O status médico-científico atual da dieta sem glúten e caseína no tratamento do autismo
O tratamento do autismo - uma síndrome complexa que prejudica a
capacidade de comunicação e interação social dos portadores -
frequentemente consiste de uma série abrangente de programas
educacionais, terapias e tratamentos comportamentais. Várias
intervenções nutricionais também tem sido sugeridas, como a restrição de
alguns alérgenos alimentares, o uso de probióticos e de suplementos
nutricionais. Uma das intervenções atualmente mais populares, no
entanto, é a dieta sem glúten e sem caseína (dieta SGSC) a qual, como o
próprio nome diz, elimina todas as fontes de glúten (presente no trigo,
cevada, centeio e aveia) e caseína (presente no leite e derivados) da
alimentação.Um artigo recentemente publicado na revista Nutrition and Clinical Practice,
pela Dra. Jenniger Elder, faz uma revisão do status médico e científico
da dieta, e traz recomendações para que as famílias dos portadores e
profissionais de saúde possam decidir pela adoção - ou não - da dieta.
Resumimos aqui os principais pontos enfatizados pela pesquisadora.
Assim como a Dra. Elder explica, uma das hipóteses principais sobre
os benefícios da dieta se baseia na idéia de que alguns dos sintomas
autísticos possam ser consequência de um excesso de opióides
(substâncias química com ação similar a da morfina) no organismo. A
hipótese postula que a maior permeabilidade intestinal frequentemente
observada em autistas permitiria que grandes peptídeos - resultantes da
digestão incompleta do glúten e da caseína - possam cruzar a membrana
intestinal. Estes peptídeos poderiam atuar como os opióides produzidos
naturalmente no organismo, entrando na corrente sanguínea e então
alcançando o sistema nervoso central. Postula-se que o excesso de
opióides no sistema nervoso central poderia produzir alguns dos sintomas
observados em indivíduos autistas. Assim, a retirada do glúten e da
caseína da dieta produziria a melhoria dos sintomas em alguns dos
portadores.
Resultados dos Testes da Dieta
Os resultados de estudos científicos para investigar os efeitos da
dieta SGSC na melhoria dos sintomas ainda são preliminares, uma vez que
seria necessário ainda um maior número de participantes, bem como
controles mais rigorosos da adoção da dieta pelos participantes e
medidas diagnósticas padronizadas dos sintomas para que conclusões mais
definitivas possam ser tiradas. Seguem abaixo os principais resultados:
- Em um estudo conduzido em 2003, o qual envolveu 50 crianças com
autismo, revelou (através de análises sanguíneas) que um número
significativo destas crianças tinham anticorpos contra o glúten
(gliadina) e a caseína (ou seja, havia uma reação auto-imune na presença
destas substâncias)
- Em outro estudo envolvendo 20 participantes, demonstrou-se que embora mudanças tenham sido observadas nos dois grupos, o grupo de crianças autistas que adotou a dieta SGSC apresentou melhorias significativas no comportamento, cognição não verbal e coordenação motora em relação ao grupo de crianças que adotaram uma dieta padrão (com gluten e caseína).
- Finalmente, um estudo publicado no Journal of Autism and Related Disorders envolvendo 13 crianças e controles mais rigorosos analisou os efeitos da adoção da dieta por 12 semanas. Este estudo mostrou que, embora tenham sido observadas melhoras pontuais na linguagem e comportamento, não houveram diferenças significativas quando se comparam os sintomas do grupo de crianças seguindo - ou não - a dieta. É interessante notar, no entanto, que 7 das 13 famílias que participaram do estudo (e adotaram a dieta SGSC) notaram melhorias nos sintomas, diminuição da hiperatividade, melhoria na linguagem e menor frequencia de comportamentos repetitivos (as quais, por seu caráter mais subjetivo, não foram consideradas pelos pesquisadores na análise dos resultados). Os autores reconhecem que um período mais longo do que 12 semanas possa ser necessário para que as melhorias se tornem mais aparentes.
- Em outro estudo envolvendo 20 participantes, demonstrou-se que embora mudanças tenham sido observadas nos dois grupos, o grupo de crianças autistas que adotou a dieta SGSC apresentou melhorias significativas no comportamento, cognição não verbal e coordenação motora em relação ao grupo de crianças que adotaram uma dieta padrão (com gluten e caseína).
- Finalmente, um estudo publicado no Journal of Autism and Related Disorders envolvendo 13 crianças e controles mais rigorosos analisou os efeitos da adoção da dieta por 12 semanas. Este estudo mostrou que, embora tenham sido observadas melhoras pontuais na linguagem e comportamento, não houveram diferenças significativas quando se comparam os sintomas do grupo de crianças seguindo - ou não - a dieta. É interessante notar, no entanto, que 7 das 13 famílias que participaram do estudo (e adotaram a dieta SGSC) notaram melhorias nos sintomas, diminuição da hiperatividade, melhoria na linguagem e menor frequencia de comportamentos repetitivos (as quais, por seu caráter mais subjetivo, não foram consideradas pelos pesquisadores na análise dos resultados). Os autores reconhecem que um período mais longo do que 12 semanas possa ser necessário para que as melhorias se tornem mais aparentes.
Implementando a Dieta
Embora
os resultados científicos ainda sejam preliminares e mais estudos ainda
sejam necessários, a Dra. Elder considera que a dieta SGSC possa ser
uma possibilidade promissora de tratamento. No entanto, ela enfatiza que
as famílias e profissionais devem avaliar com muito cuidado todos os
prós e contras da adoção da dieta antes de implementá-la:
1. A família terá condições de proporcionar à criança os alimentos
sem glúten e sem caseína, frequentemente mais caros e difíceis de
encontrar?
2. A família já considerou o tempo adicionais que será necessário para preparar a dieta especial?
3. Há compromisso, de pelo menos um dos familiares, de manter registros precisos da alimentação do portador e possíveis mudanças nos sintomas?
4. Será possível manter a adoção rígida da dieta pelo portador em casa, e mesmo fora dela (como por exemplo na escola, em viagens, etc)?
5. Qual o estado de saúde da criança? Como este será monitorado (isto é importante, pois há registros de perda óssea e deficiências de aminoácidos em crianças que seguiram a dieta SGSC, indicando que o estado nutricional da criança deve ser acompanhado e, em alguns casos, suplementos nutricionais e vitamínicos possam ser administrados)
6. A criança tem um repertório alimentar já restrito o qual, se limitado ainda mais pelo dieta, poderia comprometer seu estado nutricional?
2. A família já considerou o tempo adicionais que será necessário para preparar a dieta especial?
3. Há compromisso, de pelo menos um dos familiares, de manter registros precisos da alimentação do portador e possíveis mudanças nos sintomas?
4. Será possível manter a adoção rígida da dieta pelo portador em casa, e mesmo fora dela (como por exemplo na escola, em viagens, etc)?
5. Qual o estado de saúde da criança? Como este será monitorado (isto é importante, pois há registros de perda óssea e deficiências de aminoácidos em crianças que seguiram a dieta SGSC, indicando que o estado nutricional da criança deve ser acompanhado e, em alguns casos, suplementos nutricionais e vitamínicos possam ser administrados)
6. A criança tem um repertório alimentar já restrito o qual, se limitado ainda mais pelo dieta, poderia comprometer seu estado nutricional?
Pesquisas Futuras
Atualmente, existem dois estudos sendo conduzidos, um na Noruega (http://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT00614198) e outro nos Estados Unidos (http://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT00090428?term=autism+diet%26rank=2).
Enquanto os cientistas aguardam mais evidências sobre a eficência da
dieta no tratamento dos sintomas, é importante considerar cuidadosamente
seus prós e contras para que se possa garantir a saúde dos portadores.
Mais informações: Elder JH. 2009. The gluten-free, casein-free diet
in autism: an overview with clinical implications. Nutr Clin Pract. 23
Citar fonte como: Revista Vida sem Glúten e sem Alergias, 2009 (www.vidasemglutenealergias.com)
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