A noção de que o leite e derivados são a melhor (se não a única) fonte
de cálcio é tão arraigada na nossa sociedade que a maioria das pessoas
tem dificuldade em aceitar a idéia de que é possível ter ossos saudáveis
sem o consumo de laticínios. Mas o fato é que o cálcio não é
exclusividade do produto secretado pelas glândulas mamárias dos animais
mamíferos.
A noção de que o cálcio é exclusividade do leite da vaca é fruto de um
elaborado trabalho de propaganda por parte das indústrias de laticínios.
Apesar de não poderem afirmar diretamente que o leite de vaca é a única
fonte de cálcio (isto seria propaganda enganosa) a indústria busca
passar esta noção ao consumidor. Faz pouco mais de um ano que a Vegan Society
do Reino Unido processou uma multinacional que lançou uma campanha que
trazia a frase: “Leite – essencial para ossos saudáveis”. Em poucos
dias, a campanha foi tirada do ar, pois essencial é aquilo que não pode
ser substituído, o que não é o caso dos laticínios como sendo fonte de
cálcio.
Se uma associação de feirantes pudesse desenvolver uma campanha para
promover os alimentos vegetais como boas fontes de cálcio, o que eles
promoveriam? Os vegetais verde-escuros (brócolis, couve
e quiabo) são excelentes fontes de cálcio e estão acompanhados de uma
série de outros nutrientes importantes para o metabolismo do cálcio,
como o potássio e a vitamina K. As frutas secas (figo, damasco,
uva-passa) e as castanhas e sementes (nozes, avelãs, amêndoas,
castanha-do-pará, semente de girassol, gergelim, entre outras) são
fontes bastante concentradas deste mineral e são muito fáceis de serem
armazenadas, transportadas e consumidas. Já as leguminosas (soja, tofu, lentilha, ervilha, grão-de-bico,
feijões), muitas delas tão presentes no cardápio do brasileiro, são
também boas fontes e o melado-de-cana completa a lista oferecendo uma
grande concentração de cálcio. Estas são as principais fontes de cálcio
em uma dieta livre de produtos de origem animal.
Assim como quando discutimos sobre a existência de boas fontes vegetais
de proteína e ferro, uma vez demonstrada a possibilidade da dieta
vegetariana fornecer estes nutrientes em quantidades adequadas, a
questão que segue é sobre a sua qualidade, ou biodisponibilidade. De
fato, há uma diferença com relação à eficiência com que o organismo
humano aproveita o cálcio dos alimentos de origem vegetal quando
comparada à eficiência com que aproveitamos o cálcio de origem animal.
Esta diferença é que o cálcio dos alimentos vegetais é mais bem
absorvido. Isto é demonstrado por muitos estudos científicos: os
alimentos de origem vegetal oferecem um cálcio que é mais bem utilizado
pelo organismo do que o cálcio que tem origem no leite e derivados. Isso
significa dizer que, quando a ingestão se dá em quantidade adequada, a
qualidade do cálcio vegetal não deixa nada a desejar ao cálcio de origem
animal.
No que diz respeito à saúde óssea, as vantagens de se obter o cálcio dos
alimentos de origem vegetal não param por aí, pois uma dieta isenta de
produtos de origem animal (inclusive os laticínios) tem muitos outros
aspectos que favorecem a saúde dos ossos. Quando um nutriente tem efeito
positivo na retenção do cálcio no organismo, dizemos que o balanço de
cálcio é positivo. O inverso vale para o termo balanço negativo. Os
fatores dietéticos que afetam positivamente o balanço de cálcio são a
vitamina K, o potássio, um pH sanguíneo alcalino e, é claro, o próprio
cálcio. Os fatores que afetam negativamente o balanço de cálcio são o
consumo excessivo de sódio, proteínas e vitamina A.
Uma dieta vegana é mais rica em vitamina K e potássio, enquanto ela é
mais pobre em sódio. Ela também é mais provavelmente abundante em
alimentos alcalinizantes ao mesmo tempo em que não excede com facilidade
a quantidade recomendada de proteínas. Além disso, a dieta vegana não
excede na ingestão de vitamina A. Na verdade, ela é isenta desta
vitamina, fornecendo o beta-caroteno, que é convertido pelo organismo em
vitamina A (retinol) apenas na quantidade necessária, evitando assim o
seu excesso. Do ponto de vista dietético, a eliminação dos produtos de
origem animal, concomitante com o aumento da ingestão de alimentos de
origem vegetal, favorece em muito a saúde óssea.
Além do aspecto alimentar, devemos considerar a vitamina D e a atividade
física. A vitamina D pode ser produzida pelo organismo e tem papel
fundamental para o balanço positivo de cálcio. Ela é sintetizada quando
ocorre a exposição adequada da pele à luz solar. Para pessoas de pele
clara, uma exposição de cerca de 20 minutos em uma pequena porção de
pele (mão e rosto, por exemplo) quando o Sol está a um ângulo acima de
quarenta graus do horizonte é o suficiente para estimular a produção de
vitamina D em quantidade adequada. Pessoas de pele escura devem estender
este tempo de exposição para até uma hora. A atividade física também é
muito importante para uma boa saúde óssea. Pense nos seus ossos como se
fossem os seus músculos: se você os utilizar pouco, eles se
desenvolverão pouco. Uma dieta vegana está relacionada a alguns aspectos
que favorecem a prática de atividades físicas, como por exemplo um
índice de massa corpórea mais próximo do saudável, e por isso o vegano
ganha mais uma vantagem com relação à sua saúde óssea, já que a dieta
como um todo favorece a prática de atividades físicas.
Vale notar que quando optamos por ingerir o cálcio a partir de fontes
vegetais, estamos optando por ingerir alimentos que são também boas
fontes de ferro, fibras e outros nutrientes importantíssimos e que não
são encontrados nos laticínios. Aqueles que ainda acreditam que o leite é
um produto adequado à alimentação de mamíferos adultos devem estudar
mais a fundo os benefícios resultantes da eliminação deste alimento do
cardápio, inclusive e especialmente no que diz respeito ao cálcio e
outros fatores relacionados à boa saúde óssea.
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