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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Uma nova forma de enxergar o autismo

Pesquisador brasileiro radicado nos EUA estuda método capaz de diagnosticar o problema já nos primeiros meses de vida do bebê

Leoleli Camargo
 
 
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento que, entre outras consequências, afeta profundamente a capacidade estabelecer relações sociais. O isolamento e o universo absolutamente particular do autista vêm intrigando pesquisadores do tema e são fontes de angústia e sofrimento para pais e familiares de portadores do transtorno.
Por que uma criança aparentemente normal começa a se fechar em si até se isolar completamente? A resposta para esse questionamento ainda está longe de ser totalmente elucidada, mas é consenso entre especialistas no tema que o diagnóstico precoce pode interferir no desenvolvimento do distúrbio, atenuando muitas das características que impedem o autista de interagir socialmente.
Divulgação
Klin: diagnóstico precoce pode atenuar limitações do autismo
 
É nesse ponto que entra o trabalho do brasileiro Ami Klin, diretor do Marcus Autism Center, o maior centro de pesquisa e tratamento do distúrbio nos Estados Unidos. Há mais de uma década, Klin e equipe vêm desenvolvendo uma forma de identificar precocemente os sinais do autismo analisando como crianças sem e com o transtorno direcionam a atenção quando expostas a vídeos com situações rotineiras de interação social. Atualmente, o grupo já conseguiu estabelecer padrões de identificação do distúrbio até em bebês de poucos meses.
Desde as primeiras semanas de vida, explica Klin, os recém-nascidos preferem escutar a voz humana – preferencialmente de quem cuida deles – e dão mais atenção aos olhos de seus cuidadores do que a qualquer outra coisa ao redor. Essa preferência é algo instintivo, faz parte de um mecanismo de desenvolvimento social no qual a criança precisa estabelecer laços com quem cuida dela, pois disso dependerá nada menos do que a própria sobrevivência. É por meio dessa interação que os bebês vão se tornando sociais e se fazem entender usando o olhar, o choro, o riso, os gritos, os gestos, os primeiros balbucios e finalmente a fala.
“Em crianças com autismo, no entanto, tudo o que faz com que elas se relacionem com o seu cuidador é atenuado, não transcorre como deveria”, explica Klin.
Essa interrupção no processo de construção da interação social acaba gerando e agravando o isolamento, os problemas de linguagem, o retardo mental e a dificuldade para intuir os sentimentos dos outros em situações de interação. Sem essas habilidades básicas, o autista vai se isolando cada vez mais do mundo das pessoas para mergulhar no mundo das coisas.
“A maior parte das incapacitações associadas ao autismo tem a ver com os problemas gerados pela dificuldade de interação social. Aqui nos Estados Unidos o diagnóstico correto do distúrbio ocorre, em média, aos cinco anos. Em classes menos favorecidas isso demora mais ainda. É muito tarde”, diz o especialista.
A pesquisa desenvolvida por Klin e equipe se propõe a identificar, por meio de uma técnica chamada eye-tracking , o rastreamento do movimento dos olhos, sinais de que a atenção da criança está mais focada em coisas do que em pessoas – um indicativo da presença do distúrbio.
O foco da atenção em objetos e outras áreas que não o rosto (especialmente olhos e boca) do interlocutor, aliás, é uma das primeiras coisas que as mães de crianças autistas percebem de estranho com seus bebês. Quanto mais cedo essa suspeita foi investigada, maiores serão as chances interferir na evolução do transtorno e assim atenuar as características mais incapacitantes do autismo, como o retardo mental, por exemplo.


Interromper o caminho em direção ao isolamento não é uma tarefa simples e depende da ajuda de profissionais capacitados, além de um grande envolvimento dos pais e familiares da criança.
“Parte do tratamento consiste em ensinar e treinar a mãe para estabelecer essa reciprocidade com a criança, mesmo que ela não esteja interagindo plenamente com essa mãe”, diz o especialista, que também chefia a Divisão de Autismo e Transtornos de Desenvolvimento da Escola de Medicina da Emory University, em Atlanta (EUA).
Para Klin, embora o autismo em si seja uma vulnerabilidade na área social, ter o distúrbio não significa que a pessoa não possa desenvolver talentos ou se relacionar com os outros. Autistas têm sim, capacidade intelectual e conseguem aprender com muita facilidade as coisas rotineiras, repetitivas, previsíveis e que têm regras claras. Por isso podem se sair bem em atividades como a área da computação.
“Eles têm uma perspectiva bem diferente das coisas. Conheço professores universitários que têm autismo. Eles não têm a capacidade intuitiva, mas conseguem desenvolver uma espécie de engenharia social que os permite funcionar produtivamente.”

 
“Sempre digo aos pais, durante o diagnóstico: um filho com autismo é um desafio, mas hoje há muito a ser feito, dependendo da idade e do perfil do transtorno. Sempre digo a eles para não pensarem no futuro e sim no presente. Digo para não limitarem as próprias aspirações em relação a essas crianças e estimulo-os a tentarem entender as forças e as fraquezas delas, para e focarem em tratar as fraquezas o quanto antes. O objetivo não deve ser curar o autismo, mas criar uma situação em que essas pessoas possam se desenvolver e ser felizes.”


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