O
Transtorno Desintegrativo (TDI) ou Desintegrador da Infância (Síndrome
de Heller), segundo o CID 10, é um Transtorno Global do
Desenvolvimento caracterizado pela presença de um período de
desenvolvimento completamente normal antes da ocorrência do transtorno,
sendo que este período é seguido de uma perda manifesta dos habilidades
anteriormente adquiridas em vários domínios do desenvolvimento no
período de alguns meses. Estas manifestações se acompanham tipicamente
de uma perda global do interesse com relação ao ambiente, condutas
motoras estereotipadas, repetitivas e maneirismos e de uma alteração do
tipo autístico da interação social e da comunicação. Em alguns casos, a
ocorrência do transtorno pode ser relacionada com uma encefalopatia. O diagnóstico, contudo, deve tomar por base as evidências de anomalias do comportamento.
É
um quadro que implica uma perda de funções e capacidades previamente
adquiridas pela criança, uma regressão das competências de linguagem,
comunicação não-verbal, jogo, relações sociais e condutas adaptativas. A
criança sorri intencionalmente, segura a cabeça, pega num objeto,
senta-se sozinha, põe-se de pé, faz pinça fina (entre as "polpas" do
polegar e do indicador), anda agarrado aos móveis, brinca ao
"faz-de-conta", diz as primeiras palavras, anda sozinha, faz os
primeiros rabiscos no papel, junta as primeiras palavras, etc, nas
idades convencionais. Depois dos primeiros 2 anos de vida (mas sempre
antes dos 10 anos), são notadas perdas significativas em competências
psicomotoras adquiridas. O critério para o diagnóstico básico é que deve
haver perdas pelo menos em duas destas cinco áreas:
a)a linguagem
expressiva e receptiva – a criança deixa de nomear objetos, perde a
capacidade de juntar as palavras, etc. Ou compreensiva – não compreende
mais pequenas ordens, perde a capacidade de reconhecer objetos, etc;
b)competências
sociais e adaptativas – pode não reconhecer pessoas familiares, perde o
interesse de brincar com os pais ou com crianças, deixa de dizer adeus,
mostra-se incapaz de utilizar a colher ou de beber pelo copo, perde a
capacidade de tirar as meias e os sapatos, etc;
c) controle de esfíncteres vesicais e/ou anais – perde a capacidade de controlar as fezes e a urina;
d)jogo
– perde o interesse em brincar de faz-de-conta, de bater palmas,
mostra-se incapaz de utilizar os brinquedos de forma funcional e
incontingente, etc;
e)destrezas
motoras – deixa de correr ou de andar, perde a capacidade de utilizar o
lápis no papel, mostra-se incapaz de fazer pinça fina, etc.
Algum
tempo depois de instalada a regressão psicomotora, as crianças passam a
apresentar alterações comportamentais muito semelhantes às encontradas
no Autismo (é como se esta perturbação se tratasse de um Autismo de
início tardio). Assim, evitam o contato ocular e podem resistir ou
mostrar desagrado ao serem pegados ou tocados.
Os
seres humanos, animais e objetos poderão ser tratados da mesma forma,
havendo uma relativa incapacidade para a partilha de alegrias,
interesses e prazeres com as pessoas, mesmo com os familiares. Mesmo em
situações geradoras de stress, não procuram o necessário conforto, ajuda
ou segurança junto de adultos e de outras crianças (como os pais, os
avós ou os irmãos).
Tipicamente,
as crianças com a perturbação desintegrativa isolam-se e demonstram
incapacidade para estabelecerem uma relação social adequada com os seus
pares. Demonstram graves problemas na compreensão da fala, dos gestos e
da expressão facial dos seus interlocutores e emitem sons monótonos.
Um
fenômeno muitas vezes descrito é o da persistência da ecolalia. Não há,
geralmente, discurso espontâneo, com frequência há perturbações vocais,
com tendência para vocalizações muito pontilhadas (escandidas ou tipo
staccato). Estão referidos problemas da comunicação não-verbal,
mantêm-se muito afastados ou muito próximos dos interlocutores, olham
para os lábios em vez de olharem para os olhos de quem lhes fala e
fecham os olhos, longamente, durante a comunicação com os outros.
A imitação é pobre e limitada. Fazem um uso muito escasso e pouco variado da mímica facial e dos gestos.
Frequentemente,
estabelecem ligações bizarras a certos objetos ou à partes deles, como
pedras, peças de brinquedos, etc. Poderão ficar fascinados por objetos
que produzam sons (copos, campainhas, etc). Os objetos são, muitas
vezes, selecionados por uma característica particular (pela sua cor,
textura, forma) e são transportadas para toda a parte. Objetos redondos e
suscetíveis de poderem rodar ou rolar, como moedas, discos e rodas,
produzem uma enorme atração.
Frequentemente,
há uma aderência inflexível a determinadas rotinas, geralmente não
funcionais, e que assumem uma forma doentia. As estereotipias são muito
freqüentes e característicos.
Podem
ter o hábito de cheirar pessoas e objetos. A hiperatividade é um
problema comum. Estão referidos, em muitos casos, perturbações do sono.
Por vezes, auto-flagelam-se (batem a si próprios, parecendo insensíveis à
dor). Oferece uma imagem de instabilidade emocional mais extrema e
inexplicável e não se descarta que, diferentemente do que ocorre no
Autismo, seja acompanhado de fenômenos semelhantes às alucinações e aos
delírios da Esquizofrenia.
São comuns as complicações neurológicas, especialmente as epilepsias e grave a profundo retardo mental.
Um
estudo de acompanhamento realizado por Mouridsen (1998), relata 39
casos pareados com controles autistas em um período de mais de 22 anos,
que verificou que os indivíduos com Transtorno Desintegrativo da
Infância possuíam um funcionamento global pior, estavam mais ausentes e
tiveram uma grande incidência de epilepsias como comorbidade. Isso
afirma a noção de que o desfecho no Transtorno Desintegrativo da
Infância é pior do que nos transtornos do espectro autista em geral.
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