O momento do diagnóstico é, sem dúvidas, o momento que muitos de nós ou, praticamente, todos não gostaríamos de ter vivido.
É ponto pacífico e não cabe discussão. Mas e depois disso?
Assumir ou não o Autismo de nossos filhos?
Se optarmos pela primeira opção, como fazê-lo? E quando fazê-lo?
Trago este assunto à tona pois esta semana fui procurada por uma mãe
aflita que me pedia orientações sobre como agir após esta descoberta.
Seu filho tem apenas 2 anos e foi diagnosticado recentemente. Ela me
perguntava se deveria contar somente aos familiares e amigos mais
próximos ou se o diagnóstico deveria permanecer em segredo.
Em primeiro lugar é de suma importância ressaltar que NÃO existe uma
receita ou fórmula que garanta uma estratégia eficaz para todas as
famílias. Cada indivíduo autista é único, bem como sua família. Assim
sendo, não há uma solução padronizada para lidar com a situação.
O que funcionou com minha família pode não funcionar com a sua. Outro
aspecto que deve ser levado em consideração é o estado emocional desta
mãe, deste pai, deste casal.
Como está a cabecinha desta mãe? O diagnóstico foi uma surpresa, caiu
como uma bomba? Ou já havia alguma desconfiança a respeito do assunto e
seu coração já estava de certa forma “preparado”?
De qualquer forma, em ambos os casos é sempre MUITO doloroso e NUNCA é uma situação fácil pela qual podemos passar incólumes.
Sugiro que, primeiramente, a abordagem seja feita com seus familiares
e, posteriormente, com os amigos mais próximos. E este passo deve ser
tomado somente quando você for capaz de fazê-lo sem piedade de si mesma e
de seu filho, utilizando uma abordagem pró-ativa, ou seja, ressaltando
SEMPRE que, embora AINDA não haja cura para o Autismo, existe tratamento
e você acredita na EVOLUÇÃO de seu menino ou menina.
Em minha experiência pessoal, foi deste jeito que resolvi agir. Umas
semanas após o diagnóstico, aproveitei-me do fato de estar mudando de
casa e, sob o pretexto de passar meus novos contatos, mencionei a
situação.
Entretanto, levei um tempo MUITO maior para criar coragem e falar
sobre isso para as pessoas de “fora”, desconhecidas. A dor de ter que
justificar comportamentos para os quais não havia mais justificativas
plausíveis me impeliu a fazê-lo.
Eu não aguentava mais justificar suas crises de birra com um tímido:
“Ah, é que ele não dormiu bem esta noite…”. Ou ainda, tentar explicar a
ausência da fala dizendo: “É que ele tem um pequeno atraso na linguagem
…”
Decorridos quase 8 meses do diagnóstico, reuni forças e num esforço
sobre humano ( sim, foi difícil para mim dizer que meu filho tinha
Autismo para uma pessoa estranha ) mencionei o fato. Ao ser indagada
pela mãe de um amiguinho da escola se ele já estava cantando a
musiquinha nova que seria apresentada na festinha, respondi que ele
AINDA não cantava, ou sequer falava frases, pois ele tinha Autismo.
Lembro-me de sentir minha face ruborizar! Não conseguia parar de tremer! Minha boca estava seca e o coração aos pulos…
Apesar de tudo isso, segui em frente, tentando assumir o Autismo do
meu filho da forma mais calma possível e mostrando que eu acreditava no
potencial dele, pois estávamos trabalhando para sua evolução.
Graças a Deus, a mãe de seu amiguinho reagiu com naturalidade e se
tornou uma grande amiga , confidente mesmo. Sabedora da situação, passou
a incentivar entusiasticamente seu filho a brincar cada vez mais com o
meu João Pedro.
Senti-me vitoriosa! É óbvio que a reação positiva desta mãe
contribuiu enormemente para que eu me sentisse assim. A partir daí, as
coisas fluíram com mais tranquilidade.
Neste caminhar, fiz algumas descobertas:
As chances de seu interlocutor reagir com naturalidade ao saber que
seu filho ou filha tem autismo são proporcionais à sua abordagem do
assunto, ou seja, vai depender grandemente da forma como VOCÊ irá falar
sobre isso.
Se você iniciar sua fala se mostrando derrotada, ou com pena de si
mesma, é bem provável que seu interlocutor tenha um dos seguintes
pensamentos (ou até mesmo ambos!)
“Nossa , coitada desta mãe!” ou ainda , “Este tal de Autismo é o fim do mundo …”
Reafirmo que estas são MINHAS experiências pessoais e estão longe de ser receita de bolo.
Minha amiga …pense, reflita. Avalie como VOCÊ está se sentindo e se este é o momento adequado.
Coloque na balança emocional os prós e os contras que você terá ao
assumir. Quando tomei minha decisão, constatei que GANHEI muito mais do
que perdi. Em conversas com outras famílias, percebi que quase todas
também se sentiram melhor assumindo a condição diferenciada de sua
criança.
Ninguém gosta de viver mentindo. Principalmente quando se mente para si próprio.
E, sabiamente, diziam nossos avós: a mentira tem perna curta.
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