Caros amigos e amigas,
O Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Conade)
organizou ontem, 03/12/2013, 15h, uma reunião para dar conhecimento e
debater o Decreto que vai regulamentar a Lei Federal do Autismo, para a
qual foram convidadas as duas organizações nacionais representativas das
pessoas com autismo a Abraça, representada por mim, e a Abra,
representada por sua presidente Marisa Furia.
Participaram alguns dos membros da Comissão de Políticas Públicas, o
Secretário Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência e
Presidente do Conade, Antônio José, a vicepresidente do Conade, Ester
Pacheco, assim como s assessoria jurídica e pessoal técnico do Conade e
da SDH.
Na ocasião foi disponibilizado o texto da minuta Decreto, que segue anexa para consulta de todos.
O texto não diz muito mais do que o que está na Lei. O nosso
entendimento e o da maioria dos presentes é que a Lei é
autorregulamentada e que o Decreto seria desnecessário, a priori.
No entanto, existem dois parágrafos que podem ser prejudiciais às
pessoas com autismo e suas famílias que para tanto recomendamos sua
supressão.
O primeiro seria o Art. 3°, §3° que se refere ao autismo como doença e
listando CIDs. Isso além de ser um erro técnico reforça estigmas contra
a pessoa com autismo. Pedimos a supressão do parágrafo entendendo que a
menção ao CID e à CIF, no parágrafo anterior, são suficientes como
referências para designar as pessoas que são contempladas pelo Decreto.
O segundo item preocupante é relativo ao Art. 4º, §3º que fala da
possibilidade dos pais pagarem pelo acompanhante escolar de seus filhos
caso desejem indicar o profissional. Identificamos uma série de
implicações negativas nesse parágrafo como enfraquecimento da obrigação
da escola prover o profissional, além de questões pedagógicas,
funcionais e até trabalhistas. De modo que não vemos a menor necessidade
de manter o parágrafo, visto que deve ser da escola a responsabilidade
de avaliar a necessidade e prover o profissional de apoio como medida de
adaptação razoável.
Reforçamos também que as medidas de adaptação razoável para pessoas
com autismo não se resumem ao profissional de apoio, mas é todo tipo de
adaptação que pode permitir a participação da pessoa e o exercício de
seus direitos fundamentais.
O Conade, com o apoio da Abraça e da Abra, vai avaliar o Decreto até
sua próxima reunião ordinária de fevereiro de 2014, quando deve votar
parecer e encaminhar para Casa Civil.
Cabe destacar que essas posições aqui ressaltadas são relatos e
opiniões tiradas de uma primeira análise da minuta na reunião promovida
pelo Conade. A Abraça deve emitir um posicionamento final a partir da
colaboração de seus membros e diretoria.
Ante o exposto, algumas considerações:
- Cabe esclarecer que o Decreto não impede de nenhuma maneira a aplicação da Lei 12.764/2012 em nenhum aspecto;
- Os Ministérios estão implementando políticas de atenção às pessoas com deficiência, através do plano Viver sem limites, que levam em conta a pessoa autista. Cabe identificar se seu município e estado está aderindo a essas políticas e se as pessoas autistas estão sendo adequadamente beneficiadas por elas;
- Muitas questões não podem ser abordadas no Decreto porque não estão no escopo da Lei, mas o fato do autismo de ser considerado pessoa com deficiência nos obriga a ficar atentos a outros processos de implementação e regulamentação de políticas, como é o caso da discussão do Estatuto da Pessoa com Deficiência em tramitação na Câmara Federal.
- A despeito da importância do reconhecimento legal dos direitos, esses não se realizam de forma automática. É preciso cobrar do gestor que construa e implemente uma política disponibilizando esse direito. Cabe a sociedade civil se organizar para incidir para que isso aconteça de forma adequada.
Segundo nos foi informado, o Conade pediu para analisar tão logo
soube da existência do Decreto, cumprindo seu papel institucional. Se o
Decreto fosse assinado sem sua análise, qualquer um que não concordasse
com o texto poderia questionar por que o Conselho não se posicionou e
tomou providências. Por isso apoiamos a atitude acertada do Conade em
pedir análise do Decreto e dar conhecimento à sociedade civil organizada
do seu teor.
Assim, ficamos a disposição para qualquer esclarecimento e seguimos
atentos para que não tenhamos surpresas desagradáveis para o exercício
do direitos das pessoas com autismo e de suas famílias.
Respeitosamente,
Alexandre Mapurunga
Presidente da Abraça
Presidente da Abraça
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