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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Teoria das Três Fases do Processo de Maturidade Asperger


Baseado na minha vida e experiência pessoais,construí uma teoria que acredito que seja aplicável na prática à maioria dos Portadores de Síndrome de Asperger.
É a "Teoria das Três Fases do Processo de Amadurecimento Asperger", que irei explicar em detalhes agora, e que, acredito,poderá ajudar muitos pais de aspies a melhor compreenderem seus filhos e o que se passa na cabeça deles, tornando assim mais eficientes suas tentativas de ajudá-los, e aos próprios portadores a compreenderem melhor a si mesmos , orientando-os por esta fase difícil de suas vidas e ajudando-os a superarem suas limitações,especialmente as sociais.

Primeira Fase: O nascimento e crescimento do mundo interior -Formaçao:

Nesta fase inicial, que pode começar bastante cedo na vida da criança, o mundo interior de fantasia dela está sendo criado, construído, e desde a formação desta dimensão interna da mente infantil,um diferencial logo se revela,distinguindo as crianças comuns das Asperger:toda criança, seja Asperger ou não, tem esta fase de criação de seu mundo interior, mas a aspie não a compartilha com outras crianças, não interage dentro dele com outras crianças -é algo íntimo,secreto,e ela vive este mundo interior,na verdade, se encerra dentro dele e rejeita o mundo exterior, da realidade. Na maioria dos casos,acredito, isto se dá por algum evento traumático, que faça a criança odiar e rejeitar a realidade,ou por alguma insatisfação,uma inquietude interior que faça com que a realidade simplesmente não seja atraente para ela-a fantasia é muito mais fascinante e lá a criança aspie é mais feliz.Por enquanto.
Até uma certa idade, enquanto este mundo interior ainda é novidade,ela é feliz lá e não quer sair,mas aí a fantasia cresce, e começa a dominar a mente da criança, ficando poderosa- é a transição para a segunda fase!
Na primeira fase do Processo de Amadurecimento Asperger(P.A.A.), a criança sente a realidade como cruel, opressora,agressiva, hostil, esmagadora, e com isto se afunda dentro do seu Mundo Interior de Fantasias(M.I.F.) e é a época de sua vida em que está mais distante de interagir com a Realidade, e também,o seu M.I.F. nesta fase faz o papel de "escudo" isolador/protetor da Realidade pois é exatamente isto que seu M.I.F. representa. Por isto mesmo seu isolamento mais se aprofunda quanto mais se abstrai,pois quanto mais camadas de "proteção" e isolamento da Realidade ele cria, mais seguro se sente -esta é a lógica Asperger ainda incipiente, numa fase primitiva.Imaginem, por exemplo, o terapeuta tentando conversar com seu pequeno paciente Asperger:o terapeuta falando, e o menino se escondendo debaixo de uma caixa de papelão.Quanto mais o terapeuta tentar lhe mostrar a realidade e o incentivar para a sociabilidade e para as atividades reais,mais caixas de papelão o menino vai colocando umas dentro das outras e ele escondido lá, na menorzinha. Agora imaginem o pai, perdendo a paciência com a criança aspie e lhe dando uma bronca, ou sendo agressivo:quanto mais ele falar e mais agressivamente agir com o menino, mas caixas de papelão o menino irá colocar acima de si para se esconder e fugir do pai e da realidade e se sentir mais distante e protegido,portanto mais seguro. Enfim, o que quero dizer com isto é: a primeira fase é também a mais difícil de colocar o Portador em contato com a realidade, e é a hora errada de tentar fazer isto, pois a criança ainda não está nem neurológicamente , nem psicológicamente preparada para tanto, pois seu cérebro ainda não criou as novas conexões e caminhos neurais para a sociabilidade e/ou de interação com a Realidade.
Afinal, a Realidade é um mundo que a criança Asperger não conhece direito,por isto , na visão dele , tudo se torna gigante e ameaçador, e como é um mundo que ele não domina,cria-se nele um complexo de inferioridade,por sentir-se pequeno diante da cruel e poderosa Realidade, que parece querer devorá-lo.

Segunda Fase: Conflito dos mundos,Duas realidades, Dois infernos:

Uma vez consolidado na mente da criança,este mundo interior de fantasia vai tornando-se robusto, e tendendo a ocupar cada vez mais espaço na mente da criança Asperger, no lugar da realidade e da interação social.
Durante um período variável, a criança é feliz lá, ela se basta a si mesma, o mundo gira em torno dela, tudo é ela mesma e a fantasia é para ela muito satisfatória, ao passo que a realidade vai ficando cada vez mais distante e irreal,desconhecida, e motor gerador de insegurança,nervosismo, irritação, revolta, ou até mesmo fúria. Na mente da criança a realidade e as outras crianças e pessoas passam a serem as vilãs da estória, especialmente se esta criança passar por experiências traumáticas como violência doméstica ou bullying, ou mesmo os dois.
Por menos que se queira,esta realidade interfere na fantasia dela, e esta cresce ainda mais, mas agora num sentido mais prejudicial:o vilão Realidade se torna muito mais poderoso na fantasia dela, e ela não consegue mais vencê-lo em suas fantasias. A fantasia toma proporções alarmantes e tenta dominar a mente infantil. Muitas crianças sem orientação não conseguem superar esta fase, mergulhando ainda mais fundo na fantasia, o inconsciente passa a dominar a consciência, e se não forem tomadas medidas, o descontrole da fantasia pode levar a criança à completa loucura.
É a fase mais crítica, difícil e sofrida do Processo de Amadurecimento Asperger:A Fase dos Dois Infernos!
É quando tanto a fantasia como a realidade se tornam infernais, dois infernos em que a criança vive e se alterna.
Aí é crucial:ou a criança tem a atitude de retomar o controle da sua fantasia, e colocá-la em dimensões razoáveis, que ela possa controlar, ou ela sucumbe de vez à fantasia e se entrega a loucura. Como nesta fase seu M.I.F. está tentando se apossar de sua mente,ou ainda, seu inconsciente se tornou tão poderoso que tenta dominar seu consciente completamente,o Portador passa a achar que seu M.I.F., antes tão acolhedor, protetor, bondoso e generoso,abrigando-o e isolando-o das intempéries da Realidade lá fora,agora é um inferno tão dantesco como a própria Realidade. Assim, ele passa a viver entre dois infernos igualmente opressores e não há mais saída,abstração ou solução possível: ou ele se deixa dominar pelo seu M.I.F., ou ele enfrenta os seus dois infernos para tentar descobrir se eles são mesmo infernos ou não.
Nesta fase do P.A.A. ele ainda não é capaz de ver-se a si mesmo como realmente é-seus mundos são tão gelados, tão sem sentido, por serem tão opressores, perderam tanto sua razão de ser,que nenhum deles faz mais sentido, caos total,e para ele, ele não mais existe. Fica difícil perceber a diferença entre fantasia e realidade,entre sonho e vigília,tudo se torna um assustador limbo estranho.

Fase Três: Amadurecimento e Superação

Quando a criança(ou o adolescente/adulto) chega na transição entre a segunda e terceira fases,ambos os mundos(ou realidades)dela colidem brutalmente:o interno(fantasia-mundo interior) e o externo(realidade-mundo exterior)e,como disse antes, deste choque pode resultar tanto um aprofundamento da estadia desta pessoa em seu mundo interior,completamente descontrolado, podendo levar à loucura, ou pode levar à maturidade e superação das limitações sociais. Tudo depende de uma decisão crucial que ela tem de tomar sozinha:enfrentar os dois infernos ou fugir deles.
A criança(ou o adolescente/adulto) tem de ser capaz de enfrentar-se a si mesma,e enfrentar seus traumas e seus problemas psicológicos.pois está diante de uma situação limite, em que não há escapatória, não há para onde fugir:tanto realidade como fantasia são lugares tenebrosos, sinistros, ameaçadores -e fazer emergir, diante desta terrível constatação, a consciência de que só se pode contar com si mesmo,com sua essência, o ser primevo que vive em seu inconsciente,olhar-se no espelho e descobrir que afinal de contas a imagem que a pessoa fazia de si mesma não era tão feia e assustadora assim,este é o mote crucial para que ela decida superar suas limitações e ir conquistar seus sonhos.
O que as pessoas chamam de "consciência" na verdade vive em nosso inconsciente. Enfrentar-se a si mesmo,enfrentar a sua própria verdade, nua e crua é o grande desafio para os Portadores de Síndrome de Asperger.
Mas não adianta os pais, ou um terapeuta, ficarem insistindo, incentivando, tentando conscientizar ao Portador a enfrentar a si mesmo, pois isto simplesmente não funciona com ele.
Esta decisão deve e precisa ser absolutamente espontânea,pois é somente do próprio Portador, e costuma ocorrer naturalmente,seja ela enfrentar ou fugir. A grande maioria, acredito, opta por enfrentar,pois aspies são grandes guerreiros superadores de limitações.
Normalmente existe um fator -motor, que leva o aspie a decidir enfrentar e não fugir,do qual falarei daqui há pouco.
Mas antes é preciso ressaltar: esta decisão não tem uma idade certa para ser tomada,pode ocorrer mais cedo ou mais tarde na vida do Portador.
Alguns tomam esta decisão ainda crianças,outras só na idade adulta,seja aos, por exemplo,oito ou cinqüenta anos de idade,é variável de caso para caso, de pessoa para pessoa.
Também é muito importante que fique muito claro que o mundo interior de fantasia não é um vilão, um mal a ser extirpado, um culpado pela síndrome(é apenas parte integrante dela),não é algo prejudicial a ser eliminado, para se obter uma "cura".
O mundo interior de fantasia, se extinto via terapia ou "choque de realidade" por ações psicologicamente brutais e traumáticas,enfim,seja de que maneira for,não vai levar à "cura" da Síndrome, como alguns possam pensar,pelo contrário, irá levar o portador à loucura, demência, suicídio.
O mundo interior de fantasia de um Asperger é para ele vital tanto quanto um fígado, um estômago, um coração ou um cérebro é para todas as pessoas -sem isto ele não vive.
O perigo não está no mundo interior de fantasia em si,mas no descontrole dele. Portadores de Síndrome de Asperger Maduros são, como já disse antes, capazes de viver bem tanto no seu mundo de fantasia interior como no mundo real exterior, e se dar bem em ambos, transitar de um para o outro quando e por quanto tempo quiserem,e viverem felizes assim.
Portanto este mundo interior de fantasia deve ser mantido por toda a vida do Portador,que com o tempo, e nos seu próprio ritmo,saberá controlar sua fantasia interna e mantê-la sem bem controlada. E para tal ele não precisa de drogas, remédios,química,etc.
É aí que entra o fator -motor do despertar da maturidade Asperger,o fator crucial que o levará a si mesmo, como eu já tinha colocado antes, e é sobre isto que discorrerei agora.
Este fator geralmente costuma ser gerado através da emersão da consciência da profunda carência afetiva/sexual do portador. Esta carência pode passar anos, mesmo décadas, adormecida e substituída pelo mundo interior de fantasia,mas ela vai se acumulando ao longo de muitas frustrações, e também pela acumulação desta carência dentro do inconsciente do portador, que uma hora explode, levando-o à depressão acompanhada de uma necessidade interna imperiosa de recuperar o tempo perdido e suprir suas necessidades afetivas e sexuais de modo urgente,o que o leva à decisão crucial de enfrentar-se a si mesmo e buscar superar seus limites,chegando à conclusão de que só assim ele terá êxito em sua empreitada.
Durante esta difícil e dolorosa jornada, que exigirá dele muito esforço,o portador(ou portadora) verá no sexo oposto a constatação de que a realidade afinal não é tão ruim como ele ou ela pensava,e que este mesmo sexo oposto representa para ele ou ela o lado bom e agradável da realidade- na verdade a real constatação é a de que sua realidade interior, sua essência, o modo como vê a si mesmo, sua autoconsciência, por conseqüência auto-estima,não é tão feia como ele ou ela pintou para si,e pode a
E durante esta mesma jornada, ele ou ela aprenderá sozinho(a) a controlar seu mundo interior, conservá-lo, e "visitar" seus dois mundos, fantasia e realidade, quando quiser, por quanto tempo quiser e conviver bem com sua fantasia ao mesmo tempo em que realiza seus sonhos e aspirações,convive bem na realidade e se torna um cidadão produtivo e atuante na sociedade, com sua profissão ou ocupação, conquistando assim a liberdade de sua independência financeira e emocional, e sendo feliz na realidade.

4 comentários:

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  2. Falou, falou e não disse nada.

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  3. Muito bom o texto. Bem esclarecido e detalhado. Falou com cuidado e estrategicamente explicou sobre um assunto delicado e tão pouco falado no Brasil. Parabéns!

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  4. Acho que estou passando a fase dos dois infernos com meu filho de 6 anos. Não sei se é exatamente esta fase, mas está sendo um pouco difícil saber dosar a autoridade para dar limites, sem passar dos limites e ser opressor! E sem querer jogá -lo cada vez mais no mundo da fantasia. Porém a falta de limites possa deixá -lo como uma criança mal educada mimada onde ninguém queira ficar perto! Gostaria muito que você escrevesse sobre isso: limites! Como aplicar limites à um asperge.

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