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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Transtorno Desintegrativo da Infância


O Transtorno Desintegrativo (TDI) ou Desintegrador da Infância (Síndrome de Heller), segundo o CID 10, é um Transtorno Global do Desenvolvimento caracterizado pela presença de um período de desenvolvimento completamente normal antes da ocorrência do transtorno, sendo que este período é seguido de uma perda manifesta dos habilidades anteriormente adquiridas em vários domínios do desenvolvimento no período de alguns meses. Estas manifestações se acompanham tipicamente de uma perda global do interesse com relação ao ambiente, condutas motoras estereotipadas, repetitivas e maneirismos e de uma alteração do tipo autístico da interação social e da comunicação. Em alguns casos, a ocorrência do transtorno pode ser relacionada com uma encefalopatia.  O diagnóstico, contudo, deve tomar por base as evidências de anomalias do comportamento.
É um quadro que implica uma perda de funções e capacidades previamente adquiridas pela criança, uma regressão das competências de linguagem, comunicação não-verbal, jogo, relações sociais e condutas adaptativas. A criança sorri intencionalmente, segura a cabeça, pega num objeto, senta-se sozinha, põe-se de pé, faz pinça fina (entre as "polpas" do polegar e do indicador), anda agarrado aos móveis, brinca ao "faz-de-conta", diz as primeiras palavras, anda sozinha, faz os primeiros rabiscos no papel, junta as primeiras palavras, etc, nas idades convencionais. Depois dos primeiros 2 anos de vida (mas sempre antes dos 10 anos), são notadas perdas significativas em competências psicomotoras adquiridas. O critério para o diagnóstico básico é que deve haver perdas pelo menos em duas destas cinco áreas:
a)a linguagem expressiva e receptiva – a criança deixa de nomear objetos, perde a capacidade de juntar as palavras, etc. Ou compreensiva – não compreende mais pequenas ordens, perde a capacidade de reconhecer objetos, etc;
b)competências sociais e adaptativas – pode não reconhecer pessoas familiares, perde o interesse de brincar com os pais ou com crianças, deixa de dizer adeus, mostra-se incapaz de utilizar a colher ou de beber pelo copo, perde a capacidade de tirar as meias e os sapatos, etc;
c) controle de esfíncteres vesicais e/ou anais – perde a capacidade de controlar as fezes e a urina;
d)jogo – perde o interesse em brincar de faz-de-conta, de bater palmas, mostra-se incapaz de utilizar os brinquedos de forma funcional e incontingente, etc;
e)destrezas motoras – deixa de correr ou de andar, perde a capacidade de utilizar o lápis no papel, mostra-se incapaz de fazer pinça fina, etc.
Algum tempo depois de instalada a regressão psicomotora, as crianças passam a apresentar alterações comportamentais muito semelhantes às encontradas no Autismo (é como se esta perturbação se tratasse de um Autismo de início tardio). Assim, evitam o contato ocular e podem resistir ou mostrar desagrado ao serem pegados ou tocados.
Os seres humanos, animais e objetos poderão ser tratados da mesma forma, havendo uma relativa incapacidade para a partilha de alegrias, interesses e prazeres com as pessoas, mesmo com os familiares. Mesmo em situações geradoras de stress, não procuram o necessário conforto, ajuda ou segurança junto de adultos e de outras crianças (como os pais, os avós ou os irmãos).
Tipicamente, as crianças com a perturbação desintegrativa isolam-se e demonstram incapacidade para estabelecerem uma relação social adequada com os seus pares. Demonstram graves problemas na compreensão da fala, dos gestos e da expressão facial dos seus interlocutores e emitem sons monótonos.
Um fenômeno muitas vezes descrito é o da persistência da ecolalia. Não há, geralmente, discurso espontâneo, com frequência há perturbações vocais, com tendência para vocalizações muito pontilhadas (escandidas ou tipo staccato). Estão referidos problemas da comunicação não-verbal, mantêm-se muito afastados ou muito próximos dos interlocutores, olham para os lábios em vez de olharem para os olhos de quem lhes fala e fecham os olhos, longamente, durante a comunicação com os outros.
A imitação é pobre e limitada. Fazem um uso muito escasso e pouco variado da mímica facial e dos gestos.
Frequentemente, estabelecem ligações bizarras a certos objetos ou à partes deles, como pedras, peças de brinquedos, etc. Poderão ficar fascinados por objetos que produzam sons (copos, campainhas, etc). Os objetos são, muitas vezes, selecionados por uma característica particular (pela sua cor, textura, forma) e são transportadas para toda a parte. Objetos redondos e suscetíveis de poderem rodar ou rolar, como moedas, discos e rodas, produzem uma enorme atração.
Frequentemente, há uma aderência inflexível a determinadas rotinas, geralmente não funcionais, e que assumem uma forma doentia. As estereotipias são muito freqüentes e característicos.
Podem ter o hábito de cheirar pessoas e objetos. A hiperatividade é um problema comum. Estão referidos, em muitos casos, perturbações do sono. Por vezes, auto-flagelam-se (batem a si próprios, parecendo insensíveis à dor). Oferece uma imagem de instabilidade emocional mais extrema e inexplicável e não se descarta que, diferentemente do que ocorre no Autismo, seja acompanhado de fenômenos semelhantes às alucinações e aos delírios da Esquizofrenia.
São comuns as complicações neurológicas, especialmente as epilepsias e grave a profundo retardo mental.
Um estudo de acompanhamento realizado por Mouridsen (1998), relata 39 casos pareados com controles autistas em um período de mais de 22 anos, que verificou que os indivíduos com Transtorno Desintegrativo da Infância possuíam um funcionamento global pior, estavam mais ausentes e tiveram uma grande incidência de epilepsias como comorbidade. Isso afirma a noção de que o desfecho no Transtorno Desintegrativo da Infância é pior do que nos transtornos do espectro autista em geral.

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