Fonte: Portal Porvir
Não sobrou pedra sob pedra na cidade italiana de Reggio Emilia depois
 da Segunda Guerra Mundial: ruas, escolas, casas… Tudo havia sido 
bombardeado. Para não privar os filhos do direito de estudar, um grupo 
de pais se organizou, reuniu material dos escombros, conseguiu um 
terreno e construiu uma escola. Um jovem que passava de bicicleta gostou
 do que viu e resolveu ficar. Loris Malaguzzi criaria ali, em 1946, 
naquele ambiente marcado pela destruição, uma forma de trabalhar o 
ensino infantil que viria influenciar escolas do mundo inteiro, 
inclusive no Brasil, que estimula crianças a usarem todas as suas 
maneiras de expressão, leva a produção dos pequenos para fora da escola e
 traz a comunidade para dentro.
“A criança tem milhões de linguagens. Quando ela chega na escola, 
normalmente são privilegiadas as dimensões escrita e oral. Mas as 
crianças podem se expressar de diversas outras formas”, diz Paola 
Capraro, diretora da escola bilíngue Eugenio Montale, que fica em São 
Paulo e usa a abordagem. E por apostar em todas as linguagens com as 
quais as crianças se comunicam, preceito muito defendido pelo fundador 
Malaguzzi, o sistema reggiano vê a criança como um ser forte, pensante, 
com visão própria de mundo.
Ao contrário do que ocorre no ensino tradicional, as crianças não se 
juntam por idade, mas por interesses. Um grupo pode ter, por exemplo, 
alunos de três a seis anos que se unem para trabalhar juntos em um 
projeto, que pode ser, por exemplo, trabalhar juntos para entender como 
uma ponte funciona. Enquanto uma equipe vai pesquisar quais são as 
pontes mais importantes do mundo, outra decide que vai construir um 
protótipo de argila e outra trabalha com figuras geométricas. Ao fim, as
 equipes voltam a se reunir, contam o que descobriram e se aprofundam em
 assuntos que julgarem importantes. Os aprendizados vão incluir as 
disciplinas tradicionais, como matemática, história, geografia, e outras
 capacidades, como a de trabalhar em equipe, habilidades manuais e a 
persistência.
“O mundo não é separado por áreas como a escola. No projeto, todas as
 matérias são discutidas diante da realidade como ela é”, diz Paola. 
Nesse ponto, ter um grupo heterogêneo quanto à idade também ajuda. “Como
 acreditamos que todo mundo pode aprender com todo mundo, essa questão 
da idade cai por terra”, afirma. Dessa forma, diz a diretora, o 
aprendizado é uma via de mão dupla: a criança menor aprende com a maior 
porque tem menos experiência de vida; a maior, ao ajudar a menor, 
precisa refletir e reorganizar o conhecimento que tem; maiores e menores
 aprendem juntas a respeitar as diferentes opiniões e, assim, vão se 
acostumando com conceitos como tolerância, paciência, democracia e 
empatia.
Segundo a abordagem Reggiana, os grupos de crianças devem ser 
acompanhados por uma equipe multidisciplinar, capaz de trabalhar com as 
diferentes linguagens que a criança pode desenvolver. Até por isso, 
normalmente um profissional ligado às artes, chamado na Itália de 
atelierista, acompanha os trabalhos. Essa vocação é tão forte que, agora
 mesmo, quem visita Reggio Emilia encontra parte da ciclovia da cidade e
 a cortina do teatro municipal enfeitadas com desenhos feitos por 
crianças das escolas locais, o que reforça o vínculo com a comunidade, 
outra característica determinante da abordagem.
“Essa relação direta [entre escola e comunidade] se dá pelos eventos 
que são organizados na cidade em diálogo com a escola, pela criação de 
um centro de formação de educadores que também atende a comunidade e 
pela existência de um centro de materiais reciclados que abastece os 
ateliês das escolas”, diz Nana Giovedi, diretora de educação infantil do
 Colégio Oswald de Andrade, que visitou a cidade com uma a Rede Solare, 
um grupo da América Latina que estuda a abordagem Reggiana.
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