Diagnóstico precoce e educação intensiva ajudam a mudar a vida da criança autista.
A criança não balbucia uma palavra, não aponta objetos, não 
olha nos olhos das pessoas. São sinais típicos do autismo, doença que 
não tem cura e é vista por muitos como uma sentença definitiva. Veronica
 Bird, 42 anos, brasileira radicada nos Estados Unidos e mãe de um 
garoto com o problema, também achava que autismo era o fim de tudo. Não 
acredita mais nisso - e ninguém acreditaria mesmo, ao ver seu filho 
Ramsey, 7 anos. 'Ele vai à escola, tem amigos, faz esportes, é 
superamoroso', conta Veronica, ex-atriz que decidiu assumir grandes 
papéis na vida: cuidar do filho e da Veronica Bird Charitable 
Foundation, entidade divulgadora do autismo, com escritório também no 
Brasil, no Rio de Janeiro. Nesta entrevista a CRESCER, ela explica sua 
visão do problema e conta sua experiência.
Quando você soube que seu filho era autista?
Quando Ramsey tinha quase 2 anos de idade, de repente, ficou 
diferente: parou de falar, não olhava para mim, parecia totalmente surdo
 e batia os bracinhos como se fossem as asinhas de um beija-flor. Levei-
 o a três pediatras e ninguém descobria o que ele tinha. Um desses 
médicos, porém, achou que Ramsey tinha uma quantidade de secreção 
anormal nos ouvidos e por isso não escutava. Receitou para ele um 
antiinflamatório. Depois das primeiras doses, ele disparou a falar. 
Achei estranho e consultei um médico otorrino, que não encontrou nada no
 ouvido do meu filho. Aí, fui parar no chefão do setor de pediatria 
neurológica de um famoso hospital, o Johns Hopkins Medical School. Esse 
neurologista fez vários exames em Ramsey e diagnosticou o autismo 
regressivo, uma forma da doença que faz a criança perder habilidades que
 já tinha. Ele disse que o antiinflamatório que Ramsey havia tomado, 
chamado prednisona, estava em estudos para o tratamento de crianças 
autistas, que essa droga as fazia falar. O remédio tinha funcionado no 
meu filho.
Como você reagiu à notícia?
Chorei muito. Ao mesmo tempo, acho que liguei um piloto automático e 
comecei a agir. Minha família deu apoio, mas meu marido e a família dele
 não admitiam o problema. Nos Estados Unidos, tudo que se refere à saúde
 mental é tabu. As pessoas fazem segredinhos. Eu, ao contrário, decidi 
aprender tudo sobre autismo e fui constatando que essa doença não é o 
fim de tudo.
Como Ramsey foi tratado?
Após o diagnóstico, ele passou a freqüentar uma sala de educação 
especial com outras crianças autistas. E tomou a prednisona por cinco 
meses. Começou a falar e a escutar. Melhorava cada vez mais. Era a 
primeira vez que se usava o remédio numa criança com a idade dele, 2 
anos na época. Algumas crianças autistas reagem bem a essa droga, mas 
ela ainda não foi aprovada para o tratamento da doença. Ninguém sabe por
 que funciona, e o remédio pode ter efeitos colaterais graves e levar à 
morte. Jamais deve ser tomado sem indicação médica.
O que funcionou mais, o remédio ou a educação especial?
Provavelmente, a combinação das duas coisas. Com os progressos do meu
 filho, descobri que o autismo é o resultado de uma desordem neurológica
 que afeta o desenvolvimento do cérebro. Por exemplo, uma criança de 3 
anos aprende automaticamente a falar, comprimentar os outros, ir ao 
banheiro. Se tem autismo, não aprende assim, porque seu cérebro não está
 se desenvolvendo como deveria. É essencial que ela tenha uma educação 
especial intensiva, como o Applied Behavior Analysis (ABA) ou o Lovass. 
São métodos que induzem a uma forma de comportamento. Quando a criança 
faz o que se pede, ganha uma recompensa. O ABA é utilizado no Brasil 
pela Associação de Amigos do Autista (AMA) e pelo Centro de Referência e
 Apoio às Desordens do Desenvolvimento (CRADD). A criança com autismo 
precisa aprender tudo desse jeito e pela repetição, nem que seja fazendo
 cem vezes a mesma coisa.
Como está seu filho hoje?
Ramsey não precisa mais de tratamento. Tem limitações mínimas, 
puramente sociais. Por exemplo, tem amigos, mas nunca inicia uma 
amizade. Só fala do que interessa a ele, pois não percebe que o outro 
tem interesses. Mas é um garoto feliz, à maneira dele. Faz tudo sozinho.
 Estuda, lê e resolve cálculos melhor que outras crianças. Ele e meu 
outro filho, o Ryan, que tem 8 anos, têm uma professora de português. O 
Ramsey está aprendendo mais rápido, e o Ryan reclamou. Eu disse a ele: 
'Você faz tanta coisa a mais do que seu irmão. Por que ele não pode 
fazer também?'.
Seu envolvimento com o autismo ajudou seu filho?
Foi tão importante quanto o apoio clínico e educacional. E também o 
fato de o diagnóstico ter sido precoce e ele ter tido acesso a um 
colégio apropriado já aos 2 anos de idade. Isso é essencial para a 
criança autista progredir, pois seu cérebro está se desenvolvendo até os
 5 anos. Se todas as crianças autistas tivessem essa chance, muitas 
delas estariam mil vezes melhor. Se vocês conhecessem meu filho, não 
perceberiam nada. Tecnicamente, não posso dizer que ele está curado, 
pois o autismo não tem cura. Mas me dêem o nome de dez pediatras para eu
 levá-lo a uma consulta e, garanto, todos vão dizer que ele não tem 
nenhum problema.
Filme da vida real
Veronica Bird registrou em vídeo a evolução do tratamento do seu filho Ramsey. A produção deu origem ao filme The different shades of autism (As diferentes formas de autismo), feito para orientar médicos, pais e psicólogos a reconhecer os primeiros sinais da doença. O trabalho foi aprovado pela academia pediátrica norte-americana, ganhou vários prêmios e tornouse um recurso adicional de ensino nas escolas de medicina. 'No Brasil, estou buscando uma parceria com o governo federal para reprodução e distribuição do filme em português. Meu objetivo é que, em menos de um ano, ele esteja nas universidades e bibliotecas, com os pediatras e pais', diz Veronica.
Para saber mais:
Fundação Veronica Bird, Avenida das Américas, 700, sala 229, bloco 6, Citta America, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, CEP 22640-100, Tel: (21) 3803-8080 /3803-7765 /3803- 7145, e-mail vbcf@citta-america.com, www.aheadwithautism.com (com versão traduzida para o português).
Veronica Bird registrou em vídeo a evolução do tratamento do seu filho Ramsey. A produção deu origem ao filme The different shades of autism (As diferentes formas de autismo), feito para orientar médicos, pais e psicólogos a reconhecer os primeiros sinais da doença. O trabalho foi aprovado pela academia pediátrica norte-americana, ganhou vários prêmios e tornouse um recurso adicional de ensino nas escolas de medicina. 'No Brasil, estou buscando uma parceria com o governo federal para reprodução e distribuição do filme em português. Meu objetivo é que, em menos de um ano, ele esteja nas universidades e bibliotecas, com os pediatras e pais', diz Veronica.
Para saber mais:
Fundação Veronica Bird, Avenida das Américas, 700, sala 229, bloco 6, Citta America, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, CEP 22640-100, Tel: (21) 3803-8080 /3803-7765 /3803- 7145, e-mail vbcf@citta-america.com, www.aheadwithautism.com (com versão traduzida para o português).
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