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segunda-feira, 28 de abril de 2014

FONOAUDIOLOGIA NO AUTISMO

https://sites.google.com/site/desvendandooautismo/fonoaudiologia-ou-terapia-da-fala

Os problemas de comunicação das crianças autistas podem ter uma grande variação e podem depender do desenvolvimento social e intelecutual do indivíduo. Alguns podem ser completamente incapazes de falar enquanto outros tem um vocabulário bem desenvolvido e podem falar sobre uma série de tópicos do seu interesse. Qualquer programa terapêutico deve começar acessando o ponto em que as habilidades linguísticas da criança se encontra.
Embora algumas crianças autistas tenham pouco ou nenhum problema com a pronúncia das palavras, a maioria tem efetivamente dificuldades em utilizar a linguagem. Até aquelas crianças que não tem problemas em articular as palavras, exibem dificuldades no uso da linguagem pragmática como saber o que dizer, como dizer e quando dizer tanto quanto interagir socialmente com as pessoas. Muitos que falam, dizem coisas sem contexto ou informação. Outros repetem o que ouviram (ecolalia) ou discursos que memorizaram em algum momento. Algumas crianças autistas falam cantando ou usando uma voz mecânica como se fossem robôs.
 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O glúten e o autismo: Entrevista com Dra. Geórgia Meneses Fonseca

Recentemente, um tema vem sendo amplamente comentado e debatido no meio científico: as possíveis relações entre o consumo de glúten e o autismo em crianças. Para entender melhor esta complexa questão, a Schär conversou com uma das maiores especialistas no Brasil sobre o assunto. Mãe de uma menina autista, a doutora Geórgia Meneses Fonseca é pediatra com ampla experiência em desenvolvimento infantil, puericultura, homeopatia e saúde mental, além de pesquisadora em autismo da Federação Brasileira de Homeopatia, da qual é membro diretora. Confira a seguir a entrevista que ela gentilmente nos cedeu, por e-mail.

SCHÄR: Já existe comprovação científica sobre as relações entre doença celíaca e autismo? O que é possível afirmar a este respeito?

Dr. GEORGIA FONSECA: Há vários anos, nós que trabalhamos no dia a dia com os pacientes com autismo, e principalmente os pais e cuidadores destas crianças, temos observado que os sintomas gastrointestinais são uma característica comum em todas elas. Esta sintomatologia frequente chamou a atenção de vários pesquisadores para uma possível associação com a doença celíaca ou sensibilidade ao glúten nestas crianças. Os estudos sobre a resposta imune ao glúten no autismo e sua associação com doença celíaca apresentavam-se inconsistentes, no entanto alguns trabalhos recentes vêm respondendo a estes questionamentos. Novos estudos demonstraram que as crianças com autismo têm níveis significativamente mais elevados de anticorpos IgG para gliadina em comparação com os indivíduos saudáveis.(1) A resposta de anticorpos IgG anti-gliadina também se mostrou significativamente maior nas crianças autistas com sintomas gastrointestinais em comparação com aquelas que não apresentavam nenhum sintoma deste tipo. Isto comprovou que as crianças autistas podem sim apresentar aumento da reatividade imunológica de glúten. O mecanismo parece ser distinto da doença celíaca. O aumento da resposta de anticorpos anti-gliadina e sua associação com sintomas gastrointestinais aponta para um potencial mecanismo que envolve alterações de permeabilidade intestinal e/ ou imunológica em crianças afetadas.

Uma patologia que permaneceu desconsiderada por muito tempo, apesar de ter sido descrita originalmente em 1980, é a Sensibilidade Não Celíaca ao Glúten (SNCG) e que agora vem recebendo atenção devido aos estudos epidemiológicos recentes que associam a presença da SNCG em indivíduos com Síndrome do Intestino Irritável, Doenças Inflamatórias Intestinais e Distúrbios Neuropsiquiátricos, entre eles o Autismo e a Esquizofrenia. A Sensibilidade Não Celíaca ao Glúten, ou SNCG se caracteriza basicamente pela presença de sintomatologia intestinal e extra-intestinal relacionados à ingestão de alimentos contendo glúten, em indivíduos que não são afetados pela Doença celíaca ou pela Alergia ao Trigo.(2) E realmente temos visto em vários pacientes autistas a falta de marcadores para a DC presentes mas a resposta clara à retirada da proteína com alívio dos sintomas gastrointestinais e melhoria do quadro autístico.

Outro ponto recente e interessante para estudo, não só em relação a DC como para o Autismo, é a inter-relação cada vez mais evidente entre saúde x doença x microbioma isto é, a relação entre a população bacteriana que carregamos como “amigas” e que tomam importante papel no nosso metabolismo. Vários estudos demonstraram uma alteração na microbiota e doenças intestinais inflamatórias por exemplo. Nos casos de autismo, esta alteração, comumente chamada de disbiose, e seu papel no desenvolvimento dos sintomas intestinais e digestivos sempre foi amplamente debatida. De maneira fascinante agora em 2014 foram apresentadas pesquisas que demonstram que algumas bactérias têm potencial capacidade de ajuda na metabolização e quebra dos peptídeos do glúten em celíacos, e que sua ação começa já desde a cavidade oral (3,4,5). Alterações em alguns dos mesmos gêneros de bactérias, como Firmicutes, também foram observadas em crianças com autismo.(6)

SCHÄR: Por que uma criança autista tem mais problemas de refluxo, constipação e diarréia, por exemplo?

GF: A gênese destes sintomas parece resultar de um círculo vicioso resultante de agressão à mucosa gastrointestinal causando a permeabilidade intestinal aumentada, que será a provocadora da ativação imune gerando inflamação crônica local. E quais seriam os agentes apontados como agressores? Várias frentes de estudo apontam para o uso frequente ou precoce de antibióticos; uma dieta rica em carboidratos e açúcares ou alimentos infantis processados; o desmame precoce; a presença de alterações das respostas imunes primárias pelas vacinações; o uso excessivo de alimentos alergênicos como leite de vaca ou ovos; a exposição a toxinas, metais, vírus, parasitas; a diminuição da atividade de dissacaridases e outras enzimas que são capazes de digerir alimentos como os açucares e proteínas; a diminuição de imunoglobulinas protetoras do trato gastrointestinal como a IGA secretória e o crescimento de bactérias super-resistentes e fungos que são os causadores da disbiose. Todos estes agentes atuando como gatilhos sobre a predisposição genética subjacente.

SCHÄR: É verdade que a doença celíaca é mais frequente em autistas? Por que isso ocorre?

GF: Não há uma relação direta até agora comprovada nesta relação. Como foi recentemente demonstrado num trabalho realizado na Suécia no ano passado, relacionando 26995 pacientes biopsiados para Doença Celíaca e o diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo.(7) Mas a presença de anticorpos positivos contra o glúten é encontrada com mais frequência nestes pacientes (2, 7)

SCHÄR: Há pesquisadores que defendem a tese de que a má absorção dos nutrientes decorrente da doença celíaca acarreta em uma deficiência de neurotransmissores, fazendo com que estas pessoas apresentem comportamentos de autistas. Essa informação procede?

GF: Não exatamente. A DC tem sido associada a desordens neurológicas e psiquiátricas, notadamente com a ataxia cerebelar, neuropatia periférica, epilepsia, cefaléias, demência e depressão. Recentemente, a produção de alguns outros anticorpos têm sido relacionada com a sensibilidade ao glúten e às complicações neurológicas decorrentes, incluindo anticorpos anti-gangliosideos e os anti-GAD (Acido glutâmico descarboxilase). A enzima ácido glutâmico descarboxilase é relacionada à produção de ácido gama aminobutírico (GABA), que é um importante neurotransmissor regulatório no sistema nervoso central. Pelo menos 60% dos pacientes com anticorpos anti-gliadina presentes apresentam também anticorpos anti-GAD.(8)

A sensibilidade ao glúten também tem sido relacionada à diminuição da produção de serotonina. Um trabalho demonstrou que adolescentes celíacos que apresentavam depressão e outras alterações de comportamento tinham baixos níveis de triptofano livre, o qual é essencial para a produção da serotonina.(9)

Relatos sobre a relação entre Esquizofrenia e Doença Celíaca já contam 40 anos. A principal teoria entre a relação da absorção dos peptídeos do glúten, denominados gliadomorfinas, e comportamentos autistas tiveram seu início com estudos de comportamento animal desde a década de 60. A proteína do trigo mal digerida gera um pequeno fragmento proteico denominado peptídeo, que possui a capacidade de ligar-se aos receptores opióides cerebrais e manifestar sintomas semelhantes ao da intoxicação pelo ópio e seus derivados.

SCHÄR: Fala-se muito na eliminação de glúten e caseína (proteína do leite) da dieta de crianças autistas. Isso é realmente uma medida eficaz? Por que motivos? Uma criança pode reverter o autismo apenas por meio de uma dieta sem glúten e lactose, por exemplo? (Casos como este são muito raros?)

GF: A restrição de glúten e caseína da dieta de pacientes com Transtorno do Espectro do Autismo tem obtido grande aderência e aprovação de pais e cuidadores que observam a melhoria dos sintomas autísticos destes pacientes. Os estudos clínicos realizados com a dieta livre de glúten e de caseína nestas crianças demonstraram uma melhora no nível cognitivo não verbal, melhora na linguagem, diminuição dos problemas motores, diminuição do alheamento, aumento das habilidades de comunicação e de contato social e diminuição do comportamento estereotipado e agressivo.( 10, 11, 12, 13). Um dos melhores trabalhos sobre isto foi um estudo randomizado durante 24 meses de aplicação da dieta feito em 2010 por pesquisadores britânicos e escandinavos em 74 crianças com autismo de 4 a 10 anos avaliadas por diversas escalas de avaliação para comportamento social e desempenho cognitivo, que revelou melhora significativa nos escores obtidos no grupo em dieta livre de glúten e de caseína.(14)

SCHÄR: Cortando o glúten da alimentação de uma criança, é preciso recorrer a outras proteínas substitutivas? Quais?

GF: Toda restrição dietética em crianças deve ser acompanhada e orientada por profissional especializado. A retirada do glúten em si não trará muitos problemas, pois as outras fontes proteicas são todas liberadas. A retirada da caseína implica em atenção para os níveis de cálcio e manutenção do status proteico para garantirmos o crescimento e desenvolvimento adequados.

Referências:

(1) Markers of Celiac Disease and Gluten Sensitivity in Children with Autism. – Lau NM, Green PH, Taylor AK, Hellberg D, Ajamian M, Tan CZ, Kosofsky BE, Higgins JJ, Rajadhyaksha AM, Alaedini A.
(2) Non-Celiac Gluten sensitivity: the new frontier of gluten related disorders.
Catassi C, Bai JC, Bonaz B, Bouma G, Calabrò A, Carroccio A, Castillejo G, Ciacci C, Cristofori F, Dolinsek J, Francavilla R, Elli L, Green P, Holtmeier W, Koehler P, Koletzko S, Meinhold C, Sanders D, Schumann M, Schuppan D, Ullrich R, Vécsei A, Volta U, Zevallos V, Sapone A, Fasano A.
(3) Diversity of the cultivable human gut microbiome involved in gluten metabolism: Isolation of microorganisms with potential interest for coeliac disease.
Caminero A, Herrán AR, Nistal E, Pérez-Andrés J, Vaquero L, Vivas S, de Morales JM, Albillos SM, Casqueiro J.
(4) The cultivable human oral gluten-degrading microbiome and its potential implications in coeliac disease and gluten sensitivity.
Fernandez-Feo M, Wei G, Blumenkranz G, Dewhirst FE, Schuppan D, Oppenheim FG, Helmerhorst EJ.
(5) Discovery of a novel and rich source of gluten-degrading microbial enzymes in the oral cavity.
Helmerhorst EJ, Zamakhchari M, Schuppan D, Oppenheim FG.
(6) Fecal microbiota and metabolome of children with autism and pervasive developmental disorder not otherwise specified.
De Angelis M, Piccolo M, Vannini L, Siragusa S, De Giacomo A, Serrazzanetti DI, Cristofori F, Guerzoni ME, Gobbetti M, Francavilla R.
(7) Markers of Celiac Disease and Gluten Sensitivity in Children with Autism.
Lau NM, Green PH, Taylor AK, Hellberg D, Ajamian M, Tan CZ, Kosofsky BE, Higgins JJ, Rajadhyaksha AM, Alaedini A.
(8) Volta U, De Giorgio R, Granito A, Stanghellini V, Barbara G, Avoni P, et al. Anti-ganglioside antibodies in coeliac disease with neurological disorders. Digestive and Liver Diseases. 2006; 38:183–187.
(9) Pynnonen PA, Isometsa ET, Veradale MA, Chaconne SA, Sipila I, Savilahti E, et al. Gluten-free diet may alleviate depressive and behavioural symptoms in adolescents with coeliac disease: A prospective follow-up case-series study. BMC Psychiatry. 2005; 5:14. [PubMed: 15774013]
(10) Knivsberg AM, Reichelt KL, Hoien T, Nodland M Nutr Neurosci 2002 Sep;5(4):251-61. (90/95/2001)
(11) Lucarelli, S., Frediani, T., Zingoni, A.M., Ferruzzi, F.,Giardini, O., Quintieri, F., Barbato, M., D’Eufemia, P., Cardi,E. Panminerva Med., 1995 Sep; 37(3): 137-41.
(12) Reichelt, w. H.. knivsberg, A. M., Nodland, M., stensrud, M., Reichelt, K. L. Developmental Brain Dysfunction .1997 (10),44-55.
(13) Whiteley, P., Rodgers, J., Savery, D., Shattock, P. The Autism Research Unit (ed) 1997. Living and Learning with Autism. Sunderland University Press pp 189-197.
(14) The ScanBrit randomised, controlled, single-blind study of a gluten- and casein-free dietary intervention for children with autism spectrum disorders.
Whiteley P, Haracopos D, Knivsberg AM, Reichelt KL, Parlar S, Jacobsen J, Seim A, Pedersen L, Schondel M, Shattock P.


terça-feira, 22 de abril de 2014

Comportamento Disruptivo no autismo — terceira parte

Comportamento Disruptivo no autismo — segunda parte

Comportamento Disruptivo no autismo — primeira parte

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Imposto de Renda: Portador de autismo não é isento, mas pode ser declarado como dependente dos pais em qualquer idade

Portador de autismo não é isento, mas pode ser declarado como dependente dos pais em qualquer idade. Assista
Portadores de determinadas doenças têm direito à isenção do Imposto de Renda, mesmo que tenham recebido rendimentos como aposentadoria, pensão por invalidez ou pensão alimentícia – não importando o valor recebido.
O consultor da IOB Folhamatic EBS, empresa do grupo Sage, Daniel Oliveira, esclarece no vídeo abaixo à dúvida de um internauta.

Mas certas condições, como a deficiência física e auditiva, ainda não estão contempladas nesta lista, embora já existam projetos de lei no Congresso Nacional que pretendem incluí-las no grupo de isenção.
No caso de um adulto portador de autismo, Oliveira explica que a mãe ou pai podem declará-lo como dependente, não importando sua idade. "Ela poderá aproveitar despesas médicas que tem com ele [para abater o Imposto de Renda]".
Segundo a Receita Federal, se o portador da doença exerce uma atividade profissional  – seja autônomo ou empregado – e ainda não tenha se aposentado, não tem direito à isenção do imposto
Se o laudo for emitido por um médico da fonte pagadora – como o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) –, o imposto deixa de ser retido na fonte automaticamente, de acordo com a Receita.Caso o contribuinte seja isento pelas regras do Fisco, é preciso procurar um serviço médico oficial da União, dos Estados ou Municípios para fazer um laudo pericial que comprove a moléstia.
Apesar de nem todos os portadores de deficiência física e mental (incluindo autismo) terem direito a isenção do IR, ele já são isentos, por lei, de pagar IPI (Imposto sobre Veículos Industrializados) e IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na aquisição de veículos.

‘Vivi os piores momentos da minha vida’, diz jovem sobre trotes

Luiz Fernando desistiu do curso na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Ele sofreu um trote brutal, passa por tratamento psicológico e ainda não conseguiu retomar os estudos.
Um jovem sofre um trote brutal na faculdade. A violência é tanta que ele foge dali, desiste do curso e volta para a cidade natal. Agora, ele recebe um comunicado da faculdade: precisa voltar urgentemente para ocupar a vaga. Mas o trauma é tão grande que ele não consegue retomar os estudos.
Hoje, protegido e longe do terror que viveu no primeiro dia do curso de medicina, Luiz Fernando mostra o rosto pela primeira vez. Vítima de trote violento, ele ficou um mês escondido com medo de ameaças e agressões.
“Chutes, garrafadas, chutes de pontapé. Muitas vezes alguém dava tapa quando eu estava andando”, conta Luiz Fernando.
Aos 22 anos, Luiz Fernando passou em um vestibular muito disputado. Órfão de pai, vive com a mãe e um irmão em uma cidade da periferia de Belo Horizonte. Ele tinha um sonho: “Queria fazer medicina porque eu tenho um irmão deficiente, queira ajudar ele a ter melhor condições de vida”, revela.
Entrou na respeitada Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. “Vivi os piores momentos da minha vida. Com o tempo fui percebendo que o sonho virou terror na minha vida. Tudo foi só sofrimento”, conta Luiz Fernando.
Luiz Fernando tem autismo, um transtorno que dificulta o convívio social. No caso dele, a doença tem um grau leve. “Então, ele é um autismo de alto funcionamento. É um rapaz muito inteligente, mas tem prejuízos na linguagem”, explica a pedagoga Ozana Leal.
O estudante foi morar sozinho em São José do Rio Preto. A vida dele parecia tranquila até o dia 18 de março: o dia da festa dos calouros.
A festa aconteceu em um clube, o Centro do Professorado Paulista, conhecido como CPP, que fica a 500 metros da faculdade de Medicina. Durou três dias, tinha música, muita bebida e momentos de agressão e humilhação dos calouros, que mesmo assim, tiveram que pagar, cada um, R$ 750 para participar da festa.
Luiz Fernando foi o único calouro que teve coragem de contar o que sofreu dentro do clube. “Eles entraram antes de a festa começar na sala e avisaram: ‘aqui a gente segue uma hierarquia e a gente apanhou há seis anos atrás. O povo do sexto ano da faculdade. Hoje é o dia de vocês apanharem, porque você são bichos da faculdade e vocês vão apanhar hoje para bater amanhã’”, lembra.
Lá dentro, o que deveria ser comemoração logo saiu do controle. “E quanto mais eles iam ficando embriagados, os veteranos, mais as coisas ficavam pesadas para o lado da gente. De ficar de joelho, levando a cerveja, a gente seria agredido, muitas vezes chutavam a gente. Eu fiquei com roxo na perna, fiquei com um machucado no lábio. Algumas vezes eles estavam tacando cerveja na gente, pegavam a garrafa de cerveja e batia na gente. E chegou uma situação em que eles pegaram a gente, colocaram, nus, cima de um palco. Eu já estava completamente passando mal, não estava aguentando. Fiquei pelado em cima do palco, com todo mundo olhando, junto com outros calouros também, homens. Enquanto isso eles tacavam copos de cerveja gelada no corpo da gente, com a gente morrendo de frio, tremendo muito. Depois que a gente desceu, eu comecei a reclamar que estava com frio, sentindo muito frio. Estava tremendo, passando muito mal. Levaram para um canto, tacaram de joelho no cimento e começaram a urinar, umas oito pessoas em volta de mim começaram a urinar em cima da minha cabeça”, conta Luiz Fernando.
Luiz Fernando conseguiu fugir da chácara da festa. Foi ajudado por um professor da faculdade. “A gente deduz que ele estivesse vindo do local de alguma festa de calouros que tinha ocorrido em um ambiente fora da instituição”, afirma o professor Kazuo Nagamine.
Durante os dias do trote, a turma de Luiz Fernando trocou mensagens de celular.
- Jogar refri de limão em cima de bolha de queimadura.
- Gente, eu não vou. Passei muito mal ontem. Não sei se aguentaria tudo de novo hoje.
E mostram o receio sobre os próximos dias.
- Hoje a gente morre de hipotermia.
- Vai ficar muito ruim 15 pessoas tomarem trote que era para 80.
- Eles, o sexto ano, matam a gente. Não sei o que eles podem fazer, mas é melhor não testá-los.
Luiz Fernando decidiu não ir ao segundo dia de trotes. E recebeu ameaças dos veteranos.
“’A gente sabe onde você mora. A gente tem o seu telefone. Ou você cancela a sua matrícula aqui ou a gente vai atrás de você e te mata agora’. Ameaçaram de morte. Foi uma ligação feita de um telefone público’”, conta.
Com medo, ele procurou a polícia para registrar as agressões e decidiu voltar para a casa da mãe, em Minas. “Já tinha achado que a minha vida tinha acabado. Eu estava em um apartamento, se eu não fosse embora naquele dia de madrugada do apartamento, eu ia me matar. Era o que eu estava pensando na hora”, conta.
O Ministério Público de Rio Preto quer acabar com a Lei do Silêncio que envolve os trotes violentos na faculdade de Medicina na cidade. Como a polícia não fez nada em relação às denúncias do estudante Luiz Fernando, um promotor entrou na história e quer agora que o caso seja investigado imediatamente.
“A expectativa é que as outras vítimas compareçam à delegacia e digam o que foi que houve, afirma o promotor José Heitor dos Santos.
“Instalamos uma comissão apuratória, comissão de sindicância para apurar os fatos. Nós sabemos que existem festas. Essa festa se deu fora dos muros da faculdade”, declara Dulcimar Donizete de Souza, diretor da faculdade.
“A faculdade, de uma forma ou de outra, é conivente com esse tipo, nem é trote isso, isso é tortura”, afirma Eupídio Donizete, advogado de Luiz Fernando.
Luiz Fernando quer ser transferido para outra faculdade. “Não tenho condição física nem psicológica de voltar para lá. Eu estou em tratamento, fazendo tratamento psicológico, estou tomando medicamento. Só consigo estudar, só consigo tocar a minha vida porque eu estou sendo medicado e com ajuda. E a faculdade me deu um prazo de 30 dias para voltar para lá”, diz.
Trotes violentos são frequentes no Brasil. Na internet, muitos vídeos mostram abusos cometidos contra os calouros. No da turma de 2013 do curso de direito da UERJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o conteúdo de uma garrafa que parece ser de vinagre é derramado no rosto dos novatos, que se protegem.
Na época, a comissão que organiza o trote publicou uma nota na internet: "tentamos evitar ao máximo que qualquer coisa acontecesse, tanto que liberávamos os calouros que não queriam mais beber ou que não queriam mais estar ali."
Em 2010, alunos da Fundação Educacional de Barretos, no interior de São Paulo, sofreram queimaduras ao serem pintados com tinta e creolina, um desinfetante corrosivo.
Em 2009, na Universidade Anhanguera Educacional da cidade de Leme, também em São Paulo, mais um exemplo de abuso. “Os calouros tiveram que passar por uma mistura de esterco e fezes de vários animais. E várias outras coisas”, diz uma testemunha.
A faculdade expulsou dois alunos e suspendeu sete.
O caso mais marcante dos absurdos cometidos nessas festas aconteceu em 1999, na Universidade de São Paulo. O calouro de medicina Edison Hsueh morreu afogado na piscina da Associação Atlética da Faculdade de Medicina da USP. O corpo foi encontrado no dia seguinte. Sete anos depois, o caso foi arquivado pelo Superior Tribunal de Justiça por falta de provas.
Além de expulsos da faculdade, veteranos que promovem trotes violentos podem ser presos e responder a crimes como injúria, que significa ofensa à dignidade da vítima, com pena mínima de um mês de cadeia; constrangimento ilegal, pena mínima três meses chegando a dois anos; e lesão corporal, também três meses de prisão, pelo menos.
Desde 1999, trotes violentos são proibidos por lei nas universidades públicas de São Paulo.
“Não vão ser esses monstros que vão destruir a minha vida, não. Lutei quatro anos para passar em uma faculdade. Não vai ser por causa de gente assim que vai acabar com o meu sonho, não. Eu estou disposto agora a lutar até o fim por justiça. Eu quero justiça”, afirma Luiz Fernando.

Menino com autismo vira contador de histórias em escola de Itanhaém, SP

Diego Escada foi diagnosticado com o transtorno aos três anos de idade.

Na escola, ele acompanha a turma, faz desenhos e conta histórias.


Mariane Rossi
Do G1 Santos

Diego mostra os desenhos que utiliza para contar histórias para a classe  (Foto: Mariane Rossi/G1)Diego mostra os desenhos que utiliza para contar histórias para a classe (Foto: Mariane Rossi/G1)
Um menino autista de 10 anos virou o contador de histórias de sua classe em uma escola municipal de Itanhaém, no litoral de São Paulo. Diego Escada Louzada apresentou, desde pequeno, as características do transtorno, mas a convivência com outras pessoas na escola lhe trouxe mais conhecimento do mundo e de si. O jeito inibido, característico do autismo, é pouco perceptível em Diego enquanto ele brinca de contar histórias para a turma e é aplaudido pelas outras crianças. O que poderia ser considerado um desafio para qualquer autista, é um prazer para ele.
Tatiana, mãe de Diego, durante uma visita a escola do menino (Foto: Mariane Rossi/G1)
Tatiana, mãe de Diego, durante uma visita a
escola do menino (Foto: Mariane Rossi/G1)
Laudo médico atestando que Diego tem autismo (Foto: Divulgação/Prefeitura de Itanhaém)
Laudo médico atestando que Diego tem autismo
(Foto: Divulgação/Prefeitura de Itanhaém)
Tatiana Escada descobriu que o filho tinha autismo quando o menino estava com três anos. Ela começou a notar algumas atitudes estranhas do filho. “Ele apontava as coisas, não falava o que queria, tinha resistência à dor. Com um barulho muito estridente, ele colocava as mãos nos ouvidos. A gente foi reunindo os fatos e fomos a um neurologista”, conta ela.
Segundo o Ministério da Saúde, o autismo é considerado uma síndrome neuropsiquiátrica. Embora seja uma etiologia específica que não tenha sido identificada, estudos sugerem a presença de alguns fatores genéticos e neurobiológicos que podem estar associados ao autismo. Diversos sinais e sintomas podem estar ou não presentes, mas as características de isolamento e imutabilidade de condutas estão sempre presentes. Tatiana diz que a notícia foi um baque para ela e a família. “Você se questiona muito. Até entrei em uma depressão. Depois, li muito sobre o assunto e comecei a entender e foi fluindo. Hoje eu trato ele como uma criança normal”, fala. Após o diagnóstico, Diego iniciou o tratamento com fonoaudióloga, pedagoga e neuropsicóloga.

Tatiana e o Diego saíram de Santos, onde moravam com o pai do garoto, e foram viver em Itanhaém. Mesmo com o transtorno, Diego foi matriculado na escola municipal Maria Graciette Dias, pelo sistema de inclusão. “O Diego é um autista. Todos os autistas têm direito a um estagiário. Eles são estudantes e ficam com essas crianças de inclusão. Na nossa escola, a gente tem uma média de 13 crianças especiais.”, explica a diretora Rita de Cássia Brandão Gouvêa.
A professora  Marlene Carraro Mucsi, de 50 anos, diz que Diego chegou na escola muito arredio e não gostava muito de ter contato com as pessoas.  Ela só acompanhava o menino de longe, mas, neste ano, começou a dar aulas para Diego. “Já tinha trabalhado com outras deficiências, mas com autismo foi a primeira vez”, diz. A professora foi aprendendo a lidar com o menino no dia a dia. “O grau do autismo dele é leve, não há necessidade de trabalhar atividades diferenciadas com ele, o que precisamos é respeitar o tempo. A gente conhece outros autistas que são agressivos, inquietos, não param sentados em sala de aula. Não é o caso dele”, explica a professora. Ela ressalta que Diego acompanha as lições na classe do 5º ano como qualquer outro aluno. Segundo Marlene, o menino lê muito bem, é alfabético, consegue fazer contas e resolver os problemas de matemática.
Professora Marlene, Diego e a estagiária Carol (Foto: Mariane Rossi/G1)
Professora Marlene, Diego e a estagiária Carol
(Foto: Mariane Rossi/G1)
A convivência com outras crianças e os cuidados das professoras fez o menino melhorar de comportamento e também a ganhar mais conhecimento. Na escola, ele também descobriu, principalmente, a aptidão para o desenho e animação. A mãe dele conta que o menino adora ficar no computador, vendo vídeos, fazendo desenhos e criando histórias, principalmente, com o Mickey, o personagem preferido de Diego.
Na sala de aula, ele coloca os desenhos na lousa digital e vira um contador de histórias, interpretando os personagens. “Eu faço a narradora e ele o Mickey. Na verdade, ele não lê a história, ele decora as falas. De vez em quando, é no início da aula, às vezes, é no final”, explica a professora. Do outro lado da sala, estão diversos outros alunos com a mesma idade de Diego. Eles riem com a interpretação do menino, entendem a história e, no final, batem palmas pela apresentação do colega de classe. “Para ele é bom. A questão de ele desenhar bem também motiva as outras crianças a quererem desenhar como ele. Já cria um convívio, uma proximidade”, diz a mãe do menino.
Diego e a professora contando histórias para a classe (Foto: Mariane Rossi/G1)Diego e a professora contando histórias para a classe (Foto: Mariane Rossi/G1)
Por causa da contação de histórias, Diego também passou a ter mais comunicação com as pessoas, mesmo que, assim como outros autistas, não goste de muito contato físico. Tatiane vê o quanto o filho melhorou no âmbito social. “Ele começou a evoluir de uma maneira tão rápida, até na questão de amizade, tem mais carinho, mais afeto das outras crianças, tem a estagiária que fica direto com ele. Eu me arrependi de não ter colocado antes nessa escola”, admite.

Já Diego mostra orgulhoso os desenhos do Mickey, expostos em um painel que foi colocado em um dos corredores da escola. Para a mãe, o futuro do filho sempre estará ligado ao mundo da animação. “Ele fala que quer trabalhar na parte de animação de estúdios. Eu acho que é o que ele vai acabar seguindo”, diz Tatiana.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Consciência autista

foto Alysson blog espiral autismo

Abril é o mês da conscientização sobre o autismo, condição especificamente humana que afeta a percepção social e comunicação dos pacientes. Infelizmente, os sintomas muitas vezes são confundidos com birra, desinteresse ou falta de educação pela população leiga.
Não vejo isso como preconceito contra o autista, mas falta de conhecimento. Um dos benefícios da conscientização é justamente a quebra do estigma. O mês começa com diversas novidades sobre o assunto, inclusive dados recentes sobre a frequência de autismo na população.

Dados divulgados pelos CDC (sigla em inglês para Centros de Prevenção e Controle de Doenças) na semana passada trazem novos números sobre a prevalência de pessoas afetadas nos EUA. Um dos pontos fortes do cálculo dos CDC é que os números são baseados em métodos estatísticos idênticos, usados por mais de uma década. Os números atualizados são frutos da coleta de dados anteriores, focando em crianças com 8 anos de idade, em 11 locais diferentes. Os dados revelam a prevalência de 1 em cada 68 crianças no ano de 2010 (com base em crianças que nasceram em 2002). Dados anteriores, com crianças nascidas em 2000, geravam uma frequência de 1 a cada 88 crianças. Existe uma variação considerável entre os 11 pontos estudados: de 1 para 45 no estado de Nova Jersey até 1 para 175 no Alabama. Semelhante às estimativas anteriores, a frequência de autismo em meninos continua 5 vezes maior do que em meninas.
A prevalência de autismo tem crescido de forma alarmante: aumentou em 125% desde 2002, 29% entre 2008 e 2010. Quanto desse crescimento significa mais diagnósticos ou mais indivíduos afetados realmente é difícil de saber. Por isso mesmo, é importante ampliar os estudos para que se tenha uma visão mais precisa do tamanho do problema, além de insights sobre possíveis causas desse crescimento acelerado. Vale lembrar que um estudo feito no ano passado na Coreia do Sul usando métodos estatísticos semelhantes, mas abrangendo um população maior (com crianças de 7 a 12 anos de idade) revelou uma prevalência de 1 a cada 38 crianças. Esse número se aproxima do observado em Nova Jersey (1 para 45), um estado onde a conscientização e o diagnóstico do autismo são considerados excelentes. Seria razoável imaginar então que essa seria a frequência real de crianças autistas? Ou será que existem fatores ambientais em determinadas regiões que favorecem o autismo?
Independente do motivo desse crescimento, é certo que iremos precisar de mais serviços para atender essa população que irá crescer e resultar em adultos autistas. Aliás, o custo de vida de um indivíduo autista foi estimado em 2006 por um grupo de Harvard em U$3,2 milhões de dólares (Ganz, APAM 2007).  Uma nova análise econômica foi feita recentemente levando-se em consideração custos educacionais e outros custos indiretos, que haviam ficado de fora na estimativa de Harvard. Os novos dados projetam um aumento de aproximadamente U$17 mil dólares por ano. Apenas 18% desse custo é relacionado com saúde. Metade é atribuída a custos educacionais. Assumindo 673 mil crianças com idades entre 3 a 7 anos diagnosticadas com autismo nos EUA, o gasto total do Estado americano com autismo é de cerca de U$11,5 bilhões por ano (Lavelle e colegas, Pediatrics 2014). Claro que os novos números do CDC irão inchar esse custo, um problema significativo para os americanos. Reconhecer o tamanho e abrangência do autismo é o primeiro passo. Investir em como solucioná-lo é o próximo.
Infelizmente, hoje em dia, com a crise nos EUA, meros US$ 100 milhões são destinados à pesquisa sobre o autismo pelo NIH - a maior agência de fomento para a ciência americana. Uma fração relativamente pequena se comparada com a verba alocada para pesquisa em câncer ou doenças neurodegenerativas. A boa notícia é que esse financiamento modesto tem dado retorno, principalmente vindo dos Centros de Excelência criados para o estudo do autismo em diversos estados americanos.
Estudo publicado na semana passada no famoso periódico cientifico “New England Journal of Medicine” (Stoner e colegas 2014) revelou alterações físicas na arquitetura cortical do cérebro de crianças autistas. O córtex frontal é uma das regiões responsáveis pelo comportamento social humano e comunicação. Diversos trabalhos anteriores já haviam correlacionado o córtex ao autismo. Essa região do cérebro é composta por seis camadas laminares, formadas durante a gestação, que ficam compactadas na caixa craniana. Células progenitoras neurais migram durante o desenvolvimento e se sobrepõem, uma a uma, conectando-se entre si e com diversas outras regiões do cérebro. O estudo, realizado pelo Centro de Excelência de Estudos do Autismo em San Diego, na Califórnia, em colaboração com o instituto filantrópico Allen, aponta defeitos nessa organização cortical em tecidos post-mortem de autistas. O córtex humano, quando esticado, tem a área equivalente a uma quadra de basquete. O fato de conseguirem detectar defeitos olhando para pedaços do tamanho de uma bolinha de gude é fenomenal.
As anomalias anatômicas são sutis e variáveis, mas presentes em 10 dos 11 cérebros analisados, todos doados para ciência pelas famílias de autistas. Apenas um dos controles apresentou defeitos semelhantes (1 em 11 analisados). Como essas camadas são formadas ainda no útero, abre-se a perspectiva de um diagnóstico pré-natal. Só não temos ainda métodos de imagem sensíveis o suficiente para detectar alterações desse porte. Além disso, os dados se somam a evidências de que o autismo começaria durante o pré-natal, mesmo os sintomas sendo detectados mais tardiamente. Obviamente, o estudo é apenas exploratório, pois o número de cérebros analisados é pequeno (um problema que pode ser melhorado com programas de conscientização cientifica e doação de órgãos para pesquisa). De qualquer forma, acho o estudo interessante, pois esses defeitos podem ter sido causados por mutações genéticas somáticas que se acumulam no cérebro durante o desenvolvimento. É o caso da atividade de retrotransposição, um fenômeno genético, mas que pode ser induzido pelo ambiente, alterando a atividade neuronal (Muotri e colegas, Nature 2010).
É verdade que o autismo ainda é um mistério. Não sabemos quando ele surge, quais as características cerebrais, ou mesmo se é uma ou são várias síndromes agrupadas por diagnósticos clínicos meramente comportamentais. Sabemos do forte componente genético do autismo. Mais de 30% dos afetados têm mutações genéticas espontâneas, a maioria não causa autismo necessariamente, mas aumenta as chances do indivíduo. Sabemos também que essa genética não é determinista. Diversos trabalhos científicos mostram que o autismo pode ser tratado ou mesmo reversível. A parte ambiental ainda é pouquíssimo estudada. Não sabemos como reagentes químicos presentes no nosso dia-a-dia interagem de forma epigenética em nosso genoma, por exemplo. Apesar de existirem tratamentos comportamentais que atuam nos sintomas do autismo, tratamentos médicos ainda são um tiro no escuro.
Acredito na individualidade do autista e numa futura medicina personalizada. Enquanto isso não se torna realidade, crianças e adultos autistas precisam de melhores serviços. A melhor forma de conseguir serviços mais eficientes é justamente através da ciência. Conforme entendemos o que acontece com o cérebro em desenvolvimento, que deixa uma criança sem comunicação, ou incapaz de interagir socialmente, estaremos melhor preparados com diagnósticos mais precoces e melhores intervenções. Conforme identificamos os diversos tipos de autismo, causados pela genética, pelo ambiente ou pelos dois, podemos esperar melhores ferramentas de prevenção e tratamento. Conforme entendemos a evolução do autismo no adulto, podemos oferecer melhor cuidado e independência.
O mês da consciência autista nos lembra o quanto é importante investir em pesquisa, principalmente em países como o Brasil, evitando o distanciamento tecnológico e moral de nossa ciência. A pressão popular por mais investimentos num tradicional governo tragicômico como o nosso é a melhor ferramenta para mudarmos essa situação.

* Legenda da foto: O pequeno Ivan Coimbra (7), autista, mostra seu charme e desenvoltura num balanço da Califórnia
* Crédito: Arquivo pessoal

quarta-feira, 9 de abril de 2014

8 formas de impor disciplina na sua casa

Para ajudá-los nesta difícil missão, listamos algumas maneiras que podem ser testadas por vocês

meninas_pulando_cama (Foto: Thinkstock)
Há crianças mais geniosas, outras mais tranquilas. Existem pais mais firmes, outros coração mole. Por isso, a maneira de estabelecer limites que funciona para um, pode não funcionar para o outro. Cabe aos pais descobrir como seu filho reage melhor! Confira abaixo alguma dicas:
Rotina
É o momento de mostrar quais são as regras da casa, desde bebê. Saber que, todos os dias, ele vai tomar banho e dormir no mesmo horário, por exemplo, já é um primeiro contato com limites. Só não precisa ficar neurótico e deixar de ir ao aniversário de um amigo no sábado para não atrasar o horário do banho. Permitir-se sair da rotina de vez em quando é saudável para que a criança aprenda a se adaptar em diferentes circunstâncias.
Firmeza
Ao conversar com a criança, olhe nos olhos dela e seja firme, mas sem alterar o tom de voz, pois ela responde mais ao modo como falamos do que às palavras propriamente ditas.
Combinado
É válido em qualquer situação! O recurso é o preferido do professor universitário Luis Mauro Martino, pai de Lucas, 2 anos. “Outro dia ele estava indo para escola e queria comer sanduíche no caminho. Então, eu disse: ‘Vamos primeiro para a escola e na volta a gente come um sanduíche, combinado?’. Ele imediatamente ficou feliz e falou: ‘Combinado’. É assim que vem aprendendo que não pode ter tudo o que quer”, conta.
Exemplo
Quando se fala em limites, o exemplo é fundamental. Se o seu filho está gritando, pare e preste atenção: alguém no círculo social dele deve fazer o mesmo.Quando você respeita o próximo e as regras sociais, ele também o fará com mais facilidade. Por isso, nada de furar a fila, parar na faixa de pedestres ou xingar no trânsito!
Mesmo discurso
Os limites que você dá para seu filho podem ser diferentes dos que seus  irmãos dão para os deles. Afinal, isso depende da cultura, da crença e do jeito de cada um encarar a vida. Por isso, cabe deixar claro, principalmente para tios e avós, quais são as suas regras e pedir para que elas sejam respeitadas.Quando seu filho questionar essas diferenças, explique suas escolhas.
Castigo
Deve estar de acordo como erro e a personalidade da criança, além da idade. Para algumas, fazmais efeito deixar no quarto por algum tempo, para outras, é tirar o brinquedo preferido. Mas um aspecto não há o que discutir: violência só reprime, não educa. A analista de sistemas Michele Rodrigues, mãe de Pedro, de 3 anos, aprendeu isso na prática. Ela era adepta da palmada e achava exagero quando falavam que era uma agressão. Porém, começou a  reparar que Pedro estava ficando violento. “Eu não queria aquilo. Passei a ler sobre o assunto, a controlar minha própria raiva e compreender os motivos dos ataques de birra dele”, diz. Agora, ela se afasta, se acalmae então conversa com ele de maneira tranquila – e já vem notando
melhoras no filho.

Reforço positivo
Elogiar sempre funciona (e é muito mais gostoso do que receber uma crítica, não é?). Não aponte só os erros, lembre-se de valorizar os acertos. Se o seu filho não guardou os brinquedos hoje como você pediu, repreenda-o. Mas se amanhã guardar tudo, faça festa! Você verá a alegria nos olhos dele ao ver que foi reconhecido.
Não é não, e ponto
Quando o que está em jogo é a integridade física da criança, como pôr o dedo na tomada ou mexer no fogão, não há o que discutir, certo? É aí que entramos incansáveis “nãos” – não é à toa que, muitas vezes, a primeira palavra que a criança aprende a falar é essa. Vale insistir e desviar a atenção dela para um brinquedo que goste, por exemplo. Esse “não” deve continuar conforme a criança cresce. É o caso de não correr para a rua sozinho, não aceitar presentes de estranhos e não se expor demais na rede social. São situações em que você até vai explicar os motivos, mas não é não, sem grandes discussões.