Não antecipe problemas
Até o momento em que a família soube que o bebê
teria alguma deficiência, a chegada do novo integrante estava cercada de
expectativa. Agora, é preciso aceitar a realidade e abandonar as
projeções feitas antes e que não foram correspondidas. Se a mãe gostaria
muito de ter um filho loiro e de olhos azuis, mas ele nasceu com olhos e
cabelos castanhos, ela precisa rejeitar a expectativa criada. Os pais
podem não ter preconceito com os portadores de Síndrome de Down, por
exemplo, mas em relação à imagem que tinham deles até então. A reação
depende muito dos referenciais de cada um. Logo se criam compensações.
O apoio psicológico é importante. Mães
e pais precisam de ajuda especializada para expor medos, angústias e
sentimentos de culpa. A criança que nasce com alguma doença séria ou
deficiência força a família a passar por um período de luto. Por luto
entende-se não somente a reação vivenciada diante da perda de um ser
amado, mas também as manifestações ocorridas por outras perdas
significativas. O luto pelo nascimento da criança que não corresponde às
expectativas criadas durante a gravidez passa por várias fases.
Primeiro, a família recebe a notícia e precisa lidar com as novas
informações. Com o diagnóstico feito pelos médicos, você saberá o que
seu filho tem. Mas evite fazer e aceitar prognósticos – previsões acerca
da evolução do problema. Existem casos singulares. É natural sentir
raiva e desespero. Depois de se permitir passar por isso, você será
capaz de organizar melhor suas emoções.
A família deve aprender a perceber as qualidades da criança ao olhar para ela. O
período de luto varia de acordo com cada pessoa, além de sua estrutura
psíquica, social e intelectual e experiência de vida também
influenciarem. Pode ter uma pequena duração ou se estender por um
período maior.
Os pais precisam relaxar, aguardar
o tempo necessário para a assimilação e então conviver bem com esta
condição. As informações precisam ser absorvidas intelectual e
emocionalmente. É comum o sentimento de luta e fuga frente a uma
situação desconhecida ou assustadora; não se trata necessariamente de
negação da criança.
Você precisa assimilar o fato de
que não deu à luz o bebê sonhado, saudável e sem limitações físicas ou
cognitivas. Não projete o futuro da criança ou tente antecipar tudo que
está por acontecer, como uma vida inteira de dedicação a um filho
doente.
Outra das fases que compõem o período de luto é a
da busca pelos culpados ou responsáveis. A mãe e o pai se questionam
sobre o que podem ter feito de errado para que tudo isso acontecesse –
primeiro culpam eles próprios, depois o outro. Trata-se de um processo
de difícil entendimento, e as mais absurdas hipóteses podem ser
consideradas. O casal está vivendo um momento estressante e precisa de
ajuda para lidar com a situação – seja de familiares e amigos mais
próximos ou de um especialista.
O momento de intenso estresse pode influenciá-lo de
duas maneiras distintas – você pode se fortalecer e buscar opções
construtivas ou se fechar. Se você resiste à sugestão de procurar um
terapeuta, pense que pode ser produtivo como um tratamento pontual,
apenas para esta questão. Será importante para toda a família.
A tristeza e o desamparo dos pais, principalmente
da mãe, não podem prejudicar a assistência ao bebê. A ajuda de
familiares e amigos é essencial nessa hora. É preciso evitar críticas ao
comportamento da família e respeitar as dificuldades, que todos ainda
estão se adaptando às novidades.
Pense nas demonstrações feitas pelos comissários de
bordo em aviões: se for preciso utilizar as máscaras de oxigênio, você
deve primeiro colocá-la em você para depois ajudar os demais. O
procedimento é o mesmo se você tiver filhos que precisam tomar
conhecimento das condições do irmão recém-nascido. Pai e mãe
restabelecem-se do choque primeiro para depois poderem atender bem os
demais integrantes da família.
Texto adaptado para divulgação no site do Instituto Indianópolis
Fonte: Rede Saci | Jornal Zero Hora | Larissa Roso
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