimentos e tivesse a visão prejudicada. Ela passou
então a frequentar a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de
Gaspar. Lá, após avaliação médica, teve sinalizada a possibilidade de ter o
transtorno - fato que se confirmou meses depois, em grau elevado. Aos poucos,
Nicoly foi evoluindo e começou a recuperar os movimentos com a ajuda de
fisioterapia. Porém, a menina tinha apenas 2% de chances de caminhar. A mãe
insistiu nos tratamentos e há sete meses Nicoly surpreendeu ao dar os primeiros
passos. “Quando a Nicoly foi diagnosticada com o transtorno, eu não sabia nada
sobre o Autismo. Comecei a pesquisar e vi que não tem cura, porém quanto mais
cedo começa o tratamento, maior são as chances de melhoras”, afirma.
Durante este período, Maria engravidou de Amanda. Ela nem imaginava que
a filha também pudesse ser portadora do Autismo - o que foi descoberto
aos dois anos de idade. “O Autismo da Amanda é de grau menos elevado do que o
da Nicoly”, diz a mãe que admite ter ficado desesperada com a notícia. Com
receio de ter outro filho com a doença, Nena fez cirurgia para não engravidar
mais. Mesmo com o procedimento, ela engravidou de Lorenzo. “Ele não andava e
não falava. Quando íamos a uma loja de brinquedos ele queria apenas os
carrinhos das cores amarelo e laranja. Foi assim que descobri que ele também
tinha o Autismo”, revela a mãe. A confirmação foi novamente um choque para
Nena. “Fiquei com a síndrome do pânico e fiz tratamento por dois meses. Quase
entrei em depressão, mas sabia que os meus filhos precisavam de mim”,
emociona-se.
Nicoly, Amanda e Lorenzo são crianças que não param de se movimentar um
minuto sequer - característica de quem tem a doença. Porém, a atenção e
dedicação que precisa ter para cuidar dos filhos é o menor problema para Nena.
“O que me faz sofrer mesmo é o preconceito das pessoas. Talvez pela falta de informação
e, por isso, tenho que tolerar muita coisa”, desabafa. Nena explica que é comum
as crianças com autismo terem crises, chorar e berrar e até se jogar ao chão.
“Quando isso acontece em local público as pessoas dizem que os pais é que não
dão educação. Isso nos machuca muito”, volta a emocionar-se a mãe. Mesmo assim,
ela não desiste de integrar os filhos com a sociedade. Desde que foram
diagnosticados com a doença, as três crianças frequentam a Apae e o ensino
regular. Amanda e Lorenzo são alunos do CDI professora Mercedes Melato
Beduschi, no bairro Bateias e, neste ano, Nicoly passou a estudar na Escola
Luiz Franzói. Além disso, no contraturno escolar, as crianças recebem
atendimento na Sala de Atendimento Educacional Especializado, que fica na escola,
mas que atende toda a comunidade. Neste espaço, sete crianças recebem atenção
especial. A integração com os alunos, conforme explica a professora de suporte,
Hilda Maria Daudt, é importante para o desenvolvimento das crianças. “Cada
autista tem uma característica e precisamos respeitar seus limites. Talvez não
seja possível sua alfabetização, mas ela precisa estar na escola para se
integrar com as outras crianças e incluída na sociedade”, finaliza.
O Transtorno
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição geral para um
grupo de desordens complexas do desenvolvimento do cérebro, antes, durante ou
logo após o nascimento. Esses distúrbios se caracterizam pela dificuldade na
comunicação social e comportamentos repetitivos. Embora todas as pessoas com
TEA partilhem essas dificuldades, o seu estado irá afetá-las com intensidades
diferentes. Assim, essas diferenças podem existir desde o nascimento e serem
óbvias para todos; ou podem ser mais sutis e tornarem-se mais visíveis ao longo
do desenvolvimento. A incidência da doença é cinco vezes maior em meninos - a
cada cinco crianças autistas quatro delas são meninos e apenas uma menina. A
Organização Mundial da Saúde estima que existe no mundo 70 milhões de pessoas
com autismo. No Brasil, a estimativa é de 2 milhões de autistas.
Foto: Fotos Alexandre Melo/Jornal Metas
O
preconceito. “Uma vez fui a uma festa em Brusque e havia no local um parque de
diversões. Fomos para a fila da roda gigante e quando chegou a nossa vez o
monitor disse que a Nicoly não poderia andar no brinquedo por puro preconceito
dele”. (Maria Aparecida da Silva)
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