Falta de interação com outras pessoas, pouco desenvolvimento da comunicação e repetição de comportamentos. Esses são os três principais sintomas que podem passar despercebidos para a maioria da população, mas revelam detalhes de uma doença que atinge quase 2 milhões de pessoas no Brasil, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). O autismo, que terá o Dia Mundial de Conscientização da doença comemorado na quarta-feria (2), ainda esbarra na falta de informação sobre os seus variados graus de diagnósticos.
Segundo o neurologista infantil André Passos, o transtorno do espectro autista, como é chamado clinicamente, é causado por milhares de causas genéticas e por uma complementação ambiental, ou seja, tanto a genética quanto o ambiente influenciam no diagnóstico, variando em menor ou maior grau.
Fernanda Cavalieri, pedagoga e professora da rede municipal de Fortaleza, é mãe degêmeos com autismo. Daniel e Gustavo têm 3 anos e meio, mas foram diagnosticados há um ano atrás. Fernanda percebia desde muito cedo sua falta de interação com outras crianças e pouco desenvolvimento da fala.
"Quando eles tinham um ano e dois meses comecei a levá-los para neurologistas infantis e eles fizeram exames de audição pra saber se eles tinham algum grau de surdez, mas não deu nada. Depois fizeram outras exames, como ressonância magnética no crânio, e também não dava nada. Os médicos pediam exames clínicos pra descartar outras doenças", explica.
Diagnóstico
Com dois anos e meio, os gêmeos foram diagnosticados com autismo, mas já tinham começado um tratamento com terapia ocupacional. O médico André Passos explica que o diagnóstico de uma criança com autismo é essencialmente clínico.
"O médico precisa ser assessorado nesse momento. Outras doenças se parecem bastante com o espectro autista, então são utilizados os critérios da Classificação Internacional de Doenças (CID10) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria. Também podem ser feitos exames complementares, abordagens genéticas ou estudo de imagens, como ressonância magnética", afirma.
A fonoaudióloga Raquel Lobo destaca que muitas vezes os pais procuram primeiro o fonoaudiólogo quando a criança tem um problema de comunicação e a linguagem é travada. "O autismo afeta a comunicação, causando uma fala afetada, atraso no desenvolvimento da linguagem verbal e gestual. Já chegaram crianças aqui que com 4 anos de idade não sabiam apontar", conta.
Para a especialista, o ideal é que com um ano e meio a criança já fale enrolado, om algumas palavras soltas, tentando juntar duas palavras para formar pequenas frases, além de apontar e pedir o que quer.
"O desenvolvimento da fala da criança autista vai depender de cada situação, já que existem casos mais leves e mais graves. Quanto mais precoce for o atendimento, idealmente antes dos 3 ou 2 anos, existem possibilidades enormes de ela vir a falar fluentemente, apenas com pequenas dificuldades", afirma.
Tratamento
O neurologista ressalta que o tratamento do autismo é multimodal, sendo necessária a atuação de diversos profissionais, como fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais para auxiliar nas atividades diárias e psicoterapia comportamental. O tratamento também é muito individualizado, utilizando um método diferente para cada paciente.
"Também podem ser aplicados outros métodos individuais, como a farmacologia (uso de remédios) que é normalmente utilizada quando o paciente possui comportamentos agressivos, compulsões, distúrbios do sono, epilepsia, entre outros. Mas é importante lembrar que apenas uma pequena parcela dos pacientes são agressivos", explica.
A fonoaudióloga Raquel Lobo explica que são utilizados diferentes formas de tratamento nessa área. Além disso, quando a criança realmente não consegue desenvolver a linguagem, são utilizadas formas de comunicação alternativas, como o uso de fotografias e imagens para que ela possa dizer o que quer, até mesmo com a ajuda de um iPad.
André Passos ressalta que uma característica marcante do autismo são as oscilações, ou seja, eles melhoram e pioram no decorrer do tempo, exigindo atenção redobrada da família e dos médicos. Métodos de tratamento alternativos, como a musicoterapia, também podem ser utilizados, o importante é lembrar que cada paciente reage de uma maneira diferente a diferentes tratamentos.
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